Mesmo com a queda vertiginosa do látex ainda mantínhamos a exportação de castanha, óleos vegetais, couros de animais silvestres e de mais produtos menores que eram trazidos do interior do Estado do Amazonas por navios a vapor que há época foram denominados “gaiolas, chatinhas e vaticanos”.
Samuel Isaac Benchimol, nasceu nesse período à treze de julho de 1923, filho de Isaac Israel Benchimol e Nina Siqueira Benchimol. Manaus apesar da crise oferecia aos visitantes e moradores ruas largas, cortadas por belos espaços e logradouros públicos, com bondes de tração elétrica, carroças com tração animal que cruzavam a cidade, pois naquele período eram também uma forma de transporte de mercadorias, especialmente nas serrarias para o transporte de madeiras.
Se a arquitetura é o símbolo mais visível de uma sociedade, a fisionomia urbana de Manaus reflete bem o espírito da sociedade que aqui floresceu. Na verdade, a arquitetura de Manaus daquela época exprimia uma atitude emocional e estética do apogeu de um período do látex e da burguesia enriquecida pelo processo produtivo.
A cidade, que despertou admiração de tantos estrangeiros imigrantes ou visitantes, nas primeiras décadas de 1900, surgiu como por encantamento. De uma aldeia dos índios Manaós, o antigo lugar da Barra, se transformara num dos mais importantes centros do mundo tropical, graças à vitalidade econômica da Borracha, que lhe deu vida, riqueza e encantos, como na antiguidade o comércio intenso no Mediterrâneo e no Adriático possibilitou a Roma, Florença e Veneza papel preponderante na economia, nas artes, nas letras e na arquitetura da velha Europa.
Tal como Veneza, por meio de seu comércio de longo alcance com povos europeus e extras europeus, Manaus veio conhecer o gosto e a experiência de países extra americanos onde sua burguesia procurava inspirações de vida e de ação.
O passeio de férias à Europa era ocorrência de rotina para a família de Manaus que, por sua vez, de lá traziam ideias e sugestões transformados em valores culturais, às vezes um tanto invulgar de uma sociedade desejosa de crescer e firmar-se como força civilizadora.
Samuel Isaac Benchimol protagonizou com seu nascimento a Manaus desse período. Cidade de suaves colinas Manaus desdobrava-se em vistas múltiplas para quem a cruze nas avenidas e ruas de um lúcido urbanismo. E não deixa de impressionar a obra urbanizadora creditada ao governador Eduardo Ribeiro, a topografia da cidade, antes do governo dele, vislumbrava-se em cortes hidrográficos: era o igarapé do Salgado, o igarapé da Castelhana, o igarapé da Bica, o igarapé do Espírito Santo, o igarapé de Manaus, o igarapé da Cachoeirinha, o igarapé do São Raimundo, o igarapé dos Educandos, etc.
“Eduardo Ribeiro aterrou os caudais em benefícios de um urbanismo funcional, que lutou contra a natureza até fazer secar os pequenos curso d’água, transformados em amplas avenidas”.
”Avenida Eduardo Ribeiro com a sua imponência, resultado do aterro do igarapé do Espírito Santo. Outros tantos igarapés atravessados por sólidas pontes de ferro, em disposições geométricas artisticamente apresentadas. O Teatro Amazonas erigido no topo de uma colina, como se fosse a Acropóle dos Deuses da Floresta, marca a capital no espaço e no tempo, inaugurado em 1896″.²²
A cidade rica, progressista e alegre, calçadas com granito e pedra de liós, trazidas de Portugal, sombreadas por frondosas mangueiras, e de praças e jardins bem cuidados, com belas fontes e monumentos, tinha todos os requisitos de uma grande urbe moderna: água encanada e telefonias; enérgia elétrica, rede de esgotos e bondes elétricos deslizando em linhas de aço espalhadas por toda a malha urbana e penetrando na floresta até os arredores mais distantes do Bairro de Flores. O seu porto flutuante, obra-prima de engenharia inglesa, construído à partir de 1900.
O movimentado centro comercial regurgitando de gente de todas as raças – nordestinos, ingleses, peruanos, franceses, judeus, norte-africanos, norte-americanos, alemães, italianos, árabes e portugueses.
“A Avenida Eduardo Ribeiro concentrava um número expressivo de casas comerciais. Nas proximidades do Mercado Municipal, ruas Marcílio Dias, Guilherme Moreira, Quintino Bocaiúva, Sete de Setembro, Henrique Martins, Praça XV de Novembro. Tudo o que comércio internacional oferecia à época poderia ser encontrado nesta longínqua cidade, plantada a milhares de quilômetros dos principais centros capitalistas”. ²³
Atividades comerciais bem constituídas abrigavam, no andar inferior, o comércio, e no andar superior a residência do proprietário, instalado próximo ao seu trabalho, era razão para uma dedicação de maior tempo ao trabalho o que ocorria normalmente das 7 às 21 horas.
Esse espaço residencial era o que predominava em nosso centro comercial. Mais afastadas como na Praça dos Remédios, ao longo da Joaquim Nabuco, Praça de São Sebastião, Sete de Setembro, Barroso, 24 de Maio, Saldanha Marinho, e outras ruas circunvizinhas, dispunham-se as residências mais ricas, magníficos palacetes construídos no melhor estilo da época, assoalhos de acapú e pau-amarelo e pinho de riga, onde o sol vazava as janelas e vitrais europeus. As salas normalmente iluminadas de belíssimos lustres europeus, paredes e tetos decorados de pinturas em telas ou de afrescos.
Seus salões amplos exibiam luxuosíssimos móveis, porcelanas, cristais e pratarias e, que permaneciam sempre abertos para receber visitas e festas de aniversários, banquetes e saraus, as diversões familiares da belle époque.
Casas de alvenaria com porões habitáveis, com fachadas de painéis de azulejos europeus, com suas entradas de escadas em degraus de pedra de liós ou madeira, sala de visita, alcova, sala de jantar, o grande corredor ladeado de dois ou três quartos, cozinha e demais dependência.
As famílias de menores recursos habitavam as extensas vilas de casas populares, o que ainda encontramos hoje nas ruas 24 de maio, Lauro Cavalcante e Joaquim Nabuco, e as chamada estâncias, extensas construções de meia-água, divididas em pequenos quartos para aluguel, entre os hotéis destacavam-se: o Cacina, na Praça Dom Pedro II e, o Grand Hotel, na rua municipal número 70, belíssimo edifício de dois andares, com quarenta e dois quartos, cujos cômodos eram caprichosamente mobiliados.
Samuel Isaac Benchimol estudou as primeiras letras de alfabetização na Escola Tobias Barreto, na cidade de Porto Velho em 1928. Mais tarde, fez o curso primário no Colégio Progresso Paraense em Belém do Pará entre 1929 e 1932. Já em Manaus fez o curso de admissão no Instituto Universitário Amazonense, de propriedade do professor José Chevalier, em 1933.
Fez o curso secundário no Ginásio Amazonense Pedro II, atual Colégio Estadual do Amazonas, entre 1933 à 1938. Mais tarde, fez o curso Pré-Jurídico no Colégio Dom Bosco, entre 1939 à 1940. Formou-se em Contador pela Escola Técnica de Comércio “Solon de Lucena”, entre 1937 a 1940.
Fez o curso de Preparação de Oficiais de Reserva (NPOR), com estágio no antigo 27° BC, como Aspirante a Oficial, 2° Tenente R-2, entre 1944 a 1945. Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Amazonas, entre 1941 à 1945. Curso de Pós-Graduação, stricto sensu, em nível de Mestrado em Sociologia (major) e economia (minor), em Miami University, Oxford, Ohio, USA, entre 1946 a 1947. Doutor em Direito pela Faculdade de Direito do Amazonas, concurso público em 1954.
Atividades no magistério e outras funções:
Despachante de bagagens e passageiros da Panair do Brasil, 1940 a 1943; propagandista e pracista do laboratório farmacêutico Sharp & Dohme, em 1942; professor de geografia e história do curso de Admissão da Escola Primária Professor Vicente Blanco, 1941; professor de economia e história do Brasil, na Escola Técnica de Comércio Sólon de Lucena, 1943 a 1946; professor substituto da cadeira de Introdução à Ciência do Direito, 1946; professor de Sociologia, na Escola de Enfermagem do Amazonas, 1948 a 1949; membro da Ordem dos Advogados do Brasil, secção Amazonas, 1946; vice-presidente do Banco do Estado do Amazonas, 1957 a 1962; diretor da Copam (Refinaria de Petróleo de Manaus) 1962 a 1968; diretor da Associação Comercial do Amazonas, 1945 a 2002.
22 TOCANTINS, Leandro. O Rio Comanda a vida-Uma interpretação da Amazônia. Editora