Histórias e Memórias da Cervejaria Amazonense

“A família Miranda Corrêa escreveu sua história em uma Manaus de um período diferenciado.”

Foi um período rico da nossa história, marcada por uma coletânea de registros sobre a primeira indústria do Amazonas, a Fábrica de Cerveja Miranda Corrêa, hoje, pertencente ao Grupo Ambev. A família Miranda Corrêa escreveu sua história em uma Manaus de um período diferenciado, era o início do século passado, sobretudo, porque existiam empreendedores, como por exemplo, o principal articulador, Luiz Maximino de Miranda Corrêa, sem deixar de rememorar os aspectos e costumes de um passado recente da nossa cidade.

Dr. Luiz Maximino de Miranda Corrêa. (Foto:Acervo Abrahim Baze)

Paraense de Santarém, o engenheiro civil, Luiz Maximino de Miranda Corrêa e seus irmãos Dioclécio, Antônio Carlos e Altino Flávio, instalaram, inicialmente, em 21 de fevereiro de 1905, a Fábrica de Gelo Cristal. Cinco anos depois, lançaram a pedra fundamental da Fábrica de Cerveja Amazonense. Em 1912, a indústria começou a operacionalizar para implantar a tecnologia do fabrico da bebida, juntamente, com dois alemães, o Mestre W. Held e o Contra-mestre J. Hust, foram contratados.

Isso, certamente, contribuiu para a qualidade do produto, logo aceito com grande sucesso pelos consumidores da região. A X.P.T.O., que mereceu até um soneto do poeta e escritor acadêmico Anibal Beça, neto de Maximino de Miranda Corrêa, não foi a única a ser produzida pela família. As cervejas Amazonense, Sublime e Yanke foram outras marcas lançadas. Nesse cenário, não apenas os técnicos em cervejaria foram trazidos de fora, mas vieram outros do sul do país. O “castelinho”, como ficou conhecida a sede da fábrica, foi construída pela família seguindo as linhas de um projeto arquitetônico encomendado na França. Peças foram trazidas da Europa para compor o sofisticado prédio instalado às margens do Rio Negro, no atual bairro de Aparecida, sem dúvida, uma das referências da história de Manaus, do início do século passado.

Esses e outros fatos que compõem a história da família que ousou instalar uma fábrica de bebidas, em uma época em que o Estado vivia a crise da borracha, marcando este momento na vida de homens e mulheres que para cá vieram, trabalhando e acreditando que seria possível viver aqui, longe dos grandes centros do país, construindo um marco de lembranças na construção da economia regional. Muitos se foram, outros marcaram época, neste contexto que ainda hoje tem suas marcas fincadas no antigo Bairro dos Tocos, hoje, Aparecida.

A família Miranda Corrêa de personagens tradicionais, dentre eles, o intelectual Luiz Maximino de Miranda Corrêa Neto que foi membro da Academia Amazonense de Letras, cuja marca permanece com seus descendentes, com destaque para o CIESA e as Telhas Miranda Corrêa. Foi tão importante esse início que mandaram fazer uma colher de pedreiro em prata, com aproximadamente 500 g, para sedimentar a pedra fundamental. Outro desafio era tirar a água ácida do Rio Negro para a produção de cerveja. Sua distribuição de cerveja e chope era feita em carroças, em pequenos caminhões ou nos bondes. Sua inauguração, à época, foi prestigiada pelo então Presidente Washington Luiz e, em 1940, pelo Presidente Getúlio Vargas.

Cervejaria Amazonense. (Foto:Cedida por Joaquim Marinho/Acervo Abrahim Baze)

No período do nosso Carnaval de Rua, foi a família Miranda Corrêa que incentivou os bons tempos dessa festa popular, com belíssimos carros alegóricos e a participação de toda a família e alguns funcionários, imitando o Carnaval de Nice e o Entrudo português. Em 1970, a Cervejaria Miranda Corrêa encerrou sua produção, continuando, porém, com a produção de gelo. Nesse mesmo ano, o Grupo J. Macedo adquiriu o controle acionário da cervejaria, elaborando-se, então, um projeto para nova fábrica. Nesse mesmo ano, o Grupo J. Macedo associa-se à Cervejaria Brahma, aproveitando, então, aquele projeto existente, restaurando-o e remodelando-o.

Em 1971, o projeto foi aprovado pela SUDAM, com prazo de dois anos, para implantação. Em 1972, ocorreu a abertura da Carta de Crédito e, em março do mesmo ano, deu-se início as obras civis, com a montagem das máquinas. Foi, exatamente, em 28 de agosto de 1973, que a empresa realizou a primeira fabricação fundamental da Cervejaria Brahma Chopp, na sala de Brassagem. Em 21 de outubro de 1973, foi iniciado, já em escala inicial, o enchimento das adegas de fermentação e maturação com a Cerveja Brahma. Em 26 de novembro de 1973, foi realizado o primeiro engarrafamento da cerveja em escala industrial. Em 8 de dezembro de 1973, ocorreu a inauguração oficial das novas instalações. Em 26 de julho de 1978, deu-se a primeira etapa da ampliação da capacidade produtiva. Esta ampliação constituiu-se na instalação de 14 tanques outdoor cilindro-cônicos, nova adega para guarda de ferramento, aumento da capacidade da sala de brassagem, aumento da capacidade da filtração de cerveja, sendo adequados aos centros produtores das utilidades: frio, vapor, energia elétrica, bem como do tratamento de água. Em 15 de outubro de 1979, a fábrica passou a operar já com a nova capacidade. Em 6 de março de 1980, deu-se início a segunda etapa da ampliação da capacidade produtiva. Esta ampliação constituiu-se na instalação de mais um grupo de engarrafamento de cervejas, uma filtração para a estabilização do produto e mais uma caldeira geradora de vapor, sendo devidamente redimensionadas as estações produtoras de utilidade, frio, energia elétrica e ar comprimido, tudo ainda sendo instalado em estação de capacitação e liquefação de gás carbônico.

Vista da Baía do Rio Negro. (Foto:Acervo Abrahim Baze)

Em 27 de fevereiro de 1981, a fábrica passou a produzir em condições de alcançar a sua nova capacidade instalada, atingindo a partir de então a sua meta. Em 9 de fevereiro de 1985, foram iniciadas as obras do poço artesiano profundo, com 203,4 metros, objetivando-se a obtenção de água cervejeira mais pura possível.

Por fim, é importante lembrar do Festival de Chopp, no campo do Luso Sporting Club, onde, atualmente, foi construída a empresa concessionária de veículos Toyota e o Colégio Solon de Lucena. Nesse local, toda colônia portuguesa se reunia para festejar o 05 de outubro, dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. A cidade de Manaus parava nesse dia, pois o número de comerciantes portugueses era muito grande. A festa era programada e preparada durante todo o ano. Barris de vinhos eram encomendados de Portugal, muita comida e a festa durava o dia todo, cujo chope era doado pela Cervejaria Miranda Corrêa. 

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