Memória do Passado no Amazonas – J. A. Leite e Companhia

A empresa aviadora dos seringais no Amazonas que, entre tantas outras, marcou época no período áureo da borracha 
A empresa aviadora dos seringais no Amazonas que, entre tantas outras, marcou época no período áureo da borracha, frente para Rua Guilherme Moreira e os fundos para rua Marcilio Dias, onde havia o recebimento e beneficiamento dos produtos trazido do interior do estado, especialmente dos seringais, que eram posteriormente exportados e, cujo, prédio foi demolido.

A casa aviadora J. A. Leite e Companhia foi uma da mais antiga de Manaus, tendo sido fundada em 1884, ano em que o Amazonas aboliu definitivamente a escravidão negra. Foi seu principal fundador, o senhor Rodrigues de Magalhães, natural de Santo Tirço e que, mais tarde, foi vendida ao senhor José Antônio Loureiro, que posteriormente acrescentou seu sobrenome Leite, natural de Paçô, cidade bem próxima de Guimarães, berço da Monarquia e da nacionalidade portuguesa.

José Antônio Leite, sócio da firma J. A. Leite e Cia (Foto: Acervo/Abrahim Baze)

Coube ao senhor José Antônio Loureiro Leite a organização da empresa, trazendo para sociedade os senhores José Rodrigues de Magalhães, Abilio da Silva Sá e Antônio José de Almeida Leite Loureiro. 

Antônio José D’Almeida Leite Loureiro, sócio da firma J. A. Leite e Cia (Foto: Acervo/Abrahim Baze)

Em 1914, faleceu o sócio-fundador Antônio José Loureiro Leite em avançada idade deixando numerosa descendência inclusive alguns bisnetos todos de nacionalidade brasileira. 

Naquele período ainda corriam, ainda corria bons ventos embora já em decadência o principal produto exportado a borracha, a castanha, a sorva, a piaçaba e demais produtos regionais, fato que motivou seus sócios a continuarem no mesmo ramo de negócio. A empresa neste período, navegava os rios da Amazônia com sua frota própria de navios.

O tempo passa e o coração generoso de seus fundadores aliado aos interesses dos funcionários e auxilares levou a empresa a condução de novos sócios que reforçando  o caixa deram continuidade no empreendimento, eram eles, Ermindo Fernandes Barbosa, Francisco Fernandes Barbosa, Manuel Soares da Cunha, Armando Leopoldo Fernandes, Alberto Gomes da Costa Sanches, Antero Fernandes Barbosa, Paulo Severino de Rezende Machado, Edgard de Vasconcelos Pessoa, Afonso Castelo Branco Galvão, Eduardo Barbosa, Edith Barbosa, Mauricio Barbosa, Cunha, Huasca, José Gomes, Sanshes, Paulo Machado, Raul Gomes Filho e Milton César de Araújo Lima. Com este número expressivo de sócios a empresa tornou-se uma grande e afetuosa família.

Abílio da Silva e Sá, sócio da firma J. A. Leite e Cia (Foto: Acervo/Abrahim Baze)

Todo o interior do Amazonas inclusive o porto de Belém do Pará era atendido pela empresa J. A. Leite e Companhia que levava para os seringais os produtos de primeira necessidade e trazia borracha castanha, piaçaba, pirarucu salgado, pau-rosa e, outros produtos que eram conduzidos no interior dos estados do Acre, Rondônia e Roraima.

Essa empresa marcou uma época, como uma das mais extensas fornecedoras dos seringais da Amazônia, tendo nos anos de 1938 e 1939, exportado 1.297.760 e 1.337. 757 quilos de borracha. 

Joaquim José de Azevedo Macedo, ex-funcionário da firma J. A. Leite e Cia (Foto: Acervo/Abrahim Baze)

Lourenço da Silva Braga (Foto: Acervo/Abrahim Baze)

Joaquim José Macedo e seu irmão José Paulo Macedo (Foto: Acervo/Abrahim Baze)

Essa empresa que navegava os rios da Amazônia com sua frota própria de navios, marcou um período importante da vida econômica da cidade de Manaus, tendo sido proprietária dos seguintes navios: Republicano, Manauense, Ayapuá e a lancha Minas Gerais, possuindo ainda, outras embarcações que mantinham a navegação permanente nos rios Purus, Acre, Juruá e as cidade menores do Pará e Baixo Amazonas.

Vale a pena destacar que a empresa J. A. Leite e Companhia foi possuidora da primeira carta de navegação do Amazonas e entre os anos de 1967 e 1968, vendeu a titulação da carta de navegação a empresa Nissin Pazuelo. Foi um período importante da nossa história e de grande contribuição econômica para nosso estado.

(Foto: Acervo/Abrahim Baze)

O senhor José Loureiro Leite, morava na Praça do Congresso, esquina com a rua Ramos Ferreira e tinha um sítio na Vila Municipal onde passou a morar posteriormente, chamado Águas Verdes e que, mais tarde, foi vendido a empresa Santa Cláudia. A enorme quantidade de sócios, vem do tempo da compra da empresa, que para evitar idenizações, o senhor José Loureiro Leite, incorporou todos os antigos sócios e vários outros funcionários. E essa cultura pemaneceu na empresa.

A empresa abastecia todo interior do estado. Na ida os barcos levavam mantimentos, remédios, vestuário e combustível, além de outros materiais que eram necessários para manutenção e sobrevivencia nos seringais. No retorno a Manaus, traziam borracha, castanha, juta e malva, além de outros produtos. O combústivel para os barcos e para venda nos seringais, seguia atracado ao barco principal, à uma alvarenga que também levava a carga explosiva como pólvora. Nesta época a empresa chegou a ter  vinte e cinco barcos, entre eles os navios Ayapuá e Industrial, lanchas e motores que, viajavam para o Rio Juruá, até Cruzeiro do Sul, no Acre e afluentes do Rio Purus, até Sena Madureira.

(Foto: Acervo/Abrahim Baze)

Num período inteiramente da economia do latex a empresa ocupa uma posição singular. Muitos foram os nome daqueles homens e mulheres que por lá passaram, dentre eles Lourenço da Silva Braga, Joaquim José Azevedo de Macedo e tantos outros que foram capaz de divisar a trilha sinuosa dos rios da Amazônia que permitiria a Amazônia se destacar com a sua economia, foi realmente um período de riqueza para nossa região. 

O Trabalho e a Primeira Viagem de Lourenço da Silva Braga

“ … Duas horas antes da saída do navio, em companhia do amigo Paulo que se ofereceu para deixá-lo a bordo, conduzindo a gaiola, meu pai apresentou-se ao mestre Justino a quem lhe pediu permissão para levar o idolatrado pássaro, o mestre não permitiu como também o aconselhou a colocá-lo em seu camarote protegendo-o de um possivel acidente provocado por algum volume de carga que o navio ainda estava recebendo. 

Pontualmente às vinte horas, o “Timoneiro” deixou o Porto de Manaus conduzindo carga e passageiros para Porto Velho e portos intermediários, além de um intrépido jovem esperançoso de conquistar a sua independência financeira e econômica. 

Quem parte leva saudade no coração de quem fica chorando de dor, querendo partir também, sendo, portanto, diferente da alegria de um barco voltando, conduzindo dezenas de pessoas ansiosas pelo reencontro de seus entes queridos, incluindo os tripulantes, vítimas da saudade oriunda da separação familiar em cumprimento dos deveres profissionais, indispensável para viverem condignamente. 

Postou-se na polpa do navio para melhor vislumbrar  a cidade de Manaus que fica cada vez mais distante, recordando tudo quanto de bom e de ruim, aconteceu depois de haver chegado a Manaus, em companhia de seu saudoso pai. Absorto em seus pensamentos não percebeu que Manaus desaparecera de sua visão, sendo despertado pelo mestre convidando-o a acompanhá-lo até a proa para ser apresentando à tripualação do convés e de máquina, dos quais ia ser o seu taifeiro. Feito isto, sugeriu-lhe procurar o melhor para armar sua rede e a seu lado colocar a gaiola de seu pássaro, no que foi prontamente atendido e agradecido pelo jovem.”Pág. 25-26

BRAGA, Altamir. Paizão: A vida de Lourenço da Silva Braga. Depoimento. Altamir Braga. Manaus: Reggo; Nova Métrica, 2015.  

“Informações fornecidas pelo antigo funcionário de nacionalidade portuguesa Joaquim José de Azevedo Macedo, que trabalhou no escritório da empresa, no período de 1955 à 1957. Joaquim José de Azevedo Macedo é irmão do também português José Paulo Macedo.” 

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