“Só consigo fazer o balanço deste ano de 2020 como positivo”, diz líder do ecossistema Jaraqui Valley Marcelino Macêdo.
Em março desde ano, o brasileiro se viu refém do novo coronavírus. A pandemia já tomara de conta de quase todo o mundo e as orientações sanitárias brasileiras era pelo distanciamento social. Ficar em casa foi a regra, sob toque de recolher, lockdown e de lugar mais seguro a fim de evitar o contágio pelo novo vírus.
A reinvenção das formas de trabalho, consumo e entretenimento estavam sob a égide da convivência domiciliar em full time. Quem não trabalhasse com os serviços sociais estava desautorizado a ir à rua. Os hospitais sobrecarregados de infectados alertavam a população do perigo e os casos de mortes só aumentavam.
Farmácias, supermercados, postos de combustíveis, bancos e o transporte público se mantinham abertos, mas ao sair às ruas, o cuidado com quem tinha ficado em casa era a principal preocupação. E tudo precisava ser muito bem higienizado antes de entrar ou de estar de volta ao lar.
Em casa, a internet se tornou indispensável no enfrentamento dos impactos causado pela pandemia, e os hábitos dos brasileiros mudaram. Segundo dados divulgados em agosto pelo Painel TI Covid-19 desenvolvido pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), o comércio eletrônico e as atividades culturais on-line apresentaram alta de 66% dos usuários com 16 anos ou mais. O consumo das transmissões on-line de áudio e vídeo em tempo real praticamente dobrou e as usuárias passaram a realizaram mais compras online, passando de 39% em 2018 para 70% em 2020.
Ainda segundo os dados da pesquisa, o percentual de usuários de consumidores que optaram por pedidos de comidas por portais ou aplicativos de vendas triplicou, se comparando com o registrado em 2018, e passou de 15% para 44% em meio à pandemia.
Reinvenção dos negócios
Baseada em uma proposta inovadora, repetível e escalável, como modelo de negócio que busca solução em meio a condição de incertezas, a pandemia foi o grande desafio para as startups.
Embarcadas em um ecossistema de inovação, estimulado por interação e cooperação, essas novas empresas emergentes puderam mostrar potencial, importância e relevância social.
Em Manaus, a cena de inovação em Manaus é apoiada pela comunidade de startups Jaraqui Valley, que também é parte do ecossistema que agrega todos os potenciais investidores, fomentadores, universidades, empresas públicas, privadas e organizações, além dos membros que também integram o sistema colaborativo.
Do ecossistema manauara, além dos desafios, a pandemia trouxe aprendizados e crescimento. Segundo Marcelino Macêdo, um dos líderes da Jaraqui Valley, o momento revelou parte do que é o ecossistema de inovação.
“Nesse período o ecossistema só cresceu e se fortaleceu, pois a pandemia trouxe novos desafios, muito mais que isso, ela trouxe oportunidades, e isso é parte de nós: desenvolver soluções para resolver problemas. Enquanto, a maior parte das pessoas estavam pontuando problemas, as startups estavam desenvolvendo soluções, exatamente para atender essa demanda nova”, disse.
Marcelino ressalta ainda que o momento de pandemia, também mostrou a importância do trabalho das startups.
“Já somos da e atuamos na internet e a pandemia fez com que as pessoas viessem para a onde estamos, e então começaram a conhecer o nosso universo, a entender as soluções e vantagens que é utilizar a tecnologia digital e isso proporcionou com que soluções novas surgissem, então, só consigo fazer o balanço deste ano de 2020 como positivo. E mesmo com a falta de contato físico, por exemplo, mas em níveis de negócios, não tivemos problemas, e não acredito que ninguém da cena hoje ache que foi negativo e agora com o findar do ano, alguns eventos se tornaram presenciais”, pontuou o líder da Jaraqui Valley.
Novas formas de negócio alimentícios
Com novos hábitos de consumo, respeitando as orientações sanitárias, o manauara teve alternativa para manter, por exemplo, o consumo de hortaliças, frutas e legumes sem precisar se expor tanto ao vírus.
Entre as startups do Amazonas que atuam no ramo da alimentação está a Onisafra, que faz a ponte entre o consumir e o agricultor familiar, possibilitando o acesso à cadeias produtivas de frutas, hortaliças e verduras direto da fonte.
“Quando se iniciou todo essa questão da pandemia, já estávamos trabalhando no melhoramento da nossa operação e aí culminou com essa questão do distanciamento social e rapidamente nos reorganizamos, principalmente nossas operações offline, junto aos agricultores, pois muitos deles não podiam vir pra cidade e aprimorar nossa operação online, e ao longo desse período tivemos muitos aprendizados e nos proporcionou uma remodelagem em nosso site e aplicativo”, pontua o criador da Onisafra, Macaulay Souza de Abreu.
Entre os clientes da Onisafra está o publicitário Marcos Tupinambá, que durante 3 meses de isolamento total em casa, pode ter suas necessidades supridas pelos serviços da startup.
“O grande diferencial foi saber que eles trabalhavam com agricultores locais e eu estaria ajudando a fomentar a economia local, isso é interessante. Valores acessíveis como preços de feira e essa facilidade de ter esses produtos entregues em casa. E durante a pandemia isso ajudou bastante. Passamos pelo menos 3 meses em total isolamento e a Onisafra conseguiu suprir nossas necessidades”, disse Marcos.
Macaulay destaca que, além do aprendizado, foi necessário um esforço maior para contribuir com as pessoas em meio ao pico da pandemia. E a partir de parcerias, puderam doar alimentos a quem mais precisou.
“Ao mesmo tempo em que estávamos com as operações de venda, entendemos que precisávamos fazer uma contribuição maior para o cenário e fechamos parcerias com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Amazonas (Sedecti) e com a Associação Polo Digital de Manaus (APDM), que se juntaram conosco na ação ‘Mercado Solidário’, em que doamos quase 20 toneladas de alimentos, a gente se estruturou pra isso e foi bem interessante esse período de enfretamento da pandemia”, conta.
Além de Onisfra, a eMercado se destaca como startup que também atua no ramo alimentício, mas mais voltado à produtos industrializados do setor supermercadista. Traz tecnologia e inovação para a experiência de compra do consumidor.
“A eMercado atua desde 2015 no mercado e se propõe a oferecer formas de economizar ao consumidor que fizer compras em supermercado, através da comparação de preços”, conta Flávio Motenegro Filho, CEO da startup.
Pautada por proporcionar uma nova experiência ao se fazer compras em supermercados de Manaus, a eMercado atua na padronização de produtos, franquia de preços, loja virtual e vendas inteligentes.
” O propósito do eMercado é levar o varejo para o mundo digital, acreditando que um canal de vendas e informação online sempre trará benefícios para o consumidor. E a pandemia foi apenas um catalisador de tudo isso, acelerando as empresas a procurarem adicionar esses canais de vendas e ao mesmo tempo os consumidores mais dispostos a experimentar. Hoje, estamos atuamos com 3 grandes varejistas tradicionais e regionais e os ajudamos a se inserirem nesse novo contexto, seja por um e-commerce próprio ou seja por aplicativos de terceiros”, conta o CEO.
Condomínios em vista
Um novo momento para também proporcionar ao manauara a experiência de uma startup foi o foco de atuação da Comunny – uma plataforma para gestão de condomínios residenciais, comerciais e shoppings centers focada em resolver problemas de comunicação, digitalização de processos e redução de inadimplência.
O CEO da Communy, Pedro Cavalcante ressalta que durante a pandemia, o serviço tem sido essencial e atua como uma espécie de rede social do condomínio.
“Imagina um condômino que quer interagir com seu condomínio e tem interesse de participar, reclamar, fazer uma reserva e de fazer tudo sem precisar de depender do horário da administração do condomínio? Nossa plataforma tem o objetivo de ajudar na interação por meio digital entre o morador (condômino), o condomínio (gestão) e a portaria”, disse.
No pico da pandemia, a Communy viu sua atuação dobrar em meio aos usuários dos condomínios de Manaus.
“Nossa plataforma permite solicitações de serviços do condomínio fora do horário comercial, onde podemos, por exemplo, reservar espaços comuns como academia, piscina, a fim de evitar aglomeração e listar quem está autorizado a passar na portaria. Além disso, nosso serviço atende as demandas dos condôminos e durante a pandemia, vimos solicitações dobrarem, como o número de reclamações de barulhos, problemas estruturais e uma série de queixas”, pontua Pedro.
Ainda pensando em condomínios, evitando aglomerações, facilitando acesso à compras na proximidade de casa, a startup Lutti pretende colocar no mercado, nos próximos meses, suas unidades autônomas funcionando 24 horas por dia como uma RetailTech, que visa beneficiar tanto o varejo online como o físico, proporcionando melhoras no relacionamento das empresas com o consumidor.
“Distância, congestionamentos, grandes filas, insegurança e compras de primeira necessidade em horários não comerciais são apenas algumas das situações que tornam o simples ato de realizar compras do dia a dia um grande desafio. Foi exatamente com o objetivo de buscar uma solução para estas dores que nasceu a Startup Lutti”, ressalta a diretora de operações Larissa Queiroz e o diretor executivo Paulo Victor Holanda Nascimento.
Em Manaus, a Lutti prevê iniciar as operações ainda no primeiro trimestre de 2021, com a primeira unidade implantada em um condomínio no bairro da Ponta Negra, zona Oeste da capital amazonense.
“O grande diferencial da Lutti está na boa relação que buscamos construir com os nossos clientes, trazendo mais humanização aos processos. Além disso, entendemos que não basta apenas instalar uma gôndola e um freezer em um corredor e chamar de mercado, é necessário levar a experiência dos grandes mercados para dentro dos condomínios, fábricas, universidades e quaisquer outros locais onde os clientes estejam. Este conceito compreende a oferta de um mix completo de produtos como, por exemplo, hortifruti, frios, açougue, congelados, adega, entre muitos outros, desenvolvido exclusivamente para cada localidade conforme as preferências de cada público-alvo”, pontuam os diretores.
Edutechs
Com as crianças e adolescentes em período escolar tendo que ficar em casa, o processo de ensino-aprendizagem também se reinventou. As startups empenhadas nesse processo – conhecidas por Edutechs – saltaram em busca de alternativas e aprimoramento de ações e soluções tecnológicas para o setor de educação.
Em Manaus, o Centro Internacional de Tecnologia de Software do Amazonas (CITS Amazonas) desenvolve o projeto Desafios EdTech – Acelerando o Empreendedorismo de Impacto, do Programa Prioritário em Empreendedorismo Inovador, que tem por entre os objetivos, o estimulo à cultura empreendedora da região na área de educação.
Uma das propostas do CITS é a transferência da metodologia MindCET de Israel para o Brasil, para a aplicação na aceleração de projetos e negócios tecnológicos educacionais e, em parceria com o ecossistema regional, realizar ciclo de desafios com foco em problemas reais, alinhados aos princípios da inovação aberta (Open innovation) e com as metodologias internacionais aprendidas.
Para Alberjan Pinto, gerente de projetos sênior do CITS Amazonas e coordenador do Programa Prioritário de Indústria 4.0, o momento é desafiador, mas os estudos foram realizados.
“Começamos a fazer experimentos em escolas públicas e particulares, e conseguimos ver na prática um produto se arredondando. Colocamos umas ideias que pareciam que não estavam bem, outras conseguir torná-las melhores e conseguimos pegar esses insights que eram feitos dentro das escolas e desses testes aplicados tanto no Brasil quanto em Israel, e conseguimos fazer análise dessas respostas pra buscar um produto global. Foi muito enriquecedor e desafiador conseguir colocar isso em prática”, disse.
Ainda segundo ele, mesmo em meio à pandemia, o objetivo do projeto foi alcançado.
“Quando veio a pandemia, realmente, tivemos uma dificuldade maior, pois as escolas fecharam e não tínhamos mais o acesso às crianças, nosso público alvo, com isso tínhamos que encontrar novas formas de fazer esses testes e mesmo com esse desafio, encontramos formas online, e conseguimos testar de várias formas.”, disse Alberjan, ressaltando que o “objetivo final que era testar essa metodologia, foi alcançado, e trazer ela pra dentro do Brasil e conseguirmos gerar, realmente, um produto dessa pesquisa”, acrescenta.
A proposta do MindCet Israel é aplicar a metodologia em projetos educacionais dentro do Brasil, passar o conhecimento para comunidade, gerar novos negócios, empresas e novos produtos educacionais além do enriquecimento da área educacional na região.
A Health Tech
As inovações na área de saúde também foram prioridades em meio ao período crítico da pandemia no Amazonas. A Samel Heath Tech foi o primeiro laboratório de pesquisa e desenvolvimento de projetos tecnológicos e soluções para os desafios da saúde da região e se propôs impulsionar novas ideias e startups a fim de gerar soluções inovadoras.?
E entre as soluções estiveram o sistema de triagem online, que atendeu de forma gratuita via chat, pessoas que precisavam de orientações médicas sobre o novo coronavírus, afim de evitar que deixassem seus lares para ir à unidade de saúde.
Para 2021
Ainda no final deste ano de 2020, eventos presenciais, seguindo os protocolos de segurança, estão sendo retomados e Marcelino garante que muita coisa ainda vem por aí.
“A gente sabe que tem desafios e acreditamos que não precisamos ter medo. Nossa comunidade só cresceu. As inovações geraram crescimento nas startups, investimentos e novos negócios surgindo”, finaliza Marcelino Macêdo, líder da Jaraqui Valley.