Isaac José Pérez e Isaac Benayon Sabbá: a busca de permanecer no mercado após a crise do látex

Surgia uma nova oportunidade para unir forças na construção de uma fábrica de lavagem, beneficiamento e crepagem do látex.

A nova proposta da empresa I. B. Sabbá & Cia Ltda., seria a matriz de um novo modelo de desenvolvimento para nossa região, passando a atuar como exportadora de castanha, látex, couros e peles de pirarucu para a cidade de Fortaleza, além de jutaicica, cumaru, piaçava, cipó titica e outros produtos regionais.

Os dois sócios, Isaac José Pérez e Isaac Benayon Sabbá, perceberam que a reputação do produto amazônico caíra muito de cotação no exterior, pois sua qualidade, com a crise e a baixa nos preços internacionais, tornara esses produtos, difíceis de exportação e como também a uniformidade neste padrão. Foi desta forma que nasceu a ideia da industrialização através do beneficiamento desses produtos regionais. Naquela oportunidade, já trabalhava outra empresa com os mesmos produtos, a do jovem empresário Isaac Jacob Benzecry.

Era o início da busca de permanecer no mercado após a crise do látex, cuja ideia foi marcada pela inovação e descoberta de novos produtos diferenciados como especialmente o látex, lavado e beneficiado, a castanha descascada, a sorva desidratada, a madeira bem serrada e plainada e naturalmente outras ações que pudessem facilitar a exportação.

Isaac José Pérez. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Neste período o mundo estava em guerra, transcorria-se o ano de 1939, que de certa forma tronava-se difícil ou quase impossível obter empréstimos em bancos para investir nessa nova estrutura produtiva. Uma luz no fim do túnel se abrira, o Bank of London acreditou no projeto e passou a ajudar promovendo o desconto das duplicatas da venda de pirarucu para o nordeste do país e naturalmente de câmbio de exportação para o exterior. De certa forma as dificuldades eram grandes, a participação do Bank of London não era o suficiente e a esta altura do período da guerra já havia o bloqueio marítimo dos submarinos alemães o que dificultava os embarques e o escoamento dessa produção. Era preciso vender também no mercado interno o que exigia o beneficiamento e a industrialização.

Surgia uma nova oportunidade com a participação do sócio Isaac José Pérez que propôs ao seu irmão Jacob para unir suas forças na construção de uma fábrica de lavagem, beneficiamento e crepagem do látex. O bem-sucedido empresário Isaac José Pérez, além de ter o capital necessário, era um homem de nível intelectual e visionário. Segundo falam os que o conheceram, diziam ser ele um perfeito cavalheiro, educado no velho estilo britânico, homem de integridade e um político importante, pois já havia sido prefeito da cidade de Itacoatiara, cuja passagem pela prefeitura marcou uma época e era nesta cidade onde sua família residia e ele tinha negócios a mais de trinta anos.

Isaac Benayon Sabbá. Por Dsabba77 – Obra do próprio, CC BY-SA 4.0

Sua passagem pela prefeitura realizou verdadeira revolução urbana como bem destaca o historiador Francisco Gomes da Silva, comentando que administração de Isaac José Pérez na Velha Serpa, abriu e alargou ruas, arborizou avenidas, construiu escolas, fez um trabalho de paisagismo urbano de causar inveja a muitas cidades do interior.

A sociedade desses dois homens importantes da economia amazônica, aliada a força da juventude de ambos com experiência e tradição fez surgir assim a nova empresa Pérez, Sabbá & Cia., que a época tinha como sócio os irmãos Isaac e Jacob, agora com a parceria e experiência do grande Isaac José Pérez.

Assim nasceu na Ilha de Monte Cristo, a primeira usina de beneficiamento de látex que, no final dessa sociedade criada, passou a denominar-se Usina Estrela, quando da oportunidade dos irmãos Sabbá assumirem integramente o passivo da organização. A sociedade com Isaac José Pérez não foi muito longa, pois este resolveu transferir sua residência para cidade do Rio de Janeiro.

Fábrica de beneficiamento do látex. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Transcorria o ano de 1942, era um novo período na história do desenvolvimento da cidade de Manaus. Havia sonhos, havia esperança, a grande guerra permitiu a imigração de grandes levas de nordestinos para repovoar os nossos seringais, especialmente inúmeros executivos americanos e brasileiros que chegavam para administrar o programa da borracha que tinha a finalidade de suprir os aliados dos Estados Unidos.

Com a urgência da guerra, o látex era transportado nos aviões Catalinas S-42 e Clipper da Pan-American que desciam na Baía do Rio Negro, com estação para carga e descarga do Roadway da Manaós Harbour. Já mais tarde no decorrer do tempo, essas instalações forma transferidas para um flutuante da Panair do Brasil, onde aos dezoito anos de idade trabalhou como despachante de bagagem o mais tarde professor Samuel Isaac Benchimol. Esse espaço hoje é conhecido como Feira da Panair, do importante bairro de Educandos.

Esta foi a importante contribuição de Isaac José Pérez como sócio de outro tão ilustre empresário Isaac Benayon Sabbá. 

Fábrica de beneficiamento do látex. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Imigração Judaica em Itacoatiara: a trajetória do prefeito Isaac José Pérez 

O Professor Claudemilson Nonato Santos de Oliveira, amazonense de Itacoatiara é professor da Rede Estadual de Ensino (SEDUC), onde atua desde 2000. Tem mestrado em Sociedade e Cultura na Amazônia – PPGSCA/UFAM. Fonte: https://www.franciscogomesdasilva.com.br/imigracao-judaica-em-itacoatiara-a-trajetoria-do-prefeito-isaac-jose-perez/.

Vale a pena acessar o link pois trata-se de um trabalho sério de mestrado. As primeiras famílias de origem e fé judaica se estabeleceram na Amazônia a mais de 200 anos, quando neste período o látex ainda não se apresentava forte na economia da Amazônia. Essas famílias vinham na maioria, do Marrocos, especialmente das cidades de Tetuan e Celta, que nesse período tinham a soberania da Espanha. Entre tantas famílias como Isaac José Pérez, fazem parte desse universo imigratório de extrema importância na economia da Amazônia.

Os mitos permanecem no ar, sobrevoando a vida das pessoas. Esse imigrante Isaac José Pérez faz parte dessa linhagem, de homens e mulheres que superaram os sofrimentos e os períodos difíceis na Amazônia, ele especialmente em Itacoatiara. 

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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