Alfredo Fernandes e o Teatro Infantil

 No dia 16 de outubro de 1998 comemorava-se cinquenta anos do inicio do Teatro Infantil no Brasil.
 

 

No dia 16 de outubro de 1998 comemorava-se cinquenta anos do inicio do Teatro Infantil no Brasil. Naquela época, esse dia o Teatro Infantil apresentava com um elenco de primeira qualidade, entre tantos nomes importantes tivemos Henriette Morineau e Fregolente que se apresentaram com a peça O Casaco Encantado de autoria de Lúcia Benedette, que foi encenada no palco de Copacabana Palace, no Rio de Janeiro.

 

Aqui em Manaus quase simultaneamente, aparecia o primeiro grupo de teatro infantil, cujo nome principal haveria de marcar sua época na arte de representar: Américo Alvarez, o famoso Vovô Branco, filho de imigrantes espanhóis, Américo Alvarez sobrevivia da arte de consertar sapatos e prestava serviços no Colégio Dom Bosco. Aliás, exatamente ali, no teatro do oratório do Colégio Dom Bosco, que ele apresentou sua primeira peça na década de cinquenta. 

 

Mais tarde, conquistou o espaço sagrado da dramaturgia nas manhãs de domingo, o Teatro Amazonas, também apresentava no pátio da Usina Alegria entre (Usina de Castanha), onde trabalhava e morava. Logo seu teatro tomou asas das ondas sonoras nas rádios Baré e Rio Mar e, partir daí temos a presença de outros nomes importantes que fazia dupla com ele, Alfredo da Silva Fernandes, juntos faziam a dupla Vovô Branco e Vovô Preto.

 

Alfredo da Silva Fernandes. Foto: Acervo/Abrahim Baze

Alfredo da Silva Fernandes já era velho conhecido do teatro do Luso Sporting Clube com suas participações nas pastorinhas.

 

Mais tarde, Alfredo da Silva Fernandes montou seu próprio grupo de teatro, com um elenco composto de crianças, cujas vozes eram dubladas. Em 1958 começou a florir seu lado de dramaturgo, produzindo textos para o teatro infantil. Teve como inspiração a música Coração que Sente de Ernesto Nazareth, assim escreveu sua obra prima Lágrimas de Brinquedo que até os dias atuais, sempre está sendo levada em cena em Manaus. A estréia da peça foi na Maloca dos Barés, em dezembro do mesmo ano. Porém, mais tarde, produziu outras peças, Um Brinquedo Atrás da Porta, Bruxa de Louça e Um Brinquedo Igual a Gente. Na década de 60, Alfredo da Silva Fernandes deixa o teatro infantil e passa a atuar como produtor teatral.

 

“… Considero uma peça deliciosa, quando digo peça quero dizer teatro, Lágrimas de Brinquedo é uma obra teatral, revelando uma decisiva vocação para as letras cênicas.”

“Espero que com tanto talento, escreva também para adultos, de vez que o teatro para crianças em nossa terra ainda é um problema a resolver.”

 

Cidade de Manaus nos anos 50. Foto: Acervo/Abrahim Baze

Procópio Ferreira 

 

Alfredo da Silva Fernandes foi para sua época com o teatro infantil um nome reverenciado com instrumentos mais vivos e de resultados mais profundos na arte de representar. 

Assim fizeram os jesuítas, quando tiveram de enfrentar o convencimento para incorporar multidões de gentios em nossa terra, compreenderam-lhe a importância do teatro dele socorrendo-se com maior sucesso para a solução de suas dificuldades. 

 

Toda essa experiência admirável de Alfredo da Silva Fernandes justificou em nossa cidade e deixaram grandes lições para as crianças de ontem e os adultos de hoje.

 

O teatro infantil em nossa terra impõe-se de forma adulta e acabou proporcionando bons momentos daqueles elementos que sobreviveram para guardar boas lembranças, destaco aqui o intelectual hoje na presidência da Academia Amazonense de Letras Robério Braga. O teatro infantil penetrou como força educadora. Alfredo da Silva Fernandes escreveu e dirigiu na execução por meio de nossos artistas pequenos e construíram uma viagem na imaginação feliz, na sensibilidade do homem e do espírito desse gênio do teatro.

 

Lágrimas de Brinquedo foi também apresentado no palco do auditório da Rádio Baré, emissora associada na noite de 17 de dezembro de 1953. O elenco estava assim constituído: Mãe de Dorinha (Ariasta Sampaio), Dorinha (Lima de Abreu), Palhaço (Genésio Bentes), Papai Noel (Reginaldo Xavier) Coelhinho (Douglas Pinto de Castro), Ursinho (Domingos Demasi Filho), Soldadinho (José Cardoso), Bailarina (Ruth Maria Paes Barreto), Boneca (Avelina Duarte).

 

No Teatro Amazonas, na noite de 29 de dezembro de 1963, a peça Lágrimas de Brinquedo seguiu a cena com os seguintes atores: Mãe de Dorinha (Tarciluce Fonseca), Dorinha (Ilena Fernandes), Palhaço (Francisco Aragão), Papai Noel (Jorge Salermo), Coelhinho (Robério Braga), Ursinho (Douglas Pinto de Castro), Soldadinho (José Jorge Oliveira), Bailarina (Eliane Mendonça), Boneca (Labile Pereira).

 

Rogério Braga, aos 10 anos de idade, participando de uma apresentação no Teatro Amazonas com uma peça infantil, da qual ele era o coelhinho, ao lado de vovô Branco, uma das figuras mais importantes do teatro infantil no Amazonas. Foto: Acervo/Abrahim Baze

Alfredo da Silva Fernandes era filho de portugueses e nasceu em Manaus, professor do Instituto de Educação do Amazonas representante e membro da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, Diretor do Teatro Amazonas e idealizador do Primeiro Festival do Teatro Infantil, escreveu também o livro Teatro Infantil, publicado em Manaus em 1966. Figura tradicional na cidade, cuja, identidade era vê-lo transitando pelas ruas da cidade com sua lambreta importada da Itália.

 

Robério Braga aquele menino de 10 anos de idade, já naquela época mostrava talento para as artes em geral. Hoje é autor de mais de uma centena de livros e preside pela segunda vez a Academia Amazonense de Letras. 

 

BAZE, Abrahim. Luso Sporting Clube – A Sociedade Portuguesa no Amazonas. Manaus. Editora Valer, 2007.

 

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