IGHA: mais de um século como guardião da memória

A instalação de implantação do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas foi no dia 25 de março de 1917, em reunião na Câmara Municipal de Manaus.

Fundado em 1917, o Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas tem mais de um século, como guardião da história e da geografia. Essa Instituição tornou-se referência para os estudiosos de nossa região. Sua fundação foi precedida por reuniões preparatórias.

A primeira ocorreu no dia 11 de março de 1917, na sede da Câmara Municipal de Manaus, onde nasceu a ideia da criação deste organismo cultural. Na ocasião, foi nomeada a comissão para elaborar seus estatutos, composta por políticos e intelectuais ilustres como Bernardo de Azevedo da Silva Ramos, Vivaldo Palma Lima, Henrique Rubim, Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt e Agnello Bittencourt.

A comissão reuniu-se somada a Manoel de Miranda Simões, no dia 18 de março de 1917, no mesmo local, para discutir o estatuto cujo texto final foi aprovado em sessão da Câmara Municipal, com aclamação do corpo administrativo para o primeiro triênio.

Fachada do prédio do Instituto de Geográfico e Histórico do Amazonas. (Foto: Acervo IGHA)

A instalação solene do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas ganha mais uma solenidade de instalação, com o mais alto apoio da sociedade amazonense, no dia 13 de março de 1917, no salão nobre da Câmara Municipal de Manaus, ocasião em que Hamilton Mourão, representando o Chefe do Executivo, ressaltou a feliz coincidência entre a data da inauguração oficial do IGHA e a data em que o Brasil comemorava o advento da emancipação dos escravos.

“O Amazonas que sempre esteve na vanguarda do movimento abolicionista e foi a segunda Província do Império a decretar a extinção da escravatura, procura esculpir no mármore de suas tradições, uma das mais justas, das mais nobilitantes conquistas do momento atual, que é a instalação solene deste Centro de Cultura Científico”, frisou ele.

Móveis doados pela Câmara Municipal de Manaus. (Foto: Acervo IGHA)

A oficialização da implantação, entretanto, somente viria a acontecer, no dia 25 de março de 1917, em reunião na Câmara Municipal de Manaus.

Bernardo de Azevedo da Silva Ramos, conhecido por sua erudição de egiptólogo, numismata, historiador e arqueólogo foi o primeiro presidente. Nascido no Amazonas, viajou pela Europa e Ásia, em busca de maiores conhecimentos, reconhecidos, inclusive, pelo Governo da República, que mandou compor a sua obra Tradições e Inscrições da América Pré-histórica. Faleceu no Rio de Janeiro, em 06 de janeiro de 1931.

A sede localizada na Rua Bernardo Ramos foi fundada com estímulo e coragem por ilustres amazonenses. Ademais, à época, à frente do Governo do Estado do Amazonas estava o Dr. Pedro de Alcântara Bacelar que, num gesto digno de reconhecimento e gratidão por todas as gerações, concedeu a sede própria pelo Decreto nº 1.1919, de 18 de abril de 1917, o imóvel que serve de sede até os dias atuais.

São funções do IGHA o estudo, a dimensão, a investigação, desenvolvimento e a difusão da geografia e das ciências a elas conexas, nos seus diferentes ramos e princípios, relações, descobertas, progressos e aplicações, reunindo, concatenando, publicando e arquivando documentos e trabalhos concernentes ao Brasil e, especialmente, à Amazônia e o Estado do Amazonas.

Consideram-se ciências conexas para fins estatutários, além de outras, a Arqueologia, Antropologia, Etnologia, Sociologia, Linguística e o Direito. Com vista ao processo científico e aos interesses da cultura em geral, inclusive, da História. Vale ressaltar como um dos seus objetivos principais a Defesa Intransigente da Soberania Nacional, no que entende como integridade geográfica da Amazônia Brasileira, lutando contra quaisquer movimentos tendentes a sua internacionalização.

Berço de grandes intelectuais, o IGHA, em nome da Geografia e da História, tem aberto seu espaço ao longo de muitas décadas para receber como sócios efetivos aqueles que se dedicam fazer parte de sua vida a promoção e defesa da Amazônia. São muitos os homens e mulheres que marcaram, com sabedoria, um trilhar de lutas na promoção do Amazonas. 

Em suas dependências, passaram o Governador Arthur César Ferreira Reis, Nunes Pereira, Rodolpho Valle, Padre Nonato Pinheiro e ainda hoje marcam com sabedoria Mário Ypiranga Monteiro, Max Carphentier, Robério Braga, Antônio Loureiro, Geraldo Xavier dos Anjos, Arlindo Augusto dos Santos Porto, Moacir de Andrade, Manoel Bastos Lira, Mário Jorge Couto Lopes, Armando Menezes, Albertina Albuquerque, Ednea Mascarenhas, Marilene Correa, Marcílio de Freitas, Almir Diniz, Almir Diniz Júnior, Elson Farias, Francisco Gomes, João Bosco Botelho, Júlio Lopes, Marcus Barros, Marita Ypiranga, Osiris Silva, Rosa Brito, José Tadros, Izabel Valle, Adalberto Carim, Hailton Igreja, Mário Ypiranga Neto, Barros de Carvalho, Paulo Feitoza, Pedro Lindoso, Lourenço Braga, Agnaldo Figueiredo, Kaká Bonates, Maria do Carmo, Abrahim Baze, Humberto Figliuolo, que foi presidente em exercício, José Braga, o atual presidente, e outros tantos que pontificam com seu saber os quadros da Instituição.

Professor doutor José Braga, atual presidente do IGHA. (Foto:Acervo José Braga)

Todo o acervo do IGHA é precioso e raro, sendo a Instituição fiel guardiã de informações históricas, cuja biblioteca contém cerca de cento e cinquenta mil obras, grandes quantidades de obras raras, com uma grande coleção amazoniana, entre folhetos, leis,decretos, regulamentos, mensagens, revistas, manuscritos da época da província, coleção de jornais antigos e atuais do Amazonas, fotografias, discos clássicos, móveis em grandes quantidades, inclusive, os originais da fundação da Câmara Municipal de Manaus, artes plásticas e grande patrimônio físico.

Justifica-se, portanto, o domínio, em todos os seus membros, da responsabilidade da manutenção desse patrimônio cultural do Amazonas, solidamente construído por aqueles que pensaram numa obra duradora e que legaram, sob o penhor da missão de mantê-la intacta e atualizada, bem como transferi-la às gerações futuras, com a mesma grandiosidade intelectual que empolgaram os seus construtores da época. Não podemos deixar de lembrar do Museu Crisantto Jobim.

*Matéria publicada e assinada pelo Jornalista Abrahim Baze, no jornal A Notícia, em Manaus, domingo, 23 de março de 1997.

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