Celebração da vida e da esperança: o poeta das rosas

“Mesmo trabalhando muito, foi aprendendo a ler com a ajuda dos filhos e cuja leitura que apreciava com frequência, era os ensinamentos bíblicos e naturalmente transcrevia para o papel suas poesias, que recitava com a alma”.

Ao ser humano foi dado o desafio de navegar as agitadas águas do tempo. Viver é vencer as provações que a existência nos impõe cotidianamente e cumprir com altivez e dignidade a travessia, inclusive ajudando seus irmãos também atravessar. Afinal, o que é a vida se não vencer as distâncias e os limites? E depois? Depois retornar à fonte originária onde a correnteza da vida brota e onde reinam os mistérios da providência divina. Compreender esse milagre e esse enigma é condição indispensável para existência enriquecedora e feliz, especialmente para aqueles que fazem o bem.
Rede Amazônica Cacoal, em Rondônia. (Foto:Acervo Abrahim Baze)

Nestor Pereira Campista. Seu Nestor ou Campista como era chamado por todos, nasceu no dia 8 de fevereiro de 1943, na cidade de Rio, no Espirito Santo, cresceu na Zona Rural e o trabalho e a distância não lhe permitiu estudar muito. Homem simples, porém dedicado a família. Em fevereiro de 1987, mudou-se para o Estado de Rondônia a procura de dias melhores. Em setembro de 1989, tomou a decisão de levar sua família para residir na cidade de Cacoal, afinal, lá era possível oferecer melhores estudos aos seus filhos.

Nestor Pereira Campista. (Foto:Acervo Abrahim Baze)

São esses atos que praticamos, que afirmam a nossa singularidade e nos tornamos pessoas melhores, portadores de luz e sabedoria. Feliz é o homem que faz de seu existir um testemunho de amizade, de fé e caridade com o próximo. São seres dessa estirpe que ajudam a vida a ser melhor. Em janeiro de 1999 encontrou a oportunidade de ingressar no Grupo Rede Amazônica, que no seu trabalho de cuidar dos jardins, especialmente das flores lhe permitia declamar suas poesias sempre para aquelas pessoas que lhe davam atenção e por tantas vezes fez com alegria ao Dr. Phelippe Daou, ao Dr Aluísio Daou e tantos outros que tiveram a felicidade de encontrá-lo no seu cotidiano. Dedicou-se ao trabalho até o ano de 2017.

Mesmo trabalhando muito, foi aprendendo a ler com a ajuda dos filhos e cuja leitura que apreciava com frequência, era os ensinamentos bíblicos e naturalmente transcrevia para o papel suas poesias, que recitava com a alma. Tornou-se um homem conhecido, seu palco era as igrejas, escolas e rádios da cidade, quando era convidado, seus trabalhos poéticos foram registrados inúmeras vezes nos jornais.

Quero crer que o poeta das flores Nestor Pereira Campista, mostrou em vida sua expressão literária na metamorfose que corre na matéria prima de sua obra, cuja, motivação para apresentá-la não era outra, se não exprimir sua autenticidade de criar e recriar seus momentos poéticos. Foi observando as estrelas, as noites de luar, as flores dos jardins que cuidava tão bem, ou as noites escuras daquela cidade encravada em plena floresta amazônica, que ele assumiu a tarefa muitas vezes árdua, porém, sensível de produzir seus trabalhos literários. 

Era a hora do crepúsculo. O sol cansado de brilhar e esplender calor, calou no final do dia e decidira recolher-se ao seu leito de sombra. No último instante, porém, como arrependido de seu programado mergulho no horizonte, despiu cintilações douradas, tingindo de cores, todas as nuvens encarregadas de permitir a passagem de seu brilho, para receber o velho poeta no silêncio de sua poesia.

Felizmente, a providência divina presenteia a vida com alguns homens que trazem o coração cheio de luz e bondade. Estes, são construtores de utopias, semeadores de esperança, trabalham pelo bem comum e ajudam a existência a ser melhor. As vezes, nem percebemos que o brilho e a força que emanam dessas pessoas, nos proporcionam dias melhores.

Outra identidade presente na vida do nosso poeta Nestor Pereira Campista é a afirmação de que a cada instante, ele encontrou a dinâmica de fazer algo, algo inovador, diferente, construtivo e com tal magnitude, que outras pessoas possam compartilhar essa grandeza. O poeta calou, já não estará entre nós para declamar suas poesias, sua voz ficou em silêncio. O nosso poeta, hoje encontra-se diante do sagrado lenho de rígida madeira da amazônia, lá nas entranhas do céu. Faleceu no dia 20 de julho de 2020.

*O conteúdo do texto é de inteira responsabilidade do(a) autor(a) e não reflete, necessariamente, a posição do Portal Amazônia.

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