Em meio à falta de entusiasmo dos eleitores, o único foco de calor foi provocado por tensões políticas isoladas, como as tentativas de agressão contra candidatos, resultado da divisão que atravessa o país.
“Se estamos saindo de um conflito armado depois de 54 anos, não podemos cair novamente em agressões, em violência, simplesmente porque temos diferenças de critério em torno de nossas posições políticas”, afirmou o presidente Juan Manuel Santos, vencedor do Nobel da Paz pelo acordo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), hoje convertidas em partido político, a Força Alternativa Revolucionária do Comum.
Nas últimas semanas, diversos candidatos, tanto à direita quanto à esquerda, foram alvos de agressões, incluindo o líder da Farc, Rodrigo Londoño, o “Timochenko”, que recentemente desistiu de concorrer nas eleições presidenciais de 27 de maio por “motivos de saúde”. Nem o ex-mandatário Alvaro Uribe, líder da direita, crítico da paz com a ex-guerrilha e candidato ao Senado, escapou de insultos e ataques durante visitas a algumas cidades. “Desapareceu o conflito, mas não sumiu a ameaça”, disse à ANSA Fernando Giraldo, analista político e acadêmico colombiano.
Segundo ele, a prolongada guerra civil e o interesse de setores políticos mantiveram o eleitorado sob a sensação de ameaça, apesar de a Farc ter abandonado as armas e de a outra guerrilha na ativa, o Exército de Libertação Nacional (ELN), ter suspendido suas ações durante as eleições. “Dos 1.102 municípios que temos na Colômbia, 96% têm risco moderado, baixo ou inexistente”, garantiu o ministro da Defesa Luis Carlos Villegas, cujos dados contrastam com a difundida sensação de terror.
As marcadas tensões políticas, inflamadas por mensagens agressivas nas redes sociais que evocam o medo e um futuro desastroso caso se vote por um ou por outro, avivaram a chama desse temor e encobriram os verdadeiros problemas da Colômbia. “O que deveríamos resolver não é a violência guerrilheira, mas sim nossos problemas estruturais: a corrupção que nos sufoca, as profundas desigualdades sociais e o tema do narcotráfico”, acrescentou Giraldo.
A Farc, antes fator de instabilidade, agora será integrante do Estado que combateu durante mais de meio século. Como parte do acordo de paz, o partido tem direito a 10 cadeiras no Parlamento, independentemente dos votos que receber nas eleições – as pesquisas lhe dão menos de 1% das intenções.
No entanto, a grande luta para ter maioria legislativa será entre os partidos de direita e centro, na prévia para as eleições presidenciais de maio, que devem ter como favoritos o esquerdista Gustavo Petro e o candidato do Centro Democrático, movimento liderado por Uribe – provavelmente Iván Duque Márquez. Santos, em seu segundo mandato, não pode concorrer à reeleição.
Nas eleições legislativas, serão definidos 107 senadores – o 108º será o segundo colocado na disputa presidencial – e 171 representantes – o 172º será o vice na segunda chapa mais votada para a Presidência. A Farc terá cinco cadeiras em cada uma das câmaras.