Empresas e institutos de tecnologia serão reunidos no Centro Histórico de Manaus para desenvolver tecnologia como alternativa econômica na capital amazonense
O modelo econômico do Polo Industrial de Manaus (PIM) vem sendo, ao longo das décadas, essencial para o equilíbrio socioeconômico da região amazônica. No entanto, também tem sido afetado recentemente pelas conjunturas econômicas do país e a surge a necessidade de encontrar alternativas para a economia local. E é neste cenário que o Polo Digital de Manaus (PDM) ganha força.
A implementação do Polo Digital de Manaus, modelo econômico baseado em inovação e tecnologia, está sendo realizada por várias instituições e empresas. A Prefeitura de Manaus realiza a revitalização de parte do Centro Histórico da cidade, para reunir atores do ecossistema digital da capital em um só lugar.
A presidente da Associação do Polo Digital de Manaus, Vânia Capela, conta que, há dois anos, Manaus integra um movimento nacional que busca centralizar as empresas e institutos de tecnologias no mesmo espaço. “O país tem sido protagonista de vários movimentos e organizações envolvendo polos ou distritos de tecnologia. Temos o Porto Digital do Recife, existem até outros polos de tecnologia na área do nordeste, temos a região de Florianópolis e algumas outras cidades brasileiras que têm buscado desenvolver Parques Tecnológicos e Polos Digitais”, pontua a engenheira eletrônica, que, há quatro anos, migrou para área da tecnologia após 28 anos na indústria.
De acordo com Vânia, Manaus não poderia ficar de fora desse movimento pois possui o segundo maior Distrito Industrial do Brasil, responsável por investimentos na Lei de Informática.
“Resolvemos começar a integrar esse ecossistema e fizemos isso através da primeira Feira do Polo Digital, dois anos atrás, com o tema ‘Manaus Tem Digital’. Então, a ideia era mostrar pra sociedade manauara, inclusive, que não conhecia muito bem que Manaus já era um Polo Digital e faltava apenas se organizar, mas já existiam vários atores: institutos, universidades, startups, coworking trabalhando com tecnologia aqui”, conta.
“Manaus já era um Polo Digital e faltava apenas se organizar”
declara a presidente da Associação do Polo Digital de Manaus, Vânia Capela
A Associação do Polo Digital de Manaus foi criada para estabelecer uma governança estratégica, conforme os modelos adotados em outros Estados, segundo Vânia Capela.
A ideia é concentrar empresas e institutos de pesquisas, gerando tecnologia, inovação, emprego e renda na capital amazonense, na região do Paço Municipal, Centro de Manaus. A sede do Polo Digital de Manaus está em obras e será no antigo Hotel Cassina, região também conhecida por ser o Marco Zero de Manaus, o local onde iniciou a ocupação e construção da cidade.
Áreas do conhecimento
Por se tratar de um Polo Digital, as principais oportunidades estão voltadas para área da tecnologia da informação e comunicação. “Basicamente desenvolvimento de software, aplicativo, plataforma, software em geral, então nosso polo é baseado nisso. São vários desenvolvedores, designers, todos voltados para desenvolvimento de soluções em software. Creio que essa é a base de todo desenvolvimento tecnológico no país”, conta Vânia.
Adaptação da experiência
No início dos anos 2000, ocorreu um processo similar no Recife Antigo, região também histórica na capital pernambucana. Na época, o planejador urbano Cláudio Marinho era secretário de Ciência e Tecnologia do Estado e, juntamente com universidades, empresas e institutos, foi criado o Porto Digital de Recife, revitalizando a região histórica e turística da cidade.
“No Centro Histórico do Recife, o lugar onde nasceu a cidade, nós criamos um ambiente de inovação com incubadoras, aceleradoras, institutos de pesquisa, atraindo empresas que criam emprego. Na época, nós tínhamos duas empresas de Tecnologia da Informação (TI) e hoje nós temos 350 empresas e institutos de pesquisas, criamos 11 mil empregos e ainda precisam contratar mais 2 mil pessoas ainda neste ano de 2020, somando um faturamento que deve chegar aos R$ 3 bilhões agora”, pontua o urbanista.
Cláudio é diretor da Porto Marinho, empresa responsável pela gestão do Porto Digital de Recife e também contratada para consultoria no Polo Digital de Manaus. Um planejamento em cenários estratégicos está sendo desenvolvido para que a capital amazonense dê esse importante passo. No final de janeiro, Cláudio assinou com a Prefeitura de Manaus um contrato de cooperação para que a iniciativa se torne realidade.
“Manaus é a sétima cidade brasileira em matrículas nos cursos de computação, isso é uma base fundamental para o futuro. Estive aqui também na segunda feira do Polo Digital de Manaus, quando mergulhei com os jovens empreendedores nos stands e nunca vi tanta energia junto. É fundamental estimular a iniciativa dos jovens empreendedores de criar empresas, startups, empresas de tecnologia baseadas em inovação”, conta Cláudio.
Ainda segundo o especialista, não é possível comparar os dois processos por conta das particularidades de cada cidade e mercado. “Toda realidade e cidade é diferente, tem história diferente. Não tenho nenhuma ilusão de que vamos transplantar experiências, vamos conviver, trazer a nossa experiência, testar com os atores do Polo Digital de Manaus o que pode dar certo aqui e o que não dá certo”, ressalta Marinho.
“É fundamental estimular a iniciativa dos jovens empreendedores de criar empresas, startups, empresas de tecnologia baseadas em inovação”
afirma o planejador urbano Cláudio Marinho.
Projeção em 20 anos
Organizado por membros da sociedade civil, o Conselho de Desenvolvimento Econômico, Sustentável e Estratégico de Manaus (Codese) também é responsável pelas duas Feiras do Polo Digital de Manaus, realizadas em 2018 e 2019. As projeções do órgão são de que, até 2038, a capital amazonense seja uma das dez melhores cidades pra se viver no país e esteja entre as 20 melhores para se investir. Segundo o vice-presidente do Codese, Euler Guimarães, se apropriar das riquezas locais de maneira responsável e sustentável é um dos caminhos para alcançar o objetivo.
“Uma das expectativas nesse cenário que vislumbramos daqui a 20 anos é de que dois terços da nossa economia surja de potencialidades locais que a gente tenha. Então, a gente tá falando aí de uma ordem de R$ 40 bilhões em 20 anos, para que isso aconteça a gente precisa trabalhar agora, plantar agora pra colher lá na frente”, incentivou o administrador.
Euler também acredita que o potencial turístico do Amazonas tem muito a ganhar com todas as iniciativas de tecnologias sendo voltadas pra região. “O turismo tá conectado de uma forma muito próxima com a questão da economia digital. É algo que a gente tem que aproveitar: os potenciais, as competências e talentos que nós temos na cidade”, afirma.
O desafio agora é que a sinergia em prol dessa iniciativa contagie os demais setores da cidade. Euler conta que todo o ambiente do Centro da cidade está sendo preparado para receber o polo, ressaltando que algumas leis foram lançadas incentivando que startups e institutos de tecnologia se aloquem ali naquela região do centro. Confira algumas delas: