Manaus, o berço de nascimento de Samuel Isaac Benchimol

Samuel Isaac Benchimol nasceu em 13 de julho de 1923, filho de Isaac Israel Benchimol e Nina Siqueira Benchimol.

Samuel, Rafael, Alberto (no colo), Alice (sentada), Israel e Robine, Belém do Pará, 1932. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

A baía do Rio Negro era bem a vitrine do que significou o poderio do período do látex. Apesar de ser um período difícil para a economia do Estado do Amazonas, muitos navios de todos os tipos e calados permaneciam fundeados ao lado da baía do Rio Negro, cujo contato com a terra era ligado por dezenas de catraias remadas por portugueses da Póvoa de Varzim, que traziam e levavam passageiros e tripulantes desses barcos nacionais e internacionais, que aguardavam por suas cargas a serem transportadas para Nova York, Liverpool, Hamburgo e outras praças.

Mesmo com a queda vertiginosa do látex ainda mantínhamos a exportação de castanha, óleos vegetais, couros de animais silvestres e de mais produtos menores que eram trazidos do interior do Estado do Amazonas por navios a vapor, que há época foram denominados “gaiolas, chatinhas e vaticanos”.

Samuel Isaac Benchimol nasceu nesse período, a 13 de julho de 1923, filho de Isaac Israel Benchimol e Nina Siqueira Benchimol. Manaus, apesar da crise, oferecia aos visitantes e moradores ruas largas, cortadas por belos espaços e logradouros públicos, com bondes de tração elétrica, carroças com tração animal que cruzavam a cidade, pois, naquele período eram também uma forma de transporte de mercadorias, especialmente nas serrarias para o transporte de madeiras.

Se a arquitetura é o símbolo mais visível de uma sociedade, a fisionomia urbana de Manaus reflete bem o espírito da sociedade que aqui floresceu. Na verdade, a arquitetura de Manaus daquela época exprimia uma atitude emocional e estética do apogeu de um período do látex e da burguesia, enriquecida pelo processo produtivo.

“A Avenida Eduardo Ribeiro, uma espécie, na importância que possui, da Avenida Rio Branco dos Cariocas, resulta do aterro do Igarapé do Espirito Santo. Embora esse trabalho de soterramento, sobrevive em alguns igarapés que emprestam à Manaus um pouco do ambiente primitivo e muita cor local.”¹ Pág. 229

Cidade de Manaus na época da juventude de Samuel Isaac Benchimol. Foto: Divulgação

De uma aldeia dos indígenas Manaós, o antigo lugar da Barra se transformara num dos mais importantes centros do mundo tropical, graças à vitalidade econômica da Borracha, que lhe deu vida, riqueza e encantos, como na antiguidade o comércio intenso no Mediterrâneo e no Adriático possibilitou a Roma, Florença e Veneza papel preponderante na economia, nas artes, nas letras e na arquitetura da velha Europa.

Tal como Veneza, por meio de seu comércio de longo alcance com povos europeus e extras europeus, Manaus veio conhecer o gosto e a experiência de países extra americanos onde sua burguesia procurava inspirações de vida e de ação. O passeio de férias à Europa era ocorrência de rotina para a família de Manaus que, por sua vez, de lá traziam ideias e sugestões transformados em valores culturais, às vezes um tanto invulgar de uma sociedade desejosa de crescer e firmar-se como força civilizadora.

Samuel Isaac Benchimol protagonizou com seu nascimento a Manaus desse período, como descreve o autor Leandro Tocantins:

“Cidade de suaves colinas Manaus desdobrava-se em vistas múltiplas para quem a cruze nas avenidas e ruas de um lúcido urbanismo. E não deixa de impressionar a obra urbanizadora creditada ao governador Eduardo Ribeiro, a topografia da cidade, antes do governo dele, vislumbrava-se em cortes hidrográficos: era o igarapé do Salgado, o igarapé da Castelhana, o igarapé da Bica, o igarapé do Espírito Santo, o igarapé de Manaus, o igarapé da Cachoeirinha, o igarapé do São Raimundo, o igarapé dos Educandos, etc.”² Pág. 228

“A cidade rica, progressista e alegre, calçadas com granito e pedra de liós, trazidas de Portugal, sombreadas por frondosas mangueiras de praças e jardins bem cuidados, com belas fontes e monumentos, tinha todos os requisitos de uma grande urbe moderna: água encanada e telefonias; energia elétrica, rede de esgotos e bondes elétricos deslizando em linhas de aço espalhadas por toda a malha urbana e penetrando na floresta até os arredores mais distantes do Bairro de Flores. O seu porto flutuante, obra-prima de engenharia inglesa, construído a partir de 1900, o qual recebia navios de todos os calados e das mais diversas bandeiras.”³ Pág. 4

O movimentado centro comercial regurgitando de gente de todas as raças – nordestinos, ingleses, peruanos, franceses, israelenses, norte-africanos, norte-americanos, alemães, italianos, árabes e portugueses.

A Avenida Eduardo Ribeiro concentrava um número expressivo de casas comerciais. Nas proximidades do Mercado Municipal, ruas Marcílio Dias, Guilherme Moreira, Quintino Bocaiúva, Sete de Setembro, Henrique Martins, Praça XV de Novembro. Tudo o que o comércio internacional oferecia à época, poderia ser encontrado nesta longínqua cidade, plantada a milhares de quilômetros dos principais centros capitalistas.

Atividades comerciais bem constituídas abrigavam, no andar inferior, o comércio e, no andar superior a residência do proprietário, instalado próximo ao seu trabalho, era razão para uma dedicação de maior tempo ao trabalho o que ocorria normalmente das 7 às 21 horas.

Porto de Manaus, década de 1940. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Esse espaço residencial era o que predominava em nosso centro comercial. Mais afastadas como na Praça dos Remédios, ao longo da Joaquim Nabuco, Praça de São Sebastião, Sete de Setembro, Barroso, 24 de Maio, Saldanha Marinho e outras ruas circunvizinhas, dispunham-se as residências mais ricas, magníficos palacetes construídos no melhor estilo da época, assoalhos de acapú e pau-amarelo e pinho-de-riga, onde o sol vazava as janelas e vitrais europeus. As salas normalmente iluminadas de belíssimos lustres europeus, paredes e tetos decorados de pinturas em telas ou de afrescos.

Seus salões amplos exibiam luxuosíssimos móveis, porcelanas, cristais e pratarias  que permaneciam sempre abertos para receber visitas e festas de aniversários, banquetes e saraus, as diversões familiares da Belle époque.

Casas de alvenaria com porões habitáveis, com fachadas de painéis de azulejos europeus, com suas entradas de escadas em degraus de pedra de liós ou madeira, sala de visita, alcova, sala de jantar, o grande corredor ladeado de dois ou três quartos, cozinha e demais dependências.

As famílias de menores recursos habitavam as extensas vilas de casas populares, o que ainda encontramos hoje nas ruas 24 de maio, Lauro Cavalcante e Joaquim Nabuco e, as chamadas estâncias, extensas construções de meia-água, divididas em pequenos quartos para aluguel, entre os hotéis destacavam-se: o Cacina, na Praça Dom Pedro II e, o Grand Hotel, na rua municipal número 70, belíssimo edifício de dois andares, com quarenta e dois quartos, cujos cômodos eram caprichosamente mobiliados.

Samuel Isaac Benchimol estudou as primeiras letras de alfabetização na Escola Tobias Barreto, na cidade de Porto Velho em 1928. Mais tarde, fez o curso primário no Colégio Progresso Paraense em Belém do Pará entre 1929 e 1932. O retorno da família Benchimol de Belém do Pará para Manaus, apesar das agruras, foi feita de sonho e muito trabalho. Esse esforço foi, sobretudo, de esperança. A cada pesquisa da vida do intelectual professor Samuel Isaac Benchimol é extremamente necessário da voz a esse personagem que em várias áreas contribuiu no desenvolvimento de nossa região.

Navio Júpiter. Construído em 1899, por Mardock e Murray, número 68 com capacidade de 327 toneladas, para a empresa Antônio Cruz e Cia., primeiro registro em Belém do Pará. Em 1914 foi vendido para a empresa J.G. Araújo e em 1950 foi vendido novamente para a empresa A. Pimenta e Cia., de Belém. Possuía dupla hélice 140x30x9 pés. Neste navio a família Benchimol fez a viagem de volta de Belém para Manaus. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Sua mãe ainda lá no seringal no Rio Abunã, já preocupava-se com esse aspecto peculiar da busca do estudo de seus filhos, como ocorre até os dias atuais com seus descendentes. Essa história não foi um diálogo emudecido pelo tempo, pelo contrário, construíram pelo saber um caminho para a sobrevivência e para as conquistas de que foram e são merecedoras.

Os mitos permanecem no ar, sobrevoando a vida das pessoas. Ancorado na busca do estudo para seus filhos e no trabalho do velho guarda – livros que chegava a Manaus cheio de sonhos por dias melhores. Definitivamente o jovem Samuel Isaac Benchimol, puro e feliz antevia, já na chegada a Manaus, que não fora em vão toda a vontade de estudar, fato que sempre foi presente na sua vida como estudante.

As dificuldades no Seringal e o retorno de Belém do Pará 

Quando Samuel Isaac Benchimol nasceu, sua família tinha bens. Seu pai empresário, aviador de estivas e seringalista, cujos seus estabelecimentos estavam ligados na fronteira do sudoeste amazônico, precisamente no rio Abunã, próximos a Rondônia e o Estado do Acre.

Na primeira década de 1926, Samuel Isaac Benchimol tinha apenas três anos de idade e não podia compreender o momento definitivo do ciclo do látex, que já vinha declinando desde 1913. Foi um período difícil, as dificuldades financeiras movidas por esta economia regional que levaram seu pai a tomar a decisão de se instalar nos rios Madeira e Guaporé e muito mais além, nos inúmeros subafluentes do rio Abunã, Rapiran e Xapiran. Naturalmente se fez acompanhar de toda sua prole, inclusive sua irmã Robine, esta recém-nascida. Era a tentativa de buscar novas economias para soerguer economicamente.

Vista a partir do porto da cidade de Manaus, década de 1930. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Foi um dos períodos mais difíceis na vida da família Benchimol, anos de pobreza, de miséria e doença. Este momento marcou para todos da família, a penúria que vivenciaram. Seus dois filhos Rafael e Alice, tiveram como berço de nascimento este seringal.

Depois de algum tempo a família já residindo em Belém do Pará, foi quando estimulado pelo seu tio José, irmão de sua mãe, a família resolveu transferir-se para Manaus, pois Belém do Pará não havia oferecido emprego e dignidade ao seu pai, como nos fala Samuel Isaac Benchimol no texto a seguir:

“Poucos meses depois singrava, docemente, as águas do majestoso amazonas “júpiter”, gaiola que levou aproximadamente doze dias de viagem de Belém à Manaus. Dentro, uma multidão se acotovelava numa balbúrdia nunca vista. Lá também se encontravam minha mãe e seus filhos, agora a prole crescia de mais um, o Alberto, que nasceu no dia 26 de abril de 1932, em Belém, como recordação de nossa estada na capital guajarina; só meu irmão Rafael ficara em Belém, devido a seus exames no ginásio Paes de Carvalho não terem terminado. Habituei-me, desde logo a entrar em contato com a “selva selvagem” e “admirá-la, e quem assim não faria diante de uma paisagem que se apresentavam repentinamente e logo desaparecem! Também aprendi a amar a natureza, o habitante das vilas e lugarejos onde vegetam famílias sem ar, sem educação, sem saúde e sem … vida.

E o nosso gaiola, indiferente, rasgava a massa líquida, apitando, vivamente, dando como que os últimos estertores daquela verdadeira odisseia, digna de ser escrita e cantada pelos nossos vates.

Eis que surge, envolta em bruma densa, um ponto que os passageiros afirmavam ser Manaus. Eu, de minha parte, continuava extasiado, tal foi a impressão que me causou a união das águas do Amazonas e do Rio Negro. A baía do rio Negro era, sem favor, um dos mais lindos panoramas que a natureza fez colocar nas portas da “Princesa das Selvas”.

Manaus é como uma pérola perdida no meio da floresta, o passageiro que está acostumado ao fastidioso e cansativo panorama verde senti-me emocionado ao encontrar uma cidade tão lindamente traçada, com suas avenidas e praças bem iluminadas, com seus edifícios públicos e particulares tão harmoniosos.

Aportamos depois de preenchidas as formalidades legais da saúde do porto. O término da viagem foi um alívio para minha mãe, pois foi bastante maçante, pois, além disso, as preocupações que enchiam o seu cérebro, pensando na futura educação de seus filhos agora em número de seis e nos meios para a subsistência. Mas Deus ajuda àqueles que têm vontade de trabalhar, e o nosso pai começou novamente a erguer sua vida, depois das esperanças do “ouro negro” lhe terem desvanecido. As dificuldades tendiam a aumentar, pois em Manaus nasceram mais dois irmãos: o Saul e o Benjamin. Éramos oito bocas. Foi uma luta em que só os fortes resistem, só com um ideal superior, elevado, é que se consegue transpor essa situação. Como guarda-livros da praça ele trabalhava o dia todo, e como este fosse pouco entrava pela noite. Que belo exemplar de um pai de família, consciente de suas responsabilidades! Que abnegação para dar dias mais felizes ao lar que soube inteligentemente criar!

Aportamos em Manaus no dia 11 de novembro de 1933. Uma das primeiras preocupações de minha mãe foi matricular-me no curso de admissão juntamente com meu irmão Israel, este para a Escola de Comércio e eu para o ginásio. Fiz o curso de admissão com o professor José Chevalier, na rua doutor Moreira, canto com a rua Quintino Bocaiúva, rua em que nasci.

Novas perspectivas, novos horizontes se abriram aos meus olhos, novas responsabilidades teria de alçar, mas isso nada significava para quem tem vontade de lutar. Sempre fiel ao dilema de Shakespeare quando afirmava “To be or not to be”, lancei-me de corpo e alma ao estudo, ao contato cotidiano dos livros, meus eternos companheiros, os “amicus magis necessarius quan igni et acquar”. Depois de um ano de estudo aprofundado conseguir lograr a primeira colocação entre meus colegas, mas também pude observar o desleixo que a mocidade tem pelo estudo gastando inutilmente, o esforço de seus pais. Assim pensei, pois de uma turma de quarenta e sete passaram dez doze, e todos nós, inclusive eu, tivemos que fazer exame de segunda época, de matemática, com o professor Monteiro de Souza.

Alguns colegas que guardo eterna recordação: Arthur César Meireles Pacu, José Yvan de Hugo e Silva, Raimundo Said, Lígia Bivar. Lígia Montenegro, José Glicério de Souza Salignac e Milton Montenegro. Estes colegas me acompanharam no tirocínio que durante um lustro fizeram percorrer os bancos ginasianos. Depois, outros colegas vieram engrossar as nossas fileiras: os irmãos Simpson (Pedro e Paulo), Erika Zarmanduch Kramer Rumian, Dorval Melo, Caio Góis, Mauricio Araújo, Miguel Ferrante (o acreano), Eduardo Bulcão, Salomão Assayag e Plínio Coelho. Eram nossos professores: Carlos Mesquita (inglês), Ricardo Amorim (História, o Buda), Agnelo Bittencourt (Geografia), Coriolano Durand (Francês), Vivaldo Lima (Química), Paulo Rezende (Francês), Conte Teles de Souza (Física) Manoel Bastos Lira (Quimica), Monteiro de Souza (Matematica), Pedro Silvestre a Silva (Desenho), Fuet Paulo Mourão (Matemática), Ney Rayol (Quimica), Martins Santana (Português). Pe. Manoel Monteiro (latim), Maria Luíza Sabóia (Francês), Maria Augusta de Alcântara Bacelar (música) Aurora Moraes Rego (História Natural).

Guardo ainda, suaves recordações de meus colegas, os quais a maioria foi estudar no sul e outros abandonaram e ainda, uma parte reduzida me acompanhou no tirocínio acadêmico. Agnelo Uchôa Bittencourt, Wilson Zuany, Alexandre Pimenta, Francisco Alves dos Santos (o filósofo), Silvério José Nery e Arthur Pacú”.¹ Pág. 63

José Chevalier Carneiro de Almeida.

Era grande a sua ansiedade para ingressar no velho Ginásio Amazonense Pedro II, atual Colégio Estadual do Amazonas. Samuel Isaac Benchimol foi matriculado no Instituto Universitário Amazonense de propriedade do professor José Chevalier em 1933, para fazer sua preparação ao exame de admissão. Felizmente foi aprovado com a média de 55. Num desenho de rara beleza a história continuaria marcar o traço vitorioso do jovem Samuel, era o início do futuro promissor.

Fez o curso secundário no Ginásio Amazonense Pedro II, entre 1933 à 1938. Mais tarde, fez o curso Pré-jurídico no Colégio Dom Bosco, entre 1939 à 1940. Formou-se em Contador pela Escola Técnica de Comércio “Solon de Lucena”, entre 1937 à 1940. Fez o curso de Preparação de Oficiais de Reserva (NPOR), com estágio no antigo 27° BC, como Aspirante a Oficial, 2° Tenente R-2, entre 1944 à 1945. Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Amazonas, entre 1941 à 1945. Curso de Pós-Graduação, stricto sensu, em nível de Mestrado em Sociologia (major) e economia (minor), em Miami University, Oxford, Ohio, USA, entre 1946 à 1947. Doutor em Direito pela Faculdade de Direito do Amazonas, concurso público em 1954.

Atividades no magistério e outras funções

Despachante de bagagens e passageiros da Panair do Brasil, 1940 a 1943; propagandista e pracista do laboratório farmacêutico Sharp & Dohme, em 1942; professor de geografia e história do Curso de Admissão da Escola Primária Professor Vicente Blanco, 1941; professor de economia e história do Brasil, na Escola Técnica de Comércio Sólon de Lucena, 1943 à 1946; professor substituto da cadeira de Introdução à Ciência do Direito, 1946; professor de Sociologia, na Escola de Enfermagem do Amazonas, 1948 à 1949; membro da Ordem dos Advogados do Brasil, secção Amazonas, 1946; vice-presidente do Banco do Estado do Amazonas, 1957 à 1962; diretor da Copam (Refinaria de Petróleo de Manaus) 1962 à 1968; diretor da Associação Comercial do Amazonas, 1945 à 2002.

O professor Samuel Isaac Benchimol nasceu em 13 de julho de 1923 e faleceu em 5 de julho de 2002, em Manaus.

BAZE, Abrahim. Luso Sporting Club – A Sociedade Portuguesa no Amazonas. Manaus. Editora Valer, 2007.³ Pág. 4

BENCHIMOL, Samuel. Amazônia: um pouco-antes e além-depois. 2.ª ed. revisada. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2010. ¹ Pág. 63

TOCANTINS, Leandro. O Rio Comanda a vida – Uma interpretação da Amazônia. Editora Valer/Edições do Governo do Estado, 2000. ¹ Pág. 229, ² 228.

Instituto Universitário Amazonense, de propriedade do professor José Chevalier, 1933. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Escola Tobias Barreto em Rondônia 

Não só o Município como a Estrada de Ferro Madeira Mamoré, tinham preocupações com a instrução dos habitantes desta área.

O Superintendente Municipal, Major Fernando Guapindaia de Souza Brejense, pouco depois de instalado, o município, com a Lei n° 5, de 1° de março de 1915, criava e instalava a primeira escola pública municipal. Frequentada, inicialmente, por poucos alunos, ao fim do período letivo já apresentava uma frequência média diária de 40 alunos. Nomeou a Professora Teivelinda Guapindaia, sua filha, para a direção da Escola, que funcionou durante algum tempo, em parte do edifício onde está atualmente instalada a Panificação Resky. Essa primeira Escola foi o sêmen da atual estrutura de ensino, a exemplo dos majestosos Grupos Escolares “Antônio Ferreira da Silva”, inaugurado em 12 de outubro de 1971, quando Prefeito do Município o advogado Odacir Soares Rodrigues e o “Padre Chiquinho”, inaugurado em 19 de outubro de 1973, quando Prefeito o médico Jacó de Freitas Atallah.

Antes do Grupos Escolares “Antônio Ferreira da Silva” e “Pe, Chiquinho”, só houve em funcionamento, por conta da municipalidade, uma escola. A tarefa do ensino esteve sempre a cargo do Estado do Amazonas, da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, depois de 10 de julho de 1931 e, do Governo do Território, depois de 29 de janeiro de 1944.

Paralelamente ao esforço da administração municipal juntava-se a colaboração da Madeira Mamoré, criando uma escola, restringindo as matrículas apenas aos filhos dos seus empregados. Funcionou nos baixos de uma casa de madeira, chamada Fiscalização, situada na Avenida Farkhuar, onde é atualmente o Mercado Central. Sua direção foi entregue ao emérito mestre português, Professor Hietor de Figueiredo.

Em frente ao Cemitério dos Inocentes, num ponto chamado Céu, existiu uma escola de primeiras letras denominadas “Marcílio Dias”, sob a direção do mestre José Manuel Machado, mais conhecido por Professor Zé Manél.

Essa Escola era o pavor da meninada daquela época. Os castigos que o Professor infligia aos alunos eram severos e variavam desde o ajoelhar-se sobre coroços de chumbo a uma quantidade de bolos dados com uma palmatória de maçaranduba com cinco furos no centro formando o Cruzeiro do Sul.

Ai de quem tentasse escapar da crueldade do Professor José Manuel. O castigo que recebia seria dobrado. Além do Professor proceder dessa maneira, contava com a conivência dos pais e responsáveis pelos alunos.

Causa admiração porque daquela escola saíram pessoas cujo tratamento deixava muito a desejar mas não se conhece ter saído alguém que se transformasse em marginal.

Antes da instalação da Missão Salesiana quem maior colaboração prestou à instrução neste Município foi a iniciativa particular. As Escolas Municipais tiveram pouca duração e, as do Estado do Amazonas sempre apresentavam alguma deficiência. Ora faltavam professores que não eram nomeados, ora porque o atraso do pagamento de seus vencimentos os forçava a empregar suas atividades em outros setores e a viajar constantemente a Manaus. Assim, os pais que tinham filhos a instruir, procuravam as escolas particulares que nem sempre eram pagas, como o Externato Gratuito “Tobias Barreto”, dirigido pelo Juiz Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro e que contava em seu corpo docente com abnegados mestres, entre eles o Promotor Armando de Queiroz Teixeira, os Engenheiros da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, Gustavo Adolfo Corrêa da Cunha e Francisco Alves Erse, Pe Dr. Antônio Carlos Peixoto, Professores Protássio Independente Ribeiro da Silva e Leontina Santos, Maestro Raul Andrade e o Sargento Engenheiro Civil Edson Mason Jackson. Essa funcionou no salão de bailes do Clube Internacional, um casarão de madeira, situado onde é atualmente a sede do Ferroviário Athlético Clube. Não aceitava mais de 50 alunos de ambos sexos, mas restringia-se a só aceitar filhos das autoridades daquela época. (Biografia do Diretor).

MENEZES, Esron Penha de. Instrução em Porto Velho. In: MENEZES, Eron Penha de. Retalhos para a história de Rondônia. Manaus: Imprensa Oficial do Estado do Amazonas, 1980. Pág. 194-197.

*Pesquisa realizada pelo Professor Doutor Dante Ribeiro Fonseca, Professor de História da Universidade Federal de Rondônia.

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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