Jornalista Phelippe Daou – O homem e a árvore

Grupo Rede Amazônica a caminho dos cinquenta anos

Neste gesto simples, que talvez pareça sem grande sentido para alguns, fora entregue a mãe natureza a grande responsabilidade de alimentá-la e fortalecê-la e, talvez, também, nos ensinar a força da beleza e da bondade, demonstrando-nos que o amor entre os seres humanos ainda é possível.

O tempo passou, quero dizer, passou, mas, a árvore ficou para continuar silenciosamente a lembrar o homem e a árvore, um gesto simbólico de quase meio século atrás.

É o progresso. É natural que certas coisas desapareçam, porém, a árvore permanece ali. Quero referir-me à palavra fraternidade e seus efeitos e dizer que é a natureza que ensina os homens a serem fraternais, a serem grandes, a serem principalmente nobres. É a própria terra que nos leva a refletir aquele gesto de plantar uma árvore. Lá está o ensinamento aos homens, ainda que sejam de raças e crenças diferentes, ensinando-nos que poderemos ser um só coração, uma só unidade, como se fossemos todos da mesma família.

Jornalista Phelippe Daou. Foto: Acervo Abrahim Baze

Nós volvemos à nossa vista para a árvore e a encontramos como exemplo de fraternidade, de permanência na mãe natureza. Contornando-a, é que notamos que aquele arbusto pode penetrar de forma profunda com suas raízes, desabrochando os seus ramos para constituir-se toda em uma só umbela, uma só camada que, às vezes, mal deixa generosamente a penetração dos raios solares da nossa Amazônia.

Foi assim, que, no dia 27 de outubro de 1972, um homem, marcou sua visita a Rádio TV do Amazonas, na sua antiga sede no bairro de Cachoeirinha. Este homem era sua excelência o Ministro das Comunicações Hygino Caetano Corsetti. A árvore escolhida a propósito era de sua região, um pinheiro. Ela simbolizou a um só tempo, a união fraterna e amiga do extremo norte com o extremo sul do Brasil.

Este homem é lembrado assim: Ontem como Ministro, hoje como cidadão e amigo. O tempo passou, porém, a árvore está no mesmo lugar. Ao seu pé registra-se, de forma solene, uma placa de prata que marca a Amazônia na integração nacional, através das telecomunicações. Registra a placa e a árvore, o dia memorável em que Manaus integrou-se com todo o Brasil, através da Embratel. Por isso, este dia ficou marcado na história das telecomunicações na presença do homem e da árvore.

Hygino Caetano Corsetti foi Ministro das Comunicações no Governo Emílio Garrastazu Médici, de 30 de outubro de 1969 à 15 de março de 1974. Era oficial do Exército e Engenheiro, tendo feito carreira nas comunicações, cujo desenvolvimento, levou a separá-la como uma nova arma. Graças à sólida formação técnica, no Brasil e no exterior, foi o primeiro comandante do Curso de Comunicações da AMAN (Resende, Rio de Janeiro), em 1960 e também da Escola de Comunicações do Exército Brasileiro, no Rio de Janeiro, que hoje leva seu nome.  

Ministro Hygino Caetano Corsetti. Foto: reprodução/internet

Como Ministro teve a seu comando a implementação das redes de comunicações, que integraram o Brasil, primeiro em micro-ondas e depois via satélite. Um esforço da nação significativo que demandara a criação de uma nova empresa, a Embratel, em 1965.

Nesse período foi criada uma realidade inovadora, vista hoje das transações bancárias, a ligação DDD, passando pelas redes nacionais de rádio e tv. Um dos grandes eventos, das telecomunicações na sua gestão foi o início das transmissões em cores, em fevereiro de 1972, com transmissão da Festa da Uva daquele ano, com a presença do Presidente da República.

Nasceu em 26 de fevereiro de 1919, em Caxias do Sul, faleceu à 25 de abril de 2004, no Rio de Janeiro.

Discurso proferido pelo Jornalista Phelippe Daou nesta ocasião, em 27 de outubro de 1972 

Senhor Ministro Hygino Caetano Corsetti, queremos marcar, indelevelmente, a sua visita à TV Amazonas, canal 5, com o plantio de um pinheiro à volta do qual, quando estiver adulto, festejaremos em datas natalinas com os nossos familiares.

Árvore da sua região, ela simbolizará, a um só tempo, a união fraterna e afetiva do extremo norte com o extremo sul e de resto com todo o Brasil e, a presença permanente, viva, de Vossa Excelência nesta capital, nesta casa e neste dia, em que por seu intermédio e em nome dos novos tempos instalados a partir de 1964 se rompe definitivamente, a cortina de silêncio que envolvia a Amazônia Ocidental e a marginalizava do desenvolvimento brasileiro.

Sempre lembraremos assim Vossa Excelência, hoje, como Ministro, amanhã, como simples cidadão que pugnou, denodadamente e, com a maior satisfação, pela integração da Amazônia ao contexto nacional, através das telecomunicações.

Esta placa de prata que será colocada quando o tronco do pinheiro o permitir proclamará esta eloquente verdade:

Esta árvore foi plantada pelo Ministro Hygino Caetano Corsetti, das Comunicações, no dia em que ligou Manaus a todo o Brasil pela Embratel. Manaus, 27 de outubro de 1972. 

Árvore plantada pelo Ministro Hygino Corsetti e Phelippe Daou. Foto: Acervo Abrahim Baze

Quanto a nossa estação, temos a dizer-lhe apenas o seguinte: é uma pequena estação em cores, mais ideal que a empresa, toda nova, fabricada para gerar cores, instalada nestes confins para admiração de uns e surpresa de muitos, constitui a nossa humilde contribuição ao chamamento para a implantação da era das cores no Brasil; representa a nossa confiança inabalável nos destinos do Amazonas e da Amazônia e a nossa pequena participação no esforço hercúleo do Governo Federal, para ocupar e desenvolver este novo Brasil.

Sinta-se em casa, Ministro Corsetti. É uma honra e um prazer enorme tê-lo conosco”

Phelippe Daou

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