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Sábado, 04 Mai 2024

Manoel Alexandre dos Santos: memória empresarial portuguesa no Amazonas

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Os portugueses e lusos descendentes na Amazônia tem uma longa e tradicional história. História e passado que não se limitam ao período colonial, quando aqui chegaram e encontraram a facilidade de falar a mesma língua, naturalmente com pronúncias diferenciadas, professando a fé católica, usos e costumes, tradições e tudo que trouxeram consigo na bagagem. Passado esse tempo que hoje é história, impõem-se uma revisão de tudo que aqui ocorreu. É importante se reconhecer as marcas da identidade e da contribuição deles para a economia regional imprimindo suas conquistas territoriais quer pelo processo de ocupação e miscigenação.

Nos tempos modernos, já no fim do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, nossos imigrantes portugueses aportaram em Belém e Manaus, naturalmente outros buscaram cidades do interior do estado, em busca da borracha. Não podemos deixar de citar que outras raças aqui aportaram, tais como franceses, ingleses, alemães, judeus e árabes.

[…] Durante o ciclo do ouro negro, as maiores lideranças, sem dúvida, eram a dos exportadores ingleses, alemães, franceses e especialmente portugueses, sobretudo, os ingleses, porque eram concessionários dos serviços públicos que dominavam o setor da infraestrutura de portos, transportes, água, luz, esgoto, telégrafo, telefone, bonde, navegação oceânica e bancos. Depois deles, no entanto, a participação portuguesa, foi a segunda e importância durante esse ciclo e na época da crise e depressão, concorrendo em importância como grupo cultural judeu que, desde 1810, vinha se transferindo para a Amazônia, partindo de Tetuam, Tanger e outras cidades marroquinas, após sua expulsão da Espanha 1492 e, posteriormente de Portugal 1496″.¹

Ramiro, Clemente, Ana, Zulmira e Manoel Alexandre dos Santos. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal


Esses novos contingentes de portugueses foram numerosos, por isso a sua influência se fez sentir mais de perto e com mais intensidade em todos os setores empresariais da Amazônia, pois, ao enriquecerem após um árduo e difícil período de muito trabalho e privações, conseguiram dominar não apenas os seguimentos do alto comércio de aviadores das comunidades das ruas, 15 de novembro, João Alfredo e Boulevard Castilho França, em Belém do Pará, como também em Manaus, ocupando os locais mais nobres e importantes das ruas, Marechal Deodoro, Guilherme Moreira, Marcílio Dias, Avenida Eduardo Ribeiro e 7 de Setembro.

A classe média do comércio português em Manaus foi bastante numerosa, pois dominavam os ramos de estivas e bebidas, secos e molhados, ferragens, materiais de construção, construtores e empreiteiros de obras, outros seguimentos, cujos, estabelecimentos se espalharam pelo centro histórico da cidade, nas avenidas Sete de Setembro, Eduardo Ribeiro, Marques de Santa Cruz, Rua dos Barés, Miranda Leão, Barão de São Domingos e Praça Tenteiro Aranha.

A indústria de panificação no Amazonas, tem evoluído de forma extraordinária, o pão nosso de cada dia, já é produzido em Supermercados e pequenas e grandes panificadoras, vale ressaltar que a grande maioria dos panificadores daquele período eram os portugueses e que aqui e ali ainda se encontra registro de um português neste setor industrial.

O nome que se notabilizou no comércio do Amazonas, através da panificação foi do imigrante português, Manoel Alexandre dos Santos, que nasceu no dia 7 de fevereiro de 1900, em Santa Maria de Lamas, Freguesia de Lourosa, uma pequena cidade que ficava a 15 quilômetros da cidade do Porto, em Portugal.
Era filho do senhor Álvaro Alexandre dos Santos e da senhora Anna Pereira de Jesus. Nascido de família tradicionalmente católica, logo dedicou-se na busca de uma formação religiosa, tornando-se seminarista. Neste seguimento escolhido teve um crescimento espetacular, tudo caminhava para formação de um religioso em sua família, porém, tendo nascido de família pobre se sendo o mais velho entre cinco irmãos, não lhe fora permitido a continuação dos estudos no seminário, de acordo com as leis portuguesas, por ter o mesmo que ajudar no sustento dos pais e dos irmãos menores.

O Brasil daquela época era promissor aos imigrantes, desta forma o jovem Manoel Alexandre dos Santos, no dia 8 de dezembro de 1925, kiodesembarcava no porto de Manaus, cheio de esperança e vigor para o trabalho, instalando-se em um prédio que naquela época era uma espécie de pensão, na esquina das ruas Getúlio Vargas com Leonardo Malcher, cujo, prédio encontra-se hoje em ruínas.

Vista da então Rua Barão de São Domingos com suas casas comerciais. Ao fundo, um dos pavilhões do Mercado Adolpho Lisboa, localizado na travessa Tabelião Lessa, no Centro de Manaus. Foto: Acervo Silvino Santos/Instituto Durango Duarte

Seu primeiro emprego em Manaus foi com o empresário Waldemar Pinheiro de Souza, que era agente da Amazon River, cuja, empresa mais tarde, fora nacionalizada passando a chamar-se Sinapp.

Transcorria o ano de 1936, a firma Simões & Cia, que tinga como nome de fantasia Padaria Brasil, instalada na Rua Barão de São Domingos, n. 61, nas proximidades do Mercado Adolpho Lisboa, cujo, sócio majoritário era o também empresário português Clemente Rodrigues Simões, que na época se retirava da cidade de Manaus, retornando a Portugal dando vez ao jovem Manoel Alexandre dos Santos, que desta forma, começa a sua vida empresarial, neste seguimento industrial.

Foram anos duros de muito trabalho, noites e madrugadas acordados, era assim a luta pela conquista de dias melhores. Porém, o jovem imigrante sentia muita saudade da pátria mãe, principalmente a ausência de sua família que ficara em Portugal.

O coração bate mais forte, era chegado o momento da construção de sua família, logo enamora-se da jovem que se torna sua esposa Zulmira Andrade Simões, que também era descendente de lusitanos, casaram-se logo em seguida. Fruto deste casamento nasceram os filhos: Ana, Clemente e Ramiro, que muito cedo passaram a ajudar os pais. Era comum encontrar sua esposa dona Zulmira tomando conta do caixa em tempo integral, sempre aproveitando pequenas folgas para produzir seu crochê. A família continuava a crescer, unida na fé em Nossa Senhora de Fátima e na vontade firme de crescer através do trabalho.

No velho casarão onde fora instalada a empresa, logo em seguida foi construído um prédio de 15 andares, tendo inclusive ampliado a fábrica em outro local, a fim de aumentar a produção de macarrão, biscoitos, bolachas e etc. Transcorria o ano de 1975, quando Manoel Alexandre dos Santos veio a falecer.

Membro efetivo das Comunidades Portuguesas em Manaus sua presença foi exemplo no Luso Sporting Club, onde fez parte da banda de música e tendo exercido vários cargos na diretoria do clube. Manoel Alexandre dos Santos, deixou Portugal com o coração oprimido de tristeza, porém, com espírito cheio de sonhos no Amazonas. Aqui encutinhai-lhe um forte sentimento de brasilidade pela pátria que os recebeu, muitas vezes, dando glória ao Amazonas. Seu valor e sua raça o levou a rasgar o Atlântico em busca da construção de dias melhores. Foi um português honrado, deixando um patrimônio moral como principal herança aos seus familiares.

*Informações cedidas por sua filha Ana Simões

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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