Em algumas padarias de Caracas, para evitar o caos, foram distribuídas senhas para os cidadãos adquirirem dois tipos de pães, ao preço fixo de 26 centavos de dólar. Para a professora Catalina Díaz, de 45 anos, é preciso passar por uma “humilhação a mais” para levar um pão diário para a mesa.
“Estou cansada de fazer fila para encher meu estômago e dos meus filhos porque não consigo farinha, pão ou massa. As importadas, eu não posso comprar”, disse à ANSA. As amplas filas nas padarias acontecem três vezes por dia, e na maioria dos casos só acabam quando termina o pão.
“A necessidade nos força a estar aqui por duas, três, quatro horas, até que saia o pão, é a única coisa que ainda dá para comprar e comer”, contou o carpinteiro Emilio Belisario, de 58 anos. Nos últimos meses, o produto se somou à ampla lista de alimentos e artigos difíceis de encontrar na Venezuela devido à escassez de mercadorias.
Uma situação que o governo do presidente Nicolás Maduro atribui a um suposto “plano político para prejudicar a revolução bolivariana”. No entanto, o chefe da Federação Venezuelana de Industriais da Panificação e Afins (Fevipan), Tomás Ramos López, culpa a falta de importação de trigo para produzir farinha.
“Enquanto tivermos matéria-prima, vamos seguir produzindo, porque os primeiros a não querer filas são os padeiros. Queremos que as pessoas tenham acesso ao pão”, garantiu. Por sua vez, o diretor do Centro de Documentação e Análise para os Trabalhadores (Cenda), Oscar Meza, disse que a situação é tão grave que acentuou a escassez em quase todos os alimentos.
“O panorama neste momento é muito mais grave. Vamos enfrentar uma contração da economia equivalente à de um país em guerra”, acrescentou, referindo-se às previsões de uma queda de 20% no Produto Interno Bruto (PIB) da Venezuela em 2016.
Na última segunda-feira (16), começaram a circular no país as novas cédulas de 500, 5 mil e 20 mil bolívares, criadas para ajustar o sistema monetário à inflação, que pode ter chegado a 480% em 2016 – dados consolidados ainda não foram divulgados.
Também serão disponibilizadas notas de 1 mil, 2 mil e 10 mil bolívares, além de moedas de 10, 50 e 100, estas já em circulação desde dezembro. Até o fim do ano passado, a cédula mais alta era a de 100 bolívares.