Sua atuação na abolição de escravatura do Amazonas foi de papel preponderante, tendo participado da Sociedade Emancipadora Amazonense
Natural de Portugal por um determinado período residiu em Belém do Pará, tendo exercido a profissão de alfaiate, casou-se com a professora Libânia Theodora Rodrigues, de nacionalidade paraense. Ao chegar em Manaus, logo procurou instalar sua alfaiataria, o que era comum naquela época e naturalmente obteve rápido sucesso.
Revelou em pouco tempo, ser um homem de larga visão e apurado tino para negociar, tendo montado uma indústria de roupas onde eram confeccionados blusões e calças de algodão, muito utilizado na época pelos seringueiros. Há quem afirme, que ele foi um dos pioneiros nessa indústria no Amazonas. Na verdade foram grandes os obstáculos para trazer a Manaus os equipamentos necessários para montar seu estabelecimento comercial.
Com essas atividades, Marçal Gonçalves Ferreira logo amealhou alguns recursos, com os quais foi adquirindo vários imóveis. Entre as propriedades adquiridas, consta uma bela residência no Centro de Manaus, onde residiu por um determinado tempo e um amplo terreno, cuja, área hoje corresponde ao trecho entre a Rua 10 de julho, 24 de Maio, Costa Azevedo até a confluência da Getúlio Vargas.
Desse poderio econômico, existe ainda um imóvel na Rua Costa Azevedo n° 278, onde residiu um dos netos do casal, José Marçal filho de dona Virgínia Ferreira Cabral dos Anjos, conhecida na intimidade como Nenê e de João Cabral Osório dos Anjos, este Comendador da Ordem de Cristo, destaca-se ainda José Marçal que presidiu a Bolsa de Valores do Amazonas e que era conhecido desportista em nossa cidade. Até a bem pouco tempo, seus descendentes ainda permaneciam morando no mesmo imóvel, que hoje faz parte do conjunto arquitetônico existente no Largo de São Sebastião.
[…] Vale a pena lembrar que ainda guardado pela família com todo cuidado, a planta do terreno denominado Vila Marçal. Foi no ano de 1906 após o senhor Marçal Gonçalves Ferreira a verem falecidos a grande globa de terra foi dividida em trinta e dois lotes distribuídos entre seus descendentes. Abrange até hoje quatro quadras e contem duas ruas, como era comum na época. Rua Marçal no sentido Costa Azevedo a Getúlio Vargas, que veio a ser também conhecida como Beco J. G. Araújo e Rua Dona Libânia, que inicia na Rua 10 de julho e finaliza na Rua 24 de Maio.
No centro urbano mesmo dois anos depois em que Marçal Gonçalves Ferreira chegara a Manaus, existiam apenas 243 casas, das quais 122 eram cobertas de palha, segundo relata o professor emérito Agnello Bittencourt em sua obra Fundação de Manaus – Pródomos e Sequência.
Ainda no mesmo livro, o inesquecível historiador transcreve informação de Lourenço da Silva Araújo e Amazonas, em seu Dicionário Topográfico, Histórico e Descritivo, da Comarca do Amazonas, publicado em Recife em 1852, pelo qual se tem notícia de somavam apenas 8.500 os habitantes, sendo 4.080 indígenas; e os demais eram brancos, mamelucos, mestiços e escravos. Registra-se que existe uma discrepância quanto a data deste documento, visto que, em seu livro Uma Introdução à Historia do Amazonas, o escritor Manuel Callado a severa ser de 1850, o mencionado dicionário.
* SILVA, Yomar Desterro. Uma Família Ferreira e o Amazonas. Manaus. Governo do Estado do Amazonas. Secretária de Estado da Cultura, 2007. Pág.28.
Outro fato que eu considero de fundamental importância e histórica é o registro da obra do professor Agnello Bittencourt com o título Chorographia do Estado do Amazonas, publicada em Manaus pela Tipografia Palácio Real, em maio de 1925. A Ata de instalação da Província do Amazonas, assinada por João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha, consta inúmeras assinaturas das pessoas daqueles que se fizeram presente, entre tantas estas destacamos a assinatura do português Marçal Gonçalves Ferreira, a 05 de setembro de 1850.
A criação da Beneficente Portuguesa
A história da criação da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente do Amazonas que teve a sua sessão preparatória às 11h do dia na casa do senhor Comendador Francisco de Souza Mesquita reuniram-se 70 portugueses residentes domiciliados em Manaus com o propósito da criação de um hospital que pudesse atender a demanda daquele período. Novamente encontramos o registro como fundador do sonhado hospital de Marçal Gonçalves Ferreira.
Não se atendo exclusivamente a sua atividade comercial Marçal Gonçalves Ferreira teve destacada posição na sociedade local e desempenhou permanente atividade na solidificação do hospital português. Cuja fundação ocorre no dia 31 de outubro de 1873. Marçal Gonçalves Ferreira já nesta oportunidade assumia a diretoria na função de mordomo, eleito com 21 votos.
Marçal Gonçalves Ferreira e a Primeira Loja Maçônica
Ainda registro especial merece ser destacado, sua presença na fundação da Grande Benemérita Loja Simbólica Esperança e Porvir nº1. Logo sendo eleito para o cargo de 1° Experto nesta Oficina Maçônica que acaba de completar 150 anos de fundação. Sua atuação na abolição de escravatura do Amazonas foi de papel preponderante, tendo participado da Sociedade Emancipadora Amazonense. Essa sociedade entre tantas outras foi a primeira a ter nascido com este objetivo, promover a libertação dos escravos, em equivoca demonstração de sua capacidade de fazer o bem.
Confira a Ata de Instalação da Província do Amazonas:
Chorographia do Estado do Amazonas, de Agnello Bittencourt. Palácio Real – Manáos, Maio de 1925. Fotos: Abrahim Baze/Acervo pessoal
Sobre o autor
Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.
*O conteúdo é de responsabilidade do colunista