O jogo se passa num futuro distópico da Amazônia quando uma nação colonizadora se estabelece em cima de Manaus para explorar os recursos da região
Uma produtora amazonense independente de jogos, a Flameseed Studio, desenvolve o Snake Born, um jogo ambientado na Amazônia que busca despertar um elo de identificação com a região através de uma saga que envolve aventura e mistério. Conversamos com Felipe Lobo, o game designer e administrador que teve a iniciativa e nos conta mais sobre o enredo, fluxo de produção e as possibilidades de distribuição da obra.
O jogo se passa num futuro distópico da Amazônia quando uma nação colonizadora se estabelece em cima de Manaus para explorar os recursos da região, no meio do embate, uma jovem chamada Adana, a protagonista do game, se perde dos seus pais e é resgatada por um dos personagens do grupo de colonizadores, ela se torna membro dessa comunidade, perde sua memória ao longo do processo e é criada por essa civilização como soldado.
Durante uma missão que dá muito errado, longe da cidade, ela se perde do seu esquadrão e precisa voltar pra cidade a pé iniciando sua jornada que inclui conhecer outros personagens, colaborar com a comunidade nativa com seus conhecimentos para ampliar a resistência deles, além disso ela vai se reconectar com suas origens, descobrir que é filha de ribeirinho, amazônica e que não nasceu nessa civilização hiper tecnológica.
Adana se conecta a uma população que existe embaixo do Rio Amazonas, num rio dez vezes mais largo, que vai se aliar a ela na retomada da terra e da cidade que foi tomada pelos colonizadores que adotaram a protagonista. O jogo inclui o mistério e a aventura envolvidos na trajetória que a protagonista se envolve para conhecer sua origem e em seguida na batalha para preservar e interromper o ciclo de exploração e destruição que os colonizadores empreendem contra a Amazônia.
Origem do game
Felipe Lobo é o game designer e idealizador do roteiro original. Com uma equipe inicialmente de 15 profissionais, começou a desenvolver a narrativa do jogo. Ao longo de dois anos todos trabalhando em regime voluntário, ainda permanecem oito profissionais na equipe.
“Uma coisa característica de quem trabalha nessa indústria é o amor pelo que a gente faz mas a gente não romantiza nada porque é muito difícil, complexo, um ajudando ao outro, a pessoa chega do trabalho a noite e faz o que dá ali e continua no dia seguinte mas todo mundo mantém uma comunicação muito boa”, explica.
Lobo conta que o nome Snake Born surgiu em alusão a expressão cobra criada. “A gente costuma falar aqui na região que alguém experiente, vivido, é cobra criada. Até porque a narrativa do jogo fala muito sobre essa questão da experiência de vida, de reconexão com as origens, a gente acredita que se encaixa no contexto do jogo”.
Construção Coletiva
A trilha sonora do jogo considera a valorização da representatividade artística local, prova disso é a cantora e jornalista Djuena Tikuna dentre as participações especiais, que cede sua voz e a língua de sua etnia para compor a ficha técnica de Snake Born. Além dela o produtor musical César Lima também integra o time que trabalha o som dentro dentro da obra.
Outros artistas que trabalham no formato 3D também fazem parte do projeto, como o arquiteto Rafael Vasconcelos, os animadores George Lucas e Renan Zuany. Já os desenvolvedores Yuri Costa, Yallis Souza e Von Held são responsáveis pela funcionalidade do Snake Born.
“Estamos fazendo com a pretensão de lançar para computador a princípio mas também de uma forma que lá na frente a gente consiga rodar em celular também no futuro, se houver demanda da comunidade, interesse de alguma empresa de console, a gente pode fazer o porte para outra plataforma também. É um projeto que nesse regime de voluntariado vai demorar pra caramba pra sair se for pra sair bem feito. A gente realmente sente a necessidade de um olhar mais aberto nessa questão da tecnologia quando se trata da mídias mais tradicionais”, conta.
Valor Social
Para Lobo um dos maiores incentivos é fortalecer a valorização do imaginário regional. “Estamos construindo algo com carinho, com dedicação, com várias mãos, visando dinheiro sim é claro, porque é um negócio, se não for negócio não é sustentável mas acima de tudo tomando pra nós a responsabilidade de darem valor ao que é regional () é o desejo de representar bem a Amazônia lá fora que movem bastante a gente”, conclui Lobo.
O selo criado por ele chama-se Flameseed Studio e é um dos modelos de negócio instalados no Impact Hub Manaus, um espaço voltado para empreendedores comprometidos com o impacto social. Marcus Bessa é Co-Fundador do Impact Hub e sempre trabalhou com iniciativas e movimentos sociais, junto com sua sócia, Juliana Teles, começou a questionar muito porque as coisas não aconteciam aqui em Manaus.
“Porque precisávamos sair da cidade ir pra São Paulo, pro Rio, pra viver tudo que a gente viveu indo em alguns momentos lá fora? Lembramos do Impact Hub em que um momento a gente tinha conhecido e é a engrenagem perfeita porque ele tem a comunidade, tem o espaço, tem projetos, a parte de conteúdo e a gente acredita muito que esse tripé ele transforma e traz tudo que a gente vem sempre trabalhando e falando que é inovação e empreendedorismo social”, a iniciativa que abrigava antes da pandemia do coronavírus mais de 50 empresas, startups, ONGs e OCIPs, atualmente mantém sua comunidade conectada a engajada através da internet.
A ideia em comum entre a comunidade do Impact Hub é de que os negócios sociais podem se expandir na capital amazonense, quando ajudar o próximo também vira um modelo de negócio rentável e sustentável. “A gente acredita muito nesse setor dois e meio, que pode ser negócio que gera lucro e além disso ele também tem que gerar transformação social, tem que pensar em todos os atores envolvidos nessa engrenagem”, completa Marcus Bessa.