“O professor Samuel Isaac Benchimol, com muita propriedade, interpretou e advogou uma grande causa cívica, propondo a efetiva integração da Amazônia ao restante do país.”
Há quem construa, na trajetória da vida, uma rica história. Introduzindo-se no mundo do saber e do futuro, o amazonólogo, Samuel Isaac Benchimol pode assim se apresentar, tendo como referência sua caminhada científica, literária e comercial.
Durante décadas, o Mestre Samuel Isaac Benchimol falava como tese o “Imposto Internacional do Meio Ambiente”, na opinião dele, era uma forma dos países considerados ricos pagarem à Amazônia pelo serviço que a floresta presta à humanidade, foi um defensor ardoroso desta tese em todas as conferências em que se fez presente, em muitos dos fóruns internacionais, especialmente, na sua conferência “Amazônia no Terceiro Milênio Atitudes Desejáveis” patrocinada pela Associação Brasil SGI, a representação brasileira da SokaGakkai.
” Se eles querem a floresta intocável, vão ter que pagar por isso. E porquênão?”disse ele, após ouvir o Governador Amazonino Mendes dizer em sua palestra que estava retornando de conversações na Bolsa de Chicago, onde foi discutir o sequestro de carbono produzido pela floresta amazônica”. Jornal Amazonas em Tempo, página A3, domingo, 24 /10/99.
Nesta oportunidade, o conferencista Samuel Isaac Benchimol lançou o que ele chamou de Projeto Econômico, Social e Ambiental para o Gênero Humanoe afirmava “só desta forma será possível construir uma sociedade mais próspera e feliz”. Em suas obras, apresentava-se com propostas amadurecidas, com a releitura da Amazônia integrada ao processo político e econômico.
O professor Samuel Isaac Benchimol, com muita propriedade, interpretou e advogou uma grande causa cívica, propondo a efetiva integração da Amazônia ao restante do país. Desde a chegada dos portugueses no Brasil, a prioridade da Região Amazônica são as questões relacionadas à temática socioeconômica, entendida como fonte natural de riquezas para a solução de problemas internos e externos.
Suas obras foram determinantes para o desenvolvimento regional e nelas estão contidas sua marca principal, a promoção do homem da Amazônia. Foi também louvável pelo significado inovador, na forma de pensar e conviver com os problemas amazônicos, que, por sua vez, rebatem igualmente para as questões nacionais mais relevantes. Sabia ele que a participação e o significado da Amazônia no destino nacional é fundamental para compreensão do passado, do presente e principalmente do futuro.
A Amazônia sempre foi e continua sendo uma questão global e nacional, pois relaciona-se diretamente com os problemas que afetam todo o planeta como, por exemplo, as mudanças climáticas, o uso da água e a biodiversidade, todos esses temas que o mestre Benchimol defendia com maestria, com destaque, desde a década de quarenta.
Nas raízes e na formação amazônica, ele narrava, com precisão, a velocidade da transformação no período. Também expôs sua vivência e experiência em um período importante de sua vida. Na sua obra “Amazônia um pouco-antes e além-depois”, ele narra o bacharel da turma, Clovis Bevilácqua, como nenhum outro, soube retratar um período difícil para o mundo, em especial, para ele, em decorrência da Segunda Guerra Mundial. A Manaus desse período era uma pequena cidade provinciana que deu início a um processo de revitalização, consequência da reativação dos seringais nativos.
Sua “Alma Mater”. É nesse particular que a tenacidade e a vontade de vencer o fez entender que somente por meio do conhecimento era possível conquistar um espaço maior, retratando tudo que ele via e ao mesmo tempo em que adentrava naquele espaço do saber, documentava o que lhe era possível. Tudo isso resultou na tese “Manaus o Crescimento de uma Cidade no Vale Amazônico”, escrita em 1946/1947, parte da coletânea da mesma obra.
Nesse momento, nascia a trajetória na vida de um educador, o que lhe permitiu fazer parte do presente com feitos e obras, mas, principalmente, porque trabalhou na formação de novos discípulos em sala de aula, que fazia com muito prazer. Esse é o personagem de nossa história, sim, pois é parte integrante de nosso ensino. Ele acreditou que somente a busca do conhecimento libertaria o homem da escuridão. Como visionário, reafirmou que tudo isso só é válido quando associado ao trabalho. Talvez aí esteja o grande diferencial do sucesso de seus empreendimentos.
Outra identidade que foi presente na vida do professor Samuel era a afirmação de que em cada instante da vida ele se encontrava pronto a fazer algo, algo inovador, diferente, construtivo, educativo e de tal magnitude, que outros pudessem compartilhar dessa grandeza. Sempre teve a convicção de que o homem é o mestre de seu próprio destino, que o grande homem olha o mundo e percebe que há nele a presença de algo que o desafia a uma nova missão. Foi assim, no leito do hospital, ao receber o diagnóstico da doença que o afligia, destacando, imediatamente, o título de sua obra “Zênite-Ecológico e Nadir Econômico-Social”. Este fato marcou aqueles que o rodeavam naquele momento.
Por suas mãos, muitos alunos desejaram partir em busca do conhecimento e foram inúmeros aqueles que beberam na fonte de sua sabedoria, alunos dos quais ele sempre se orgulhou. Encantou aqueles que o cercaram por motivos mais variados, que passaram a acompanhá-lo, seduzidos por uma força imensa de saber.
A história de Samuel Isaac Benchimol é exemplar, sua vida é a convergência do intelectual e do empreendedor. Em ambos os casos, merece o reconhecimento dos homens que se dedicam à ciência e ao desenvolvimento econômico e social da Amazônia. A presença de Samuel Isaac Benchimol na Academia Amazonense de Letras foi breve, brevíssima.
O curto tempo de convivência do amazonólogo, pensador, educador, escritor e intérprete da Amazônia, não ofuscaria o clarão incandescente que ele espargiu no salão do pensamento Amazônico, sobre a poltrona de José Veríssimo, repleta de luzes e saberes de Coriolando Durand, Djalma Batista, Otávio Mourão e de Marcos Barros, hoje, a ilustrá-la. Empossado no dia 11 de abril de 2002. Samuel Isaac Benchimol nasceu em 13 de julho de 1923 e faleceu em 05 de julho de 2002.
Fontes
BENCHIMOL, Samuel. Amazônia: um pouco-antes e além-depois. Segunda edição revisada. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2010.
BAZE, Abrahim. Amazônia: fragmentos da história: Manaus: Reggo/Academia Amazonense de Letras, 2018.