Os Cantores do Rádio

O rádio possibilitou a consolidação de gêneros musicais e teve importante participação na formação política do Brasil no decorrer da primeira metade do século XX.

Bem mais além do que mero meio de comunicação, o rádio em todo país e muito especialmente no Amazonas, possibilitou a consolidação de gêneros musicais e teve importante participação na formação política do Brasil no decorrer da primeira metade do século XX, cuja, participação, crescimento e difusão das ondas radiofônicas foram importantes nas décadas de 1920 e 1930.
Príncipes da melodia. Rádio Baré. Tapiri Radiofônico. Manaus, junho de 1952. Acervo do autor.

“… A primeira transmissão do rádio ocorreu em 7 de setembro de 1922, como parte das comemorações que celebravam o centenário da Independência do Brasil. A transmissão teve como destaque um discurso do então presidente da República Epitácio Pessoa. Também foram espalhadas nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Petrópolis, aproximadamente oitenta receptores que captavam áreas encenadas no teatro municipal de São Paulo d’O Guarani, de Carlos Gomes. A primeira transmissão por rádio já prenunciava, de alguma maneira, o futuro ligado às manifestações nacionalistas que seriam recorrentes durante o governo Vargas, época de maior expansão das ondas radiofônicas.”¹

 

  Ainda na década de 1920, dois episódios marcaram inicio da era do rádio no Brasil, de acordo com Sérgio Cabral:

“… A fundação da Rádio Sociedade, por Roquette Pinto e Henrique Morize, em 1923 e a fundação da Rádio Clube no Brasil no ano seguinte. Tais rádios funcionavam por poucas horas e em dias alternados, o que há no entanto, no estudo de Sérgio Cabral, que nos chama atenção é a sua tese de que o Rádio retira a música popular do terreno do amadorismo e a situa, em um processo paulatino, como também, uma forma de profissionalização: isso viria a ocorrer de modo mais acentuado na década de 1930.”

 

  CABRAL, Sérgio. AMPB na era do rádio. São Paulo: Editora Moderna. 1996.¹

A profissionalização dos cantores do rádio tanto no Brasil quanto no Amazonas veio junto de um repertório, por isso, não foi ao acaso que a partir de 1930 o samba ganha cada vez mais relevância no cenário cultural brasileiro, se torna mais comercial e alia a figura do cantor às ondas radiofônicas, a venda de discos e ao gênero musical, em um circuito que nos permite visualizar uma lógica mercadológica sobre as canções. No entanto, foi a partir deste momento que passam a serem ouvidas com destaque as composições de Ismael Silva, Wilson Batista, Noel Rosa e outros. Como também, surgia grandes interpretes como Mário Reis e Francisco Alves e as interpretes Araci de Almeida, Carmem Miranda e Dalva de Oliveira.

 “… Como destaca o autor Francisco Weffort, o Governo de Vargas pode ser compreendido pela chave do populismo: um fenômeno político de bastante recorrência na América Latina que tem por objetivo ser paternalista, desenvolvimentista e patriótico. Getúlio operou mudanças significativas na vida do povo brasileiro. Ele tratou de criar um aparelho estatal nas rádios brasileiras, a exemplo do que fez também outro presidente sul-americano Juan Domingo Perón na Argentina. Desse modo a Rádio Nacional que quando criada em 1936, tinha um caráter de empresa privada, tornou-se em 1940, uma empresa pertencente ao Governo Brasileiro. Seu modo de operar por meio de ondas curtas fez com que todo território brasileiro fosse preenchido pelas ondas da emissora. O Estado Novo, mais precisamente o Departamento de Imprensa e Propaganda criou um modelo de programação onde e jornalismo e entretenimento caminhava lado a lado na Rádio Nacional desse período datam o surgimento da Ora do Brasil, dedicada as notícias do executivo brasileiro, o Repórter Esso, jornalismo de plantão que informava os fatos emergenciais, e programas humorísticos que consagraram artistas brasileiros, como a Balança mais não cai e PRK-8, onde atuavam grandes nomes como: Paulo Gracindo, Valter D’Ávila e Brandão Filho e, mais tarde dar-se inicio as radionovelas.”²

 

WEFFORT, Francisco. O populismo na política brasileira. São Paulo: Editora Paz e Terra. 1989.²

Por este caminho, cada vez mais focaliza-se a figura do artista e sua representatividade na sociedade, esse processo se transforma com o tempo, mas é o embrião da figura do ídolo que ficou conhecido a época e que não foi diferente em Manaus nos anos 50 na Rádio Difurosa e Rádio Baré, fosse por meio dos concursos das rainhas do rádio na década de 1950 que, a nível nacional imortalizaram Dalva de Oliveira, Ângela Maria e Emilinha Borba ou pelo fenômeno que se tornou Cauby Peixoto, Orlando Silva e Nelson Gonçalves.

O paradigma musical consolidado pelo rádio na primeira década do século 20 no Brasil trouxe a tona muitos nomes da musicalidade, tinha-se um entendimento de que a canção necessitava de ampla orquestra e grande potência vocal e, desse modo está inscrita no imaginário brasileiro”.³

  

NAVES, Santuza Cambraia. Canção popular no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2010.³ 

De acordo com as autoras Ierecê Barbosa Monteiro e Edilene Mafra, contam a história do rádio na capital do Amazonas:

“… Nos anos de 1920, o Amazonas amargava dias difíceis na economia. Após o fim do apogeu da borracha, a produção amazônica respondia por apenas 5% do consumo mundial de borracha. Mário de Andrade um dos lideres do movimento modernista brasileiro, em visita a Manaus no ano de 1927 afirmou que a capital amazonense de “virgem de luxo” estava se transformando em “mulher fecunda”, metáfora que ilustra a decadência da outrora Paris dos trópicos. Foi nesse cenário de estagnação econômica pós primeiro ciclo da borracha que antecederam as primeiras transmissões de rádio no Amazonas. Segundo a doutora em educação Ierecê Barbosa Monteiro, autora de o livro Favor Transmitir ao Destinatário: uma análise semiológica dos avisos de rádio no Amazonas, obra que se transformou em um clássico e faz parte das bibliografias básicas de várias disciplinas de cursos superiores, o rádio surge no Amazonas em 1927.”4

 

A Professora Doutora Edilene Mafra acrescenta ainda que, diferentemente da maior parte do Brasil, onde surgiu como no Amazonas o rádio foi introduzido como veículo estatal.

“… A primeira emissora instalada no Amazonas, em abril de 1927 foi a voz de Manáos, que atendia aos interesses comerciais e políticos dos barões da borracha, transmitindo diariamente as cotações do látex no mercado internacional, a situação econômica do país anunciando a chegada e saída dos navios, os feitos do governo e notícias de interesse público. Tinha a prioridade semanal de três dias, entrava no ar nas segundas, quartas e sextas-feiras a noite de 21h às 22h. Afirma ainda, a professora Ierecê Barbosa que após este primeiro impulso de radiófilos aumentou consideravelmente, o que levou ao investimento de receptores de alta qualidade e sofisticação para época, todos importados. No entanto, impactado pela crise de 1929 que afetou a economia de todo planeta, a emissora pioneira sofreu vários cortes dos governantes e quebrou. Na sequência o Amazonas amargou um período de quase uma década sem rádio. Depois vieram a voz da Baricéa, em 1938, a Rádio Baré em 1939, a Rádio Difusora em 1948 e a Rádio Rio Mar em 1954.”

 

Portalamazonia.com/cultura/amazonas-ontemehojenasondasdoradio.Ierecê Barbosa/Edilene Mafra.4 e 5

Jornalista Josué Cláudio de Souza, sócio honoário. Manaus, 10 de junho de 1972. Acervo do autor.

Cidade apaixonada – Etelvina Garcia 

“… A Manaus dos primeiros tempos da Difusora era uma cidade de pouco mais de 100 mil habitantes, que almoçava em casa, fazia a sesta, passeava de bonde, lia jornal e ouvia rádio.

O rádio fazia parte da vida do povo, que formava dois times apaixonados e adversários, o da Difusora e o da Baré. A rivalidade entre as duas emissoras começou no dia da inauguração da Difusora. Em quanto Orlando Silva cantava no auditório da Rua Joaquim Sarmento n. 100, a Baré apresentava Jorge Veiga e Ademilde Fonseca no Cine Teatro Politheama.

Nesse clima de disputa, a difusora diversificava a sua programação de auditório. O Bonde da Alegria era a grande atração do carnaval de 49, com desfiles da escola de samba Tem Batucada no Morro e apresentação do valoroso Cast-S8, cantando os grandes sucessos carnavalescos do ano, Chiquita Bacana, Jacaré Paguá e Pedreiro Valdemar. O Programa tem gato na tuba, distribuía prêmios para o auditório, gongando sem piedade os calouros desafinados e revelando alguns dos muitos talentos que ajudaram a fazer a história do rádio no Amazonas. Semana a semana, as duas emissoras proporcionavam aos seus torcedores inesquecíveis espetáculos com os ídolos do rádio brasileiro. Em resposta ao aparecimento da Maloca dos Barés, a Difusora instalava a Festa da Mocidade. Os fãs de Dalva de Oliveira que torciam pela Difusora perdiam a oportunidade de vê-la cantar com o Trio de Ouro na Maloca dos Barés, porque se recusavam a pisar em território inimigo, motivando Josué a contratar a grande estrela para uma temporada exclusiva na Festa da Mocidade.

Os fanáticos torcedores invariavelmente se defrontavam em acirradas discussões, nas escolas, nos bares, nas calçadas da vizinhança, defendendo o som da sua emissora preferida. Mas, os índices de audiência da época diziam que a Difusora era mesmo a mais querida.

A magia do rádio incorporou o marketing dos patrocinadores à vida desta cidade, que por muito tempo falou no Juca, o louco da rua dos barés 150 e, cantarolou o jingle da Sapataria Salvador.”6

 

GARCIA, Etelvina. Rádio Difusora 50 anos no coração do povo. Editora Norma Cor. Manaus, 1998.6 

 No traçar desta evolução histórica do rádio e seus cantores, apresentadores, destacamos esse período rico desta fase do rádio no Amazonas. Foram muitos aqueles que escreveram seus nomes na história do nosso rádio, cuja contribuição singular e preciosa foi artífices deste período.

Todas as vezes que surge a oportunidade de se resgatar um pedaço da história especialmente quando trata-se de um assunto pouco explorado ganha o “BROADCASTING” valiosos argumentos de decisão na certeza de que embora fragmentos vale a pena publicar. Aliás, existem circunstâncias efetivamente interessante a ser mostrado. Nomes como: Maria de Lourdes – Rádio Baré, Roque de Souza – Rádio Baré, Belmiro Vianez – Locutor – Rádio Baré, Dantas de Mesquita – Locutor, Jayme Rebello – Locutor, Corrêa de Araújo – Locutor – Rádio Baré, Josaphat Pires – Locutor, Produtor – Rádio Ator – Rádio Baré, Sylvia Lene – Cantora, Neuza Inês – Cantora – Rádio Baré, Grace Moema – Cantora – Rádio Difusora, Tânia Regina – Rádio Atriz – Rádio Baré, Nice de Alcântara – Rádio – Atriz Rádio Baré, Carolina Lander – Rádio Atriz – Rádio Baré, Denizar Menezes – Locutor – Rádio Difusora, mais tarde foi da Rádio Globo, André Limonge – Locutor Rádio Difusora, Índio do Brasil – Locutor Rádio do Brasil, Ayrton Pinheiro Rádio – Ator – Rádio Baré, Maria Eneida – Cantora – Rádio Baré, Ray Fernandes – Cantora – Rádio Baré, Carmen Morais – Cantora – Rádio Baré, Ângelo Amorim – Cantor – Rádio Baré, Wilson Dantas – Cantor – Rádio Difusora, Clóvis Carvalho – Cantor – Rádio Difusora, Raymundo Sena – Cantor – Rádio Difusora, Tarub e Seu Joaquim – Humoristas – Rádio Baré, Jokeide Barbosa – Cantor – Rádio Baré, Sérgio Roberto – Cantor – Rádio Baré, Corrêa Lima – Cantor – Rádio Baré, Alfredo Fernandes – Diretor Artístico, Produtor e Radio Ator – Rádio Baré, Amélia Vitória – Pianista –Rádio Baré, Príncipes da Melodia – Conjunto Vocal – Rádio Baré, Ponce de Leão – Controle Rádio Baré, Raymundo Mendes – Controle – Rádio Baré, Waldison Gondin – Controle e Chefe – Rádio Baré, Hélio Trigueiro – Sanfoneiro – Rádio Baré, Tânea e Mara (Guiomar Cunha e Lúcia Maria) Vocalistas – Rádio Difusora, Reginaldo Xavier – Rádio Ator – Rádio Baré, Danilo Silva – Contrarregra e Rádio Baré, Chiquinho – Contrabaixo – Rádio Baré, Fred (Flaviano Limonge) Rádio Baré, Rômulo Gomes – Diretor Artístico, Produtor e Rádio Ator – Rádio Difusora, entrega de prêmios pelo doutor Coqueiro Mendes a Cantora Maria de Lourdes – Rádio Baré, Almir Silva – Cantor Rádio Baré, Jorge Araújo – Cantor – Radio – Baré, Conjuntos Vocais – Rádio Difusora, Rosângela Fuentes – Cantora e Rádio Atriz – Rádio Baré, Lélia de Souza – Cantora – Rádio Baré, Los Caribes – Rádio Baré, Marivá Neide – Cantora – Rádio – Difusora, Maria Medina – Violinista – Rádio Difusora, José Eduardo – Locutor – Rádio Difusora e Genésio Bentes – Rádio – Ator e Rádio Baré.7

André Limonge. Rádio Difusora. Acervo do Autor.

Clovis Carvalho. Rádio Difusora. Acervo do Autor.

Roque de Souza. Rádio Baré. Acervo do Autor.

Fred. Locutor Esportivo. Rádio Baré. Acervo do Autor.

Josapha Pires. Rádio Baré. Acervo do Autor.

Ayrton Pinheiro. Rádio Baré. Acervo do Autor.

Danilo Silva. Rádio Baré. Acervo do Autor.

Belmiro Vianez. Rádio Baré. Acervo do Autor.

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista 

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