Comendador José Cruz: uma vida, uma história de conquistas

A história exemplar do comendador José Cruz é ilustrativa da capacidade de superação e realização do ser humano.

Porém, já cinco sóis eram passados,

Que dali nos partíramos, cortando

Os mares nunca de outrem navegados,

Prosperamente os ventos assoprados.

Luiz Vaz de Camões

Comendador José Cruz. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Os homens que lograram êxito em suas histórias tiveram como principais atributos a coragem e o espírito empreendedor. Foram sobretudo seres que acreditam nos seus sonhos e projetos – e movidos pelo entusiasmo e pelos ideais, legaram a sociedade uma história de feitos e conquistas.

A maior herança desse espíritos esclarecidos e altivos é o exemplo que deixaram para os seus descendentes e a comunidade, especialmente para os jovens que transformar sonhos em realidade não é impossível. A história exemplar do comendador José Cruz é ilustrativa da capacidade de superação e realização do ser humano.

Faz parte da linhagem de conquistadores lusos: de homens que se lançaram ao mar em busca de suas miragens e conquistas. Que foram fortes para vencer o desconhecido, superar os próprios limites e construir uma história vitoriosa e edificante. 

Nascido em Nagosa, Distrito de Viseu, em Portugal, a 28 de junho de 1911, o Comendador José Cruz fez o percurso de tantos portugueses que deixaram a terra natal em busca de oportunidade: motivado pelo desejo de conquista e esperança de encontrar no Brasil acolhimentos, estabeleceu-se em Manaus, onde fincou suas raízes e iniciou sua trajetória empresarial.

Irmã Fedele  Guimarães junto ao Comendador José Cruz, presidente da Beneficente – 1978. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Por força de liderança e carisma, tornou-se um dos empreendedores mais respeitados do Amazonas, gozando de reconhecimento e admiração, fato que o credenciou junto aos seus pares, sendo eleito vice-presidente da Associação Comercial do Amazonas, presidente do Conselho da Comunidade Portuguesa e Luso-Brasileira. Homem preocupado com os valores transcendentais, dedicou atenção à leitura e ao conhecimento, particularmente aos estudos maçônicos, conquistando a posição de venerável mestre da Augusta e Benemérita Loja Simbólica Aurora Lusitana.

Como empreendedor soube vencer os desafios e construir não só um patrimônio, mas uma reputação que lhe rendeu homenagem e admiração. Fruto 1979, com o título de Cidadão do Amazonas, conferido pelo Governo do Estado. Em 1982, foi condecorado com o grau de comendador da Ordem do Mérito desenvolvimento regional, o que motivou a Federação das Industrias do Estado do Amazonas a lhe conferir o Diploma de Mérito Industrial.

O Comendador José Cruz tornou-se um homem de duas pátrias: intrigou-se a vida do País que o acolheu, sem perder os vínculos com o passado, com as suas origens e com a terra que o recebeu. Por ter honrado as tradições portuguesas e por ter mantido vivo o vínculo com a alma lusitana, foi condecorado pelo Governo Português com o grau de comendador da Ordem de Benemerência, sendo reconhecido como grão-mestre das Ordens Portuguesas.

Dr. Mário Jorge Couto Lopes, Comendador José Cruz, Dr. Phelippe Daou, Dr. Avelino Pereira, Dr. Paulo C. A. Lima, Dr. Franco de Sá e o Diretor Monica Júnior – 1973. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Foi um homem que, além de talento para a vida empresarial, soube cultivar a vida familiar. Afortunado pela sorte, casou-se em 1951, com Alice Carvalho Cruz, sua companheira de todas as horas, seu porto e refúgio nos momentos de provação. Desse encontro feliz nasceram: José, Luiz Vitor e Maria Luíza. Tinha profunda consciência da importância da família como fator de sustentação nos embates da existência. Talvez por isso sua filha tenha afirmado: O comendador Cruz não nasceu em berço esplêndido, mas nasceu em um esplendoroso de amor e carinho no seio de uma família que tinha consciência do significado da palavra família.

Um capítulo especial de sua vida está associado às ações de caráter humanitário. Em meio as suas atividades empresariais, dedicou-se voluntariamente a gestão do Hospital da Beneficente Portuguesa do Amazonas, sendo um de seus presidentes por mais de três décadas. Sua administração foi marcada por muitas realizações e correspondeu a um período de expansão, em que o hospital foi modernizado para atender com qualidade a seus associados.

O Comendador José Cruz cumpriu com esmero sua missão. Contribuiu com seu trabalho e suas iniciativas no campo empresarial para tornar a vida melhor, gerando emprego e renda para a sociedade, dando a sua contrapartida para o desenvolvimento do Amazonas. Por tudo o que fez, afirmou sua reputação com o um homem generoso e cidadão, o que corrobora o depoimento de sua filha: “… foi feliz, porque conseguiu realizar em vida tudo o que esteve ao seu alcance e, a meu ver, da melhor forma possível”. Para expressar o sentido de sua existência não é demais relembrarmos os versos de Fernando Pessoa: Valeu a pena? Tudo vale a pena/Se a alma não é pequena”. O Comendador José Cruz soube ser digno dos desafios que lhe foram reservados pelo destino.

Fonte:

BAZE, Abrahim. Luso Sporting Club – A Sociedade Portuguesa no Amazonas. Manaus: Editora Valer, 2007.

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Cientistas avaliam como répteis e anfíbios lidam com mudança climática em ilha de Roraima

Expedição à Estação Ecológica de Maracá coletou mais de 400 espécimes para investigar como esses animais lidam com o aumento da temperatura previsto para as próximas décadas.

Leia também

Publicidade