A primeira geração Silva Azevedo – O Patriarca

Não é possível reconstruir a vida do casal José da Silva Azevedo O Patriarca e Maria Ferreira Bernardes isolando sua passagem histórica pela Rua Barão de São Domingos e o Mercado Adolpho Lisboa, em Manaus.

José da Silva Azevedo, imigrante português nascido em Albergaria – a – Velha, era casado com a também imigrante portuguesa Maria Ferreira Bernardes, nascida em Coimbra. Moravam na Rua Barão de São Domingos.

[…] “Rua Barão de São Domingos – Perímetro urbano, Bairro da Calábria. Começava na Travessia do Tabelião Lessa. Terminava no litoral do Rio Negro. Ex Rua de Ramalho Júnior. Atual Rua Barão de São Domingos”. ¹

¹MONTEIRO, Mário Ypiranga. Roteiro histórico de Manaus. Volume I. Manaus: Editora Edua, 1998. Pág.: 61.

Mercado Adolpho Lisboa, 1910. Foto: Reprodução/Domínio público

Quando meditamos na grandeza da obra humana, estruturada na honestidade e no trabalho, figura-se sempre o velho imigrante, dentre eles o português e será sempre destaque. Nomes importantes do comércio local, deixaram seus legados, outros não menos importantes no contexto da história, figuram-se no templário do heroísmo, como forte lembrança da Pátria Mãe, Portugal, de forma de vida simples e muitas vezes heroica, pois quando começamos a levantar sua vida, nos mostra quão importante contribuição deixaram. Uma espécie de “Rei Lear” da nossa história. Para a família e seus descendentes, este legado não fica só na memória, mas, estimula a falar quanto foi difícil à permanência de seus entes queridos, porém, quanto orgulho lhes dão.

José da Silva Azevedo – O Patriarca – foi um desses heróis anônimos, que com a simplicidade deixou esse legado. Como é possível o esquecimento do homem que acreditou que poderia ser feliz em Manaus? Mas então inquirir-se – ia ao sábio, que um verdureiro, nascido em Portugal em Albergaria – Velha, deixaria seu nome e sobrenome em um varão? Ele sabia que seria possível mostrar para a geração de hoje sua presença em Manaus? Sim, é possível reconstituir sua trajetória de vida que ele fez imprimir pelo selo da simplicidade de um verdadeiro do mercado Adolpho Lisboa. Foram tantas as madrugadas de trabalho até ao meio-dia e, a volta no período da tarde, pois o mercado Adolpho Lisboa tinha dois horários. E o trabalhador percebera com sabedoria que marcaria sua presença, não pela profissão de verdureiro, mas, pela força do trabalho honesto, que escolhera para sua sobrevivência.

Maria Ferreira Bernardes, sua esposa, como ele também, imigrante portuguesa, dividia a casa que era um sobrado, pois em baixo era alugado para comércio. Vale ressaltar que a residência do casal era alugada. Dona Maria não representava só a esposa, como toda mulher do lar, mantinha seus afazeres domésticos e ao mesmo tempo dava sua contribuição financeira lavando roupa para fora.

Rua Barão de São Domingos, 1920. Foto: Reprodução/Domínio público

O habitar da família, como já foi dito, era na Rua Barão São de Domingos, cujo, Rio Negro estava na porta da residência, tinha uma pedra enorme, produto da natureza, local onde várias famílias da época usavam para tal fim, lavar roupa A vontade de vencer, fibra da mulher portuguesa, acostumada ao trabalho do campo, se entremeava com a poesia da cidade natal, onde nascera, Erminde, cidade importante de homens e mulheres que também foi marcada pela geração do trabalho.

A história de vida desse casal é marcada pelo trabalho, pelo sofrimento, porém não podemos esquecer que parte da nossa história socioeconômico fora construída pelos dois.

Ele vendedor de frutas e legumes no mercado Adolpho Lisboa. Não creio que para a história nem para a família este local seja despercebido. O tradicional mercado Adolpho Lisboa é o que se pode chamar “casas de duas frentes”. O prédio apresenta duas fachadas totalmente distintas, uma voltada para o velho Rio Negro e outra para a Rua dos Barés. O conjunto é composto por quatro pavilhões.

“[…] Rua dos Barés Perímetro urbano, Bairro dos Remédios. Começava no igarapé da Bica de Monte Cristo (ou igarapé da Serraria ou Doca já nos nossos dias). Terminava na Rua da Boa Vista (atual Rua Marquês de Santa Cruz).Atualmente sua posição é esta: começa no igarapé da Bica de Monte Cristo, termina nas imediações do armazém da Manaus Harbou Limited, ao começo da Rua do Marquês de Santa Cruz. É uma das artérias mais antigas de Manaus, datando do segundo quartel do século passado e conservando a nomenclatura, sem alteração até hoje. Não encontramos nos arquivos referências à data de sua predicação. Nela foi construído o atual mercado de ferro”.²

²MONTEIRO, Mário Ypiranga. Roteiro histórico de Manaus. Volume I. Manaus: Edua, 1998. Pág.: 68.

José da Silva Azevedo (pai), Maria Ferreira Bernardes (mãe) e José da Silva Azevedo (filho) aos dez anos de idade. Foto: Reprodução/Acervo da família

É composto por um conjunto de construções, erguidas em diferentes épocas e, sua descrição formal facilitada a partir da planta baixa, que fora localizada em 1991, no Instituto Brasileiro de Patrimônio Cultural, na cidade do Rio de Janeiro.

Segundo a autor Otoni Mesquita, as obras do mercado de ferro foram iniciadas em 2 de agosto de 1882.

“[…] Em 1902, o intendente municipal João C. de Miranda Leão solicitava consertos e ampliações do mercado”.³

³MESQUITA, Otoni. Manaus: história e arquitetura (1852-1910). Manaus: Valer, 1997. Pág.: 82.

Não é possível reconstruir a vida do casal José da Silva Azevedo O Patriarca e Maria Ferreira Bernardes isolando sua passagem histórica pela Rua Barão de São Domingos e o Mercado Adolpho Lisboa.

Agir assim seria amputar parte da nossa história escrita por eles. Podemos, ao entrar no local, conduzir pelo nosso pensamento toda a trajetória dos dois, ela lavando roupa para ajudá-lo, ele trabalhando como vendedor de frutas, verduras e legumes.

Tudo isso faz parte de uma viagem que o tempo procurou nos entregar e, nós temos o dever de deixar para a perenidade por meio de relatos. Temos como verdade a sua história, talvez esquecida para alguns, mas, os dois ambientes são e serão sempre repositórios da história de vida deles, marcada pelo trabalho. Quantos portugueses lá deixaram seus nomes? Resgatar a memória dos fatos é uma forma de preservar a história, apresentá-la para as novas gerações, testemunhando a vida e as realizações das pessoas, como fazemos com a primeira geração da família Silva Azevedo, pontuando os momentos do verdureiro e da lavadeira, traduzidos em viagem ao passado, com fotos originais da época em que eles escreveram para a humanidade, suas histórias de vida.

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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