Luciano escreve desde os 10 anos numa aldeia em Cacoal (RO)
Luciano Soemakib Suruí é o primogênito entre nove irmãos. Tem apenas 21 anos de idade e mora numa aldeia, a cerca de 50 km do centro da cidade de Cacoal (RO). Precoce, desde os dez tem se dedicado a escrever contos e, aos quinze anos, fez-se poeta.
O jovem escritor já participou de antologias e coletâneas com outros autores, mas ainda não publicou nenhum livro para chamar de seu. Como tudo isso começou? Ele responde: “Sozinho, dediquei-me àescrita e à leitura, e isso me deu vontade e força para tornar-me escritor e poeta”.
Apreciador dos escritos de Carlos Drummond de Andrade, Cora Coralina e de Machado de Assis, entre outros, Luciano lê um pouco de tudo: poesias, crônicas e romances. Gosta também de charges. Mas o que mais o influencia são os autores indígenas já reconhecidos, a exemplo de Daniel Munduruku, Márcia Kambeba, Julie Dorrico e Eliane Potiguara.
Futuro: Quer cursar letras e Direito
Na escola que o governo do Estado mantém na aldeia, Luciano estudou até o ensino médio. Afora as línguas portuguesa e inglesa, ele fala e faz questão de manter vivo o dialeto Tupi Mondé, predominante em sua etnia.
Seu projeto, agora, é cursar as faculdades de letrase de direito; “mas atualmente estou isolado por conta da pandemia do coronavírus”, pondera. O maior sonho, contudo, é tornar-se escritor renomado e poder dividir com o mundo suas impressões e inspirações vividas na floresta.
Por ora, o escriba vai deixando suas tintasnos cadernos e na imaginação. Além de publicar livros, Luciano deseja estimular a prática literária entre os indígenas, promovendo concursos literários.
A aldeia em que nasceu e mora Luciano Suruí tem mais de 300 curumins. “Aqui é uma comunidade bem grande, veja que as crianças têm sonhos, querem lutar pelos seus direitos. A educação é o caminho. Elas também se interessam em ouvir histórias das ancestralidades”, afirma, sempre pronto para ajudar a ensinar e inspirar os pequenos.
O que escreve
O próprio rapaz explica: “Escrevo sobre a minha aldeia e o meu povo, nosso passado e nosso modo vida de hoje. Mas também faço muito contato e pesquisas com a sociedade não indígena”.
Veja um poema dele:
Eu sou
Eu sou um jovem poeta
Um menino cercado de sonhos
Feito de penas e cores
Adoro versar em todas as maneiras
Fazer amizade com os bichos e curumins
Não tenho caneta igual as dos poetas das cidades
Muito menos tinta aquarela
Para com ela brincar sobre madeiras
Mas tenho um coração grande
Mas tão grande que dentro dele
Cabem todas as coisas do meu povo
Eu penso dentro da mata
Dela vem minha inspiração
Eu faço canto
Com as flautas
Eu escrevo na terra
Com a ponta de uma flecha
E termino lançando arco
E viajo na canoa num rio sem fim.
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