O declínio da borracha na Amazônia já a partir de 1910, foi um complicador comum para sua administração. Nos primeiros meses, a notícia causou muitas controvérsias e que dominava entre nós a crença de que a Hévea da Amazônia não se adaptaria facilmente em qualquer outra região. Além do mais, os próprios técnicos norte-americanos asseguravam que o “Produto de Plantação jamais chegaria a ser artigo considerável de consumo”.
Enquanto vinham à baila pontos de vista assim desencontrados, Wickham e outros faziam as intensas experiências nos viveiros, contando para isso com amplos recursos financeiros. Assim é que de quatro toneladas iniciais em 1900, subestimadas inclusive por técnicos americanos, a produção inglesa cresceu de um ano para outro à semelhança de uma avalanche: em 1910, 8.200, em 1920, 304.816, em 1930, 800.808 toneladas. Crescimento que em momento algum sofreu solução de continuidade como determinação inexorável.
Evidentemente assim, aconteceu que a produção brasileira entrou em colapso. Era a famosa queda da borracha com todo seu cortejo de horrores para o comércio local. De 37. 938 toneladas, em 1910, fomos diminuindo para 23. 216, em 14.260, em 1930, até o cúmulo dos absurdos de 6.500 toneladas.
Diante de tamanha desigualdade de produção entre o poderio de além fronteiras e a falta de absoluto planos de defesa da Hévea, não foi possível resistir por muito tempo. Eram grandes as dificuldades do presidente Antônio José Pereira Sotto Mayor. Centenas de organizações comerciais desapareceram na voragem das falências. Deu-se o êxodo dos seringais. Só os heróis permaneceram às margens dos altos rios, lutando sem tréguas pela sobrevivência.
Manaus experimentou dias amargos, com seu principal produto de exportação cotado a preços irrisórios e com os demais produtos como a castanha, a madeira, as oleaginosas, peles e couros explorados pelos abutres da negociata em tais emergências, deixou de ser aquele capital deslumbrante de que falavam com exaltação os visitantes ilustres. O nosso porto quase sem movimento. Escassas as arrecadações da Fazenda Estadual. Em consequência disso o funcionalismo em atraso por vários meses. Teatro Amazonas sem condições de contratar companhias, como fizera desde a inauguração.
O decênio 1915 – 1925, transcorreu assim, em meio às mais aflitas provações. Desapareceram no sorvedouro das falências, ensejando o desespero a capitalistas e o desemprego de assalariados, centenas de casas comerciais em especial aviadores da borracha, até então, consideradas verdadeiras potências do crédito, interessadas na exportação da borracha que chegou a empalheirar com outras exportações, desapareceram.
O magistral presidente de 1914, que será sempre lembrado por outras gerações passadas e futuras, deu o seu esmerado trabalho para manter o Hospital Português com o principal condutor de tempo e ação, tendo escrito sua difícil história de significados diferentes para aquela geração. Suas conquistas no campo da medicina naquela época, foi fenomenal, com grandes nomes de profissionais atuando no seu corpo clínico e cirúrgico.
Foram esses portugueses incansáveis, dentre eles está Antônio José Pereira Sotto Mayor que trabalharam pelo Hospital Português, foram homens que se prendiam à terra e aqui deram seus ossos. Não foram aventureiros para uma divisão passageira, mas, cidadãos que se entregaram as preocupações de toda sorte para manter vivo o hospital, como autêntico artífices de uma jornada. Porque na verdade não foram apenas os imigrantes de ontem, foram sim dedicados a causa lusitana.
Antônio José Pereira Sotto Mayor presidiu o hospital com espírito de coragem e decisão pelo sentimento da pátria mãe, ele serviu a comunidade com dedicação e esmero excelsas virtudes que ele consagrou aos diretores de sua época. A continuada saga da colônia portuguesa em Manaus, para construção material e espiritual foi simplesmente notável.
Desde os primeiros tempos quando vendiam flores, hortaliças e frutas produzidas nos jardins, horta e pomar existentes no próprio terreno do hospital, para prosseguir na construção e manter o seu funcionamento, todos esses e outros tantos gestos heróicos e deslumbrantes desse português. Foi administração de dificuldades, porém, profícua.
A Casa Comercial Sotto Mayor tinha como nome empresarial Sotto Mayor, Ferreira & Cia, era especializada em materiais de construção e funcionava escritório e armazém na Rua Quintino Bocayuva, n. 45 e 47, com um completo sortimento de Pinho Branco, Pinho de Riga para assoalho, convés, forro, divisão, pranchões, pernamancas de todos os tamanhos madeira de cedro, pregos, tubos de grés, tubos de ferro galvanizado, telhas de maselha, soleiras, degraus, lagedo, bordadura de Lisboa, cal virgem, cal nacional, cimento, latrinas, telhas de zinco, ferragens, tinta e vernizes.
Antônio José Sotto Mayor nasceu em Viana do Castelo, Portugal, imigrou para o Brasil no final do século XIX, no Brasil contraiu núpcias com a senhora Celeste Sotto Mayor Fernandes e trouxe ao mundo os seguintes filhos: Jorge Sotto Mayor e Roberto Sotto Mayor (vivos), Walter Sotto Mayor, José Sotto Mayor, Vitor Sotto Mayor e Deolinda Sotto Mayor (falecidos). Em Portugal a família foi proprietária do Banco Sotto Mayor, que na ditadura de Antônio de Oliveira Salazar, professor e chefede diversos ministérios ePresidente do Conselho de Ministros do Governo Ditatorial do Estado Novo, o Banco Sotto Mayor foi estatizado.
Bem haja, a memória do lusitano Antônio José Pereira Sotto Mayor.