A Maçonaria e a Libertação dos Escravos no Amazonas

 
No dia 10 de julho de 1884 foi decretada, por um maçom que governava a Província do Amazonas, o doutor Theodureto Carlos de Faria Souto, extinção da Escravidão. 

 

O Amazonas possuía em relação às outras províncias, pequena quantidade de escravos. Fácil, portanto, a propaganda abolicionista. Tal situação estimulava os maçons (pedreiros livres) a entrarem em ação. Fundaram a Sociedade Emancipadora Amazonense. Em março de 1880, da qual foram fundadores: Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha, Miguel Gomes de Figueiredo, José Coelho de Miranda Leão, José de Lima Penantes e Augusto Elíseo de Castro Fonseca.

 

José Coelho de Miranda Leão. Fundador da Sociedade Emancipadora Amazonense em 6 de março de 1880. Foto: Acervo/Abrahim Baze

Por influência de maçons no seio da Assembleia Provincial, desde o ano de 1880 até 1884, todos os orçamentos consignavam dotações específicas, na lista de suas despesas, destinadas à libertação, cujas cartas de alforria eram entregues sempre em festas solenes, para maior retumbância do acontecimento. Por disposições legais dificultavam–se entradas de escravos no território amazonense. Para isso, taxas pesadas se decretam. 

 

O tributo de averbação, por venda de cativos tornou-se vexatório, para se evitar que tais negociações continuassem. Rara era a festa, regozijo público ou particular que não fossem marcadas com a entrega de carta de alforria. No ano de 1884 a grande Benemérita Loja Simbólica Amazonas n.2, foram as que mais desenvolveram as suas ações abolicionistas. 

 

Antônio Guerreiro Antony. Foi fundador da Sociedade Libertadora 25 de Março e do jornal O Abolicionista Amazonense, assinou o Auto da declaração da igualdade de direito dos habitantes da Província do Amazonas – 1884. Viajava pelo interior da Província comprando escravos e dando liberdade com os Maçons Francisco Público Ribeiro Bittencourt e Antônio Texeira Ponce de Leão. Foto: Acervo/Abrahim Baze

Maçons dessas duas lojas seriam os autores da lei de 24 de abril de 1884, que consignou a quantia de 300 contos de réis, num orçamento de 2.500 contos para completar as alforrias, ao mesmo tempo proibindo a entrada de novos escravos na Província do Amazonas. Buscando um fortalecimento ainda maior para os seus ideais, fundaram também a “Sociedade Libertadora 25 de Março” e o respectivo órgão na imprensa, o “Abolicionista Amazonense”, que teria, no seio da opinião pública, a devida repercussão. 

 

Vários foram os maçons que se destacaram neste movimento emancipador, entre eles destacamos: Carlos Gavinho Viana, Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha, Antônio Dias dos Passos, Deocleciano Justo da Mata Barcelar, Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt, Maximiano José Roberto, Gentil Rodrigues de Souza, João Carlos Antony, Pedro Ayres Marinho, Antônio Hosannah de Oliveira, Francisco Público Ribeiro Bittencourt, Antônio Ponce de Leão e Antônio e Solimões, alforriado escravos. 

 

Coronel Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt – fundador da Sociedade Libertadora 25 de Março e o jornal “O Abolicionista Amazonense”. Foi governador do Amazonas de julho de 1908 a 1º de janeiro de 1913. Sereníssimo Grão-Mestre de 1908 a 1914, nasceu em Manaus a 23 de novembro de 1852 e faleceu em Manaus a 3 de março de 1926. Foto: Acervo/Abrahim Baze

No dia 10 de julho de 1884 foi decretada, por um maçom que governava a Província do Amazonas, o doutor Theodureto Carlos de Faria Souto, extinção da Escravidão. Esse fato ficou assim assinalado: Foi um acontecimento que se revestiu de alta significação social e política, pelas suas benéficas consequências. 

 

Dr. Theodureto Carlos de Faria Souto. Governou a Província do Amazonas de 11 de março a 12 de julho de 1884, nasceu no Ceará a 4 de novembro de 1841, faleceu no Rio de Janeiro a 11 de agosto de 1893. Foto: Acervo/Abrahim Baze

De fato, era um regime anormal alimentar-se o cativeiro no continente da liberdade. Nada mais esdrúxulo e desumano, cada nação americana proclamar-se livre de sua metrópole e, ao mesmo tempo, conservar e explorar a escravidão. Um verdadeiro contrassenso. E foi para evitá-lo que o grande José Bonifácio, ao ser feita a independência, indiciou, em célebre manifesto, que fosse imediatamente declarada à manumissão. A ideia não venceu. Mas havia de vencer.

 

Efetivamente, o Amazonas ao libertar os seus escravos, dava um grande passo à igualdade social do homem em terras brasileiras e cumpria a maçonaria com um de seus mais legítimos desidrata. A libertação dos escravos no Amazonas foi solenizada em praça pública. Por sua vez, a assinatura da lei Áurea fora festivamente comemorada, segundo se desprende de carta que o irmão Francisco Públio Ribeiro Bittencourt, venerável da Loja Amazonas endereçou, em 24 de maio de 1888, a Loja Esperança e Porvir, convidando a participar do movimento popular que iria solenizar aquele grande acontecimento social e altamente humanitário, com um desfile cívico. A participação da Loja Esperança e Porvir n.º 1, na libertação dos escravos está gravado em vários depoimentos um dos quais o do irmão José Cardoso Ramalho Júnior, pronunciado em 1913. 

 

Francisco Públio Ribeiro Bittencourt. Fundador da Sociedade Libertadora 25 de Março e o jornal O Abolicionista Amazonense. Venerável Mestre da Grande Benemérita Loja Simbólica Amazonas n.º 2, em 1884. Foi o principal líder do movimento abolicionista no Amazonas. Nasceu na Província do Pará a 15 de fevereiro de 1840, faleceu em Manaus em 1921. Foto: Acervo/Abrahim Baze

Quando no Brasil se iniciou o movimento libertador contra a mancha que enodoava a nossa pátria como nação civilizada, a Assembleia Provincial do Amazonas foi a primeira de suas co-irmãs que teve o arrojo de em seu orçamento consignar uma verba elevada a alforria do negro escravo e a Benemérita Loja Esperança e Porvir n.º 1, aproveitando aquele e os recursos que conseguia angariar os seus dedicados obreiros, lançou-se ousadamente no trabalho humanitário de dignificar homens o mesmo irmão ainda descreve: 

 

“com tão vontade se houvesse no desempenho da tarefa que a si havia imposta, refere – se à Loja Esperança e Porvir tais e tão elevados serviços prestou a humanidade, que os seus esforços e dedicação à nobre causa encontraram em poucos anos o justo galardão a que fizera jus.” 

 

Coronel José Cardoso Ramalho Júnior – Sereníssimo Grão-Mestre, 1914-1917. Foi governador do Amazonas de 1898 a 1900. Venerável Mestre da Loja Esperança e Porvir n.º 1 de 1898/1900 – 1905/1907 – 1910/1914. Nasceu em Manaus no dia 7 de abril de 1866, faleceu no Rio de Janeiro a 18 de setembro de 1952. Foto: Acervo/Abrahim Baze

Como sinal de reconhecimento ao empenho da maçonaria a favor da emancipação, representada na época pelas lojas Esperança e Porvir n° 1 e Amazonas nº 2, ambas receberam o título de Benemérita, conferido pelo Marechal Deodoro da Fonseca Presidente da República do Brasil e Grão-Mestre Soberano Grande Comendador da Ordem Maçônica no Brasil. Este título foi lido e transcrito no expediente da seção de 29 de outubro de 1891, sob entusiástico aplauso. Auto de Declaração de Igualdade de Direito dos Habitantes da Província do Amazonas – 1884. Este documento original é a arca luminosa e sem paisagem artificial. 

 

Este fato histórico é um dos mais importantes episódios já ocorridos na nossa história. São ângulos bem vividos de um passado memorável, motivo de grande orgulho para todos nós, maçons ou não que agora vem a lume graças a manutenção de documentos originais que resistiram as intempéries do tempo. Podemos chamá-lo de pré-escolas documentações de um passado glorioso em nome de homens nobres e de alta estirpe, homens ávidos do nobre desejo de implantar em nossa Instituição a trilogia: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. 

 

Foram desbravadores e plantadores de uma civilização justa e perfeita, procurando destacar o homem sem diferença de raça, cor ou religião. Alguns desses homens passaram por nossa terra banhando os rostos nas águas do fabuloso Rio Negro. Aqui chegaram não somente atraídos pelos nossos mistérios, pelo fascínio de nossa exuberante natureza ou pelo delírio de grandes conquistas materiais, mas também no intuito de construírem com suas inteligências e com as próprias mãos um passado que agora faço ressurgir para conhecimento de toda uma geração.

 

José Carlos Antony. Um dos líderes do movimento abolicionista no Amazonas com destacada atuação. Nasceu em Manaus a 19 de março de 1833, faleceu na mesma cidade em 2 de novembro de 1918. Foto: Acervo/Abrahim Baze

Hoje o velho Rio Negro que presenciou tantas lutas desses bravos irmãos, caminha de forma encontrada ao encontro do grande e perpétuo embate com o Solimões, como se fora um milagre diário da vontade suprema do Grande Arquiteto do Universo, a festejar as almas dos nossos bravos irmãos emancipadores de tão longínqua Província. Nos templos da Grande Benemérita Loja Simbólica Esperança e Porvir nº 1 e Amazonas nº 2, repousam em seus arquivos adormecidos em sono profundo, documentações insubstituíveis para comprovação cabal marcado em nossa terra, através da presença dos maçons que provaram com sangue e gestos, a firme vontade de emancipar os negros de nossa província, a segunda do Brasil a fazê-la. 

 

BAZE, Abrahim. Escravidão – O Amazonas e a Maçonaria Edificaram a História. Manaus: Editora Travessia, 2001. 336 p. 

 

BAZE, Abrahim. Nas curvas do tempo. 1 ed. Manaus: Academia Amazonense de Letras, 2001. 112 p.

 

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