“Uma nova geração chega para governar, com todos e para todos”, prometeu Duque, ao saber dos resultados. Ele será o presidente mais jovem dos 132 anos de história da República da Colômbia, e ao seu lado estará Marta Ramírez, a primeira mulher na vice-presidência do país.
Gustavo Petro, que obteve o apoio de 41,8% do eleitorado, também cantou vitória. Em um país historicamente governado por uma elite conservadora, o ex-guerrilheiro do M-19 obteve votação histórica para a esquerda. “Oito milhões de colombianos e colombianas livres e de pé. Aqui não há derrota. Por agora não seremos governo”, escreveu Petro em sua conta no Twitter. Ele prometeu fazer oposição a qualquer tentativa de Duque de fazer o país retroceder à guerra.
Acordo de paz
A campanha polarizada refletiu a divisão da sociedade colombiana em relação ao acordo de paz de 2016, entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) – a maior guerrilha do país. Sete mil rebeldes aceitaram depor as armas em troca de anistia e do direito de formar um partido político, com oito assentos garantidos no novo Parlamento. Petro defende a implementação das medidas acordadas: antes de ser prefeito da capital, Bogotá, ele foi guerrilheiro do M-19. O grupo depôs as armas em 1990 e formou um partido politico.
Já Duque prometeu “rever o acordo”, negociado pelo atual presidente Juan Manuel Santos, que ganhou um Prêmio Nobel da Paz por seus esforços para acabar com décadas de violência. O padrinho politico de Duque – o ex-presidente Álvaro Uribe – foi um dos maiores críticos do documento, por considerar que tinha sido demasiado generoso com os ex-guerrilheiros.
O líder das Farc, Rodrigo Londoño (conhecido como Timochenko, nos seus tempos de guerrilheiro), também reagiu pelo Twitter. Ele disse que as eleições presidenciais deste ano foram as “mais tranquilas das últimas décadas”, graças ao acordo de paz. “É momento de grandeza e de reconciliação”, disse. “Respeitamos a decisão das maiorias e felicitamos o novo presidente”.
Uribismo
Para muitos colombianos, a vitória de Duque representa o retorno ao uribismo. Durante oito anos na presidência (2002-2010), Álvaro Uribe combateu as Farc e o Exército de Libertação Nacional (ELN), a segunda maior guerrilha do país. Muitos colombianos consideram que essa política de linha dura enfraqueceu os guerrilheiros esquerdistas – motivo pelo qual acabaram aceitando negociar um acordo de paz. Mas o governo de Uribe também é associado a sérias violações de direitos humanos, cometidas pelas forças de segurança e grupos paramilitares.
Santos foi ministro de Defesa de Uribe, antes de assumir a presidência em 2010. Mas Uribe foi o mais duro crítico do acordo de paz que Santos negociou com as Farc. O atual presidente também está tentando negociar outro acordo com o ELN, antes de deixar o cargo. Mas, nos últimos dois anos, ele perdeu popularidade.
A maioria das vítimas da guerra entre as Farc e as forças de segurança colombianas é de civis – muitos deles camponeses, que foram obrigados a abandonar suas terras para fugir da violência ou cujos filhos foram recrutados à força pela guerrilha. Eles acham que o governo premiou os guerrilheiros para conseguir a paz, em vez de punir os responsáveis pelos crimes e indenizar os inocentes prejudicados.
Desafios
Duque assume a presidência com o desafio de reunificar a Colômbia e combater o narcotráfico, que está avançando sobre áreas antes controladas pela guerrilha. Mesmo depois do acordo de paz, a violência permanece: o ELN continua atuando e alguns dissidentes das Farc se somaram aos narcotraficantes.
O presidente eleito prometeu reduzir impostos e os gastos públicos, para atrair investimentos privados e estimular a produção. Ele quer que a economia colombiana volte a crescer 4,5% ao ano, depois de dois anos de crescimento médio de 1,9%. Duque tem apenas quatro anos de experiência politica, como senador, patrocinado por Uribe. Mas ele trabalhou uma década no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com sede em Washington, e sua eleição é bem vista pelo mercado.