Atlético Rio Negro Clube: mais de um século de glória

Ao longo da sua história de existência, uma característica que tomou conta do clube foi a de ser o preferido da nossa sociedade, as mais tradicionais famílias de Manaus, foram presenças constantes e obrigatórias nos bailes e festas promovidas pelo clube, que ainda hoje resistem ao tempo.

Shinda Uchôa, fundador do clube. Foto: Acervo Abrahim Baze

O clube guarda na sua história diversos nomes de personalidades politicas e sociais destacadas, conquistou a hegemonia nos concursos de beleza da cidade de Manaus, com desfile debelas mulheres em que seu refinado salão, tornou-se o clube preferido da elite amazonense, sem perder o seu apelo popular nas disputas esportivas e sempre assistiu passar por suas fileiras atletas campeões de voleibol, do futebol, do futebol de salão e até do tênis de quadra.

Das personalidades politicas, destacam-se Leopoldo Amorim da Silva Neves, Flávio de Castro, Álvaro Maia, Gilberto Mestrinho e tantos outros. Leopoldo Amorim da Silva Neves, conhecido na intimidade como “Pudico”, defendeu as cores do Rio Negro como atleta muito antes de tornar-se Deputado Federal e Governador do Estado do Amazonas. Ainda destaca-se o ex-senador Arthur Virgílio Filho e o ex-deputado federal Adalberto Vale. Outro nome que manteve viva a vela votiva do clube, por longo período, foi o professor Manoel Bastos Lira.

Ao longo da sua história de existência, uma característica que tomou conta do clube foi a de ser o preferido da nossa sociedade, as mais tradicionais famílias de Manaus, foram presenças constantes e obrigatórias nos bailes e festas promovidas pelo clube, que ainda hoje resistem ao tempo.

A parte social foi movimentada, ainda, com grandes bailes de carnaval e aniversario do clube, como por exemplo, o famoso Porto de Honra e o baile das debutantes. A massificação da prática desportiva, especialmente o futebol, o que foi a razão de sua fundação, popularizou a agremiação e contribuiu para que o clube tornar-se eterno. 

Com mais de um século de existência coleciona muitos e inesquecíveis títulos. Em 11 de agosto de 1921, foi campeão de uma regata disputada no Rio Negro, o ano foi muito produtivo, pois marcou também, a primeira conquista de futebol de campo, que seria repetido em 1927, 1931,1938,1940,1943,1962,1965,1975,1982 e com Tetracampeonato de 1987 a 1990 e tantas datas que se perdem no esquecimento. Foi na década de 1990 que surgiu umas das maiores revelações do futebol profissional Ninemberg Guerra, conhecido no mundo esportivo como Berg, comandante do Tetra, que depois brilhou por muitos anos no Botafogo, do Rio de Janeiro, antes de morrer, ainda jovem, vitima e fulminante ataque cardíaco.

Diretoria do Atlético Rio Negro Clube, recepcionando Edgard Garcia Lobão centrado ao centro. Foto: Acervo Abrahim Baze

Edgard Garcia Lobão, fundador e primeiro presidente. Foto: Acervo Abrahim Baze

Apesar das dificuldades o clube se mantêm em pé, fazendo questão de manter suas tradições, destaco aqui, o fato de seu equipamento jamais ter sido mudado desde a sua fundação, o preto e branco são intocáveis. Não podemos esquecer de Lauro Cavalcante, que presidiu o clube entre 1915, a 1917, jovem médico que faleceu e que foi homenageado dando nome a rua Lauro Cavalcante, no trecho do Igarapé de Manaus e Getúlio Vargas, exatamente onde se encontra a casaque guarda, silenciosamente, em seu porão, a história da fundação do clube. Outro nome importante foi Leopoldo da Cunha Melo que presidiu o clube nos anos de 1920 a 1923 e 1924 a 1928.

Sua primeira Miss foi Edna Frazão Ribeiro e a que mais se destacou foi Terezinha Morango, esta Miss Rio Negro, Miss Amazonas, Miss Brasil e Vice-Campeã Miss Universo, outro fato interessante é que jamais trocamos de nome, nascemos Atlético Rio Negro Clube, em 1913 e permanecemos até os dias atuais.

O Atlético Rio Negro Clube apesar de todas as suas dificuldades, guarda na memória, mais de um século de história no esporte no social e no cultural. Reconstruir sua história é inevitável, dessa forma, é só mergulharmos na história do clube para entender, a semente plantada por dezesseis jovens idealistas que concretizaram o início de uma trajetória de alegrias e glórias, que ainda hoje se refletem nos sócios rionegrinos de ontem e de hoje, como Edgard Lobão, o primeiro presidente, que ao retornar a Manaus, em 1961, recebeu uma homenagem do clube.

[…] Os rionegrinos me presentearam com esta viagem de volta ao passado, uma reprodução perfeita e viva de uma página Goeth, pois, como novo fausto eu me sentia transformado e redivivo, perfeitamente, mas, sem influências magistélicas, já se vê e já se sabe. Evidentemente, soube à ação da fumaça dos caximbos dos velhos Pajés, dos Barés e dos Manaós, com a inovação das proteções dos mitos, das Iaras, pedindo aos manitôs a sua ajuda e, esse valiosíssimo concurso protetor que acaboclada das matas me concedeu e como qual eu pude resistir com perfeita saúde emocional e com a graça de Deus, as vossas inesquecíveis manifestações de apreço e de amizade ao sócio n. 2. 

Ouça meu glorioso Jesus meu agradecimento a todos vocês. Atendei Senhor com toda vossa onipotência meu misericordioso Deus e minha súplica de derramar sobre o meu amado clube a tua luminosidade. Onde teu reflexo destacará o brilho radiante e colorido das vitórias-régias, que Deus Salve o Rio Negro e todos os seus atletas. 

Rio de Janeiro, 13 de novembro de 1961. Edgard Lobão

[…] Aos treze dias do mês de novembro do ano de 1913, às 16h da tarde, na residência do senhor Manoel Affonso do Nascimento, à Rua Henrique Martins, n. 149, sede do clube, estando presente os associados, Edgard Garcia Lobão, Raymundo Vieira, Schinda Uchôa, Manoel Afonso do Nascimento, João Falcão, Ascendino Bastos e Affonso Nogueira, foi aberta sessão pelo presidente provisório Edgard Garcia Lobão secretariado pelos senhores Schinda Uchôa e Raimundo Viera.

Usou a palavra o senhor presidente, agradecendo aquele rasgo de benevolência dos sócios presentes, convidando-o para presidir provisoriamente aquela sessão magma e não havendo quem quisesse usar da palavra, fala novamente o senhor presidente, dizendo que o fim daquela sessão era eleger a diretoria, discutir o nome e distintivo do clube. Oferece o senhor presidente a palavra a quem dela quisesse fazer uso, fala então o senhor França Marinho que pede para se fazer imediatamente a eleição da diretoria do clube. Feita a apuração da eleição pelo primeiro secretário provisório Schinda Uchôa, foram eleitos para presidentes Edgard Garcia Lobão com oito votos, para vice-presidente Raymundo Vieira, com quatro votos, para secretário o senhor Schinda Uchôa com seis votos, para tesoureiro o senhor Manoel Affonso do Nascimento com cinco votos e pra Capitain o senhor França Marinho com cinco votos.

Depois dessa apuração, o senhor presidente pede que qualquer dos sócios presentes, apresente um nome para o clube. É apresentado o de “Atlhetico Rio Negro Club” passando com dez votos. Então o senhor presidente convida o primeiro-secretário Schinda Uchôa para assumir a presidência, enquanto ele apresentasse como sócio, sua proposta para o distintivo do clube que consistia em caução preto e camisa branca, com escudo azul na mesma. Tendo o senhor Schinda Uchôa agora como presidente que apresentar sua proposta sobre o mesmo distintivo convida o senhor secretário Raymundo Vieira para presidir os trabalhos, sua proposta foi a de calção e camisa branco, pondo o senhor Raymundo Vieira a proposta do senhor Edgard Garcia lobão em discussão, pede a palavra o senhor Schinda Uchôa, dizendo que apesar de já ter havido Bairrismo no nome não deveria haver o mesmo no distintivo, esclarecendo melhor, que o nome do clube não tinha nada a ver com o distintivo do clube. A proposta do senhor Edgar Lobão caiu, tendo a favor somente um voto.

Depois de pôr o senhor presidente a proposta de Schinda Uchôa em discussão, usa da palavra o senhor Edgard Lobão que sem atacar a proposta já citada, apresenta outra que consistia em calção e camisa branco com colarinho preto. Depois de posta em discussão sua última proposta, põe o senhor presidente ambas em votação, ficando vitoriosa a do senhor Schinda Uchôa com dez votos. O senhor Manoel Affonso do Nascimento manda servir o vinho do Porto aos associados, usa então a palavra o senhor Schinda Uchôa agradecendo a benevolência dos sócios em elegerem para secretário e agradecia também o auxílio prestado por eles a sua ideia de fundar um club de foot-ball que, apesar das negaças de muitos e a má vontade de outros ele via realizada a sua ideia e pedia para brindar o progresso do Athletico Rio Negro Club. Em seguida falou o senhor Edgard Garcia Lobão que com palavras ardentes e imagens belíssimas agradeceu sua eleição para presidente e isto fazia na pessoa de Schinda Uchôa fundador do clube. Depois usou a palavra Raymundo Vieira, que em bela alocução que refere aos senhores Edgard Garcia Lobão e Schinda Uchôa, falando do destino este negro fantasma que perturba o sossego do espírito depois de apoderar da matéria e que tinha feito desabar suas esperanças de moço. Homenageou o senhor Schinda pela brilhantíssima ideia de fundar um clube de foot-ball, nesta época avassaladora e de crise. Fala em seguida o senhor Basílio Falcão que com palavras sentimentais, saudou os sócios do Athletico Rio Negro Clube desejando prosperidade e harmonia, finalmente usa a palavra o senhor França Marinho, que com palavras ardentes, agradece sua eleição para capitain desejando que esta agremiação de moços forme uma pirâmide no vértice da qual esteja fixado o mesmo pendão, balançando pela brisa Amazônica.

Não havendo mais nada a tratar o senhor presidente, encerra a sessão. Diretoria: Edgard Garcia Lobão Presidente, Raymundo Vieira, Vice-Presidente, Schinda Uchôa, Secretário, Manoel Affonso do Nascimento Tesoureiro, J. França Marinho Capitain. Sócios: Affonso Nogueira Rebelo, Gilberto C. D’Albuquerque, Outubriano da Silva Neves, Leopoldo Amorim da Silva Neves, João P. Leite de Paiva, Ércio Rabello, Antônio Rabello, Antônio Craveiro, Mário Fernandes, Basílio Falcão, Ascendino Bastos, Merolino Corrêa, Azevedo Souza, Paulo Nascimento, Luiz Pinto, Alkendi Uchôa, Frank Zagori e Joaquim Pinto.

Flávio de Castro, presidente à época, Edakl Anthony, Aury Mateus e Manoel Bastos Lira. 1961. Foto: Acervo Abrahim Baze

Decálogo do Atleta Barriga Preta 

Este decálogo foi apresentado em sessão do clube por Hilton Gonçalves dos Santos, que nasceu em Manaus em 1889, foi diretor de esportes do Atlhetico Rio Negro Clube até 1927 e, posteriormente, transferiu-se para o Rio de Janeiro. Foi Presidente do Clube de Regatas doFlamengo em 1946 e no biênio de 1958 à 1959. Idealizador do edifício que hoje leva seu nomeHilton Santos, que durante anos foi sede do clube. Faleceu aos 93 anos em 1982, na cidade do Rio de Janeiro.

Portanto, o Athletico Rio Negro Club é o único clube amazonense que teve um diretor presidindo o Clube de Regatas do Flamengo. 

1. Não te darás por vencido sem teres feitos o máximo pra vencer honrosamente; 

2. Não terás desculpas e razões por perder; 

3. Não te encherás de orgulho quando venceres; 

4. Aprende a perder com dignidade; 

5. Não tomarás vantagens ilícitas sobre teu adversário; 

6. Não pedirás handcaps-injustos; 

7. Estarás sempre pronto a dar o teu adversário o beneficio de qualquer dúvida; 

8. Não faças pouco do teu adversário, nem exageres as tuas forças; 

9. Lembra-te que praticar o esporte é o que vale. Ganhar ou perder são detalhes menos importantes; 

10. Honra ao esporte porque aquele que o pratica honrosamente, ganha mesmo quando perde.

O futebol, introduzido no sul do país, começava interessar a mocidade amazonense. Manaus já possuía dois campos de futebol, o chamado Bosque Municipal e o Parque Amazonense, que vez por outra, também transformava-se em Hipódromo, para as corridas de cavalo. O Athletico Rio Negro Clube que nasceu do futebol, também praticou outros esportes, que animavam a juventude rionegrina que, em 1922, foi campeão de basebal e campeão de remo. O futebol, porém, sempre foi a paixão dessa agremiação, são muitos os nomes que permanecem na memória dos rionegrinos, dos grandes feitos e das grandes conquistas, como Isidoro Carvalho e Vidinho. Não podemos deixar de estacar o Pantaleão que era símbolo de um atleta disciplinado, valoroso e que faleceu ainda em plena mocidade. Quem acompanha e futebol amazonense, lembra de Hugo, Yano, Luizinho, conhecido como mão de grude, Clóvis o Aranha Negra, outros nomes se destacaram como Amâncio, Darci, Parintins, Hidelbrando, Zenith, Meireles, Dog, Cloter, Bizerra, Cláudio Coelho,Benjamin, Onety, Lê, Valdir Oliveira e tantos outros.

Família Nascimento, da esquerda para direita em pé é o quarto Manoel Afonso do Nascimento, fundador do clube. Foto: Acervo Abrahim Baze

Ao falar de Rio Negro, obrigatoriamente, temos que lembrar o atual Presidente Jefferson Afonso César da Silva Oliveira, mais um destemido Rio Negro, a quem o clube tanto deve, figura humana e extraordinariamente agradável. Nessa corajosa arrancada de manter o clube vivo, não modernos esquecer sua esposa, Jeanne Chaves de Abreu que ao lado dele ajuda a construir essa reserva histórica do clube centenário, hoje, com a grande responsabilidade de remontar o museu centenário do clube. O tempo vai passando e a antiga Estrada Epaminondas, de paralelepípedos com os trilhos do bonde, hoje, coberta pelo asfalto ainda respira a bucólica Manaus dos anos quarenta, período em que o clube ali se instalou. Parte da reserva histórica do passado que foi construída com muita luta e o apoio da família Nascimento, repousa na coragem e determinação do atual presidente e sua diretoria, estabeleceu os desafios e a realidade que pairam em sua volta. É como se olhando para trás, mensurando tudo que fora criado no passado e trabalhando com a possibilidade de um amanhã venturoso. O clube da Praça da Saudade, como é conhecido, não morreu, permanece de pé, escrevendo sua própria história, a espera da presença da torcida e dos rionegrinos.


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