De forma inédita, peixes nativos do rio Xingu são reproduzidos em cativeiro no Pará

A  atividade alia tecnologia e conhecimento ribeirinho na criação de tucunaré, pacu-de-seringa, pacu-branco e arraia-negra.

Na cultura paraense, o tucunaré e o pacu ocupam um lugar de destaque à mesa. Receitas e tradições enaltecem a riqueza culinária da região, onde os sabores dos peixes do rio Xingu ganham protagonismo. Essas espécies não apenas influenciam a economia local, mas também lembram a crucial importância de preservar a natureza e a continuidade da vida ribeirinha.

Elas são a base dos estudos realizados em um projeto de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), focado na sustentabilidade ambiental e social da cadeia produtiva. 

O objetivo é a geração inédita, em cativeiro, de quatro espécies nativas da região: pacu-de-seringa, pacu-branco, tucunaré-do-Xingu, além da arraia negra, estabelecendo um banco genético ex-situ (fora do ambiente natural de origem).

Foto: Divulgação/Norte Energia

Dentro das atividades da pesquisa, o pacu-branco e o pacu-de-seringa já tiveram seus protocolos de reprodução estabelecidos, soluções que serão utilizadas em benefício da população local. Os resultados alcançados até o momento foram apresentados em um workshop, que reuniu cerca de 50 pessoas, representando seis comunidades da Volta Grande do Xingu – Ressaca, Caracol, Cobra Choca, Fazenda, Garimpo do Galo e Kaituká, além instituições e entidades ligadas à pesca.

Conhecedores natos da região do Xingu, os ribeirinhos têm papel fundamental, pois participam de todas as etapas, desde a captura até a reprodução das espécies em laboratório. Durante o workshop, inclusive, eles receberam treinamento para realizar a reprodução artificial dos peixes.

Cláudia Maria da Silva, da comunidade Kaituká, enxerga na oportunidade uma forma de passar adiante a consciência de preservação para as próximas gerações, destacando como esse conhecimento moldará as crianças e jovens locais. “Essa é uma porta que se abriu para a minha filha de 13 anos e para os meus netos que estão crescendo na minha comunidade. Eu vejo que o futuro já começou”, frisou.

O projeto 

Intitulado ‘Biotecnologia aplicada à reprodução de peixes nativos da Volta Grande do Xingu: bases para o uso sustentável’, o projeto é desenvolvido pela Norte Energia, empresa concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte, regulado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), e visa estabelecer protocolos de reprodução para essas espécies nativas da região. A próxima fase explorará as oportunidades para a criação de peixes visando a geração de renda para as comunidades locais.

Sob a coordenação do pesquisador George Yasui, afiliado ao Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Peixes Continentais (CEPTA), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o projeto de P&D é executado pela BIOCEV Serviços de Meio Ambiente e Fundação do Instituto de Biociências (FUNDIBIO), além de envolver pesquisadores e bolsistas da Universidade Federal do Pará (UFPA), em níveis de pós-doutorado, doutorado, mestrado e iniciação científica.

“As espécies foram estrategicamente selecionadas por conta de sua importância ecológica, cultural e alimentar para os ribeirinhos e indígenas. O pacu-de-seringa, por exemplo, além de ser uma fonte rica em proteína, se alimenta de sementes, que posteriormente serão dispersadas e vão semear as margens do rio, contribuindo para o reflorestamento da região”,

pontuou o pesquisador.

O laboratório de pesquisa, localizado no Centro de Estudos Ambientais (CEA) da Norte Energia, no município de Vitória do Xingu/PA, oferece infraestrutura para pesquisas sobre protocolos reprodutivos, larvicultura e alevinagem em ambientes controlados, além de larvicultura em tanques suspensos e engorda em tanques-rede. 

Até o momento, foram reproduzidos em cativeiro cerca de 1.300 alevinos, abrangendo as espécies pacu-de-seringa e pacu-branco. Adicionalmente, há um acompanhamento gestacional de três fêmeas de arraias-negras.
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