O primeiro programa infantil produzido pela Rede Amazônica: Titio Barbosa e Marília Barbosa

É através da arte que o artista mostra a grandeza do seu talento e acaba extravasando toda sua poderosa sensibilidade.

O talento aliado à sensibilidade no campo da teledramaturgia são as autênticas armas das quais se utilizava a jovem Marília Barbosa, naturalmente, sempre conduzida por seu pai, Titio Barbosa. Este, por sua vez, é nome reconhecidamente voltado para o teatro infantil.

Lea Regina, Sandra Marilia Tavares Barbosa, Jaqueline Brito, Yara Helena, Let[icia Benzi, Ana Cristina e Glaucia Soares. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Apaixonado pelo que faz, como tal, tem se comportado ao longo de sua luminosa e iluminada vida artística, não apenas no que se refere às manifestações da arte interpretação, mas também na produção dos seus textos impregnados de talento e amor à arte, onde as palavras se transformam em cores e imagens, penetrando nas emoções com inigualável inspiração no verde de nossa mata, na imensidão das águas dos nossos rios e, até mesmo, nas lendas dos nossos aborígenes e nas tradições do nosso povo, em especial ao público infantil, a quem ele tanto ama.

Com argúcia artística em seu texto, o que lhe é mais caro, cujo objetivo sempre foi a conquista do sorriso de uma criança.

A teledramaturgia infantil teve como primeira fonte o rádio, de onde saiu quase que integralmente sua habilidade. Daí para os palcos foi uma questão de tempo, apenas com as modificações estritamente necessárias, porque, afinal, havia também a necessidade de levarmos a imagem.

João Barbosa (Titio Barbosa). Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

A Rádio fornecia os profissionais que iram contribuir, como pioneiros, com suas participações com o novo veículo que acabara de chegar, a Rede Amazônica.

A Rede Amazônica começou a ser percebida como um veículo que se incorpora ao dia a dia da nossa cidade, uma espécie de companheira eletrônica, que procurava permanecer sempre perto do telespectador.

Foi neste contexto que Titio Barbosa foi convidado pelo diretor-presidente Dr. Phelippe Daou a integrar-se à família Rede Amazônica, ele, por sua vez, trouxe consigo seus filhos: Sandra Marília e Flávio Almério, que juntamente com Hélio Souto, chegaram a fazer mais de duzentos programas, cujo, título era O Mundo das Crianças, que era levado ao ar de segunda a sexta-feira, aos sábados, sua filha apresentava o programa ao vivo Viva Marília, o que, na época, já proporcionava uma expressiva audiência.

Marília Barbosa foi a primeira apresentadora de programa infantil na Rede Amazônica.

Sandra Marília Tavares Barbosa e João Barbosa (Titio Barbosa). Imagem feita no jardim da Rede Amazônica. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Um dos momentos mais sublimes de participação ocorreu na mininovela exibida pela Rede Amazônica, cujo, título era Sonho de Popi, que, na época, era dirigida por Rosivaldo Ferreira e era composta por quatro capítulos. Foram cameraman deste trabalho: Augusto Edson e Manoel Nazareno, o primeiro ainda faz parte do quadro de funcionário da emissora e o segundo fez parte até morrer.

Lamentavelmente, Marília Barbosa faleceu ainda jovem, no dia 3 de outubro de 1981, mas sua memória permanece viva na lembrança de todos que tiveram o prazer de assisti-la em suas apresentações.

Sandra Marília Tavares Barbosa, que fazia parte do programa “Viva Marília”, exibido na TV Amazonas aos sábado, às 16h.  Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Titio Barbosa levava para montar um espetáculo pelo menos seis meses de ensaio. O Primeiro passo após a escolha do texto era a venda dos ingressos oferecidos nas escolas públicas e particulares aí começava a via crucies, ele visitava todas as escolas de Manaus, de sala em sala, anunciando seu espetáculo, esclarecendo o que era o teatro e mostrando que o Teatro Amazonas não era só espaço de rico, mas, do povo simples também. Além dessa divulgação era enviado aos pais uma pequena carta sobre a peça e mostrando a vantagem de comprar o ingresso na escola que era vendido mais barato.

Avenida Eduardo Ribeiro de esquina com Sete de Setembro, Centro de Manaus, na década de 50.  Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Dessa maneira ele conseguia vender para cada espetáculo cerca de mil ingressos, cuja, receptividade estava nos bairros Alvorada, São Raimundo, Cachoeirinha e alguns colégios particulares como Dom Bosco e Auxiliadora. De certa forma, seu programa diário na Rede Amazônica era uma vitrine para venda de seus espetáculos. Titio Barbosa não ganhou dinheiro com o teatro, mas dizia que valia a pena fazer teatro infantil. Seu programa na Rede Amazônica marcou uma geração.  

Avenida Sete de Setembro de esquina com Lobo D’almada, na década de 50. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

 Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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