A gripe espanhola: uma pandemia de 1918

Em Manaus, a epidemia iniciou em setembro de 1918. As escolas foram fechadas, os jogos e as diversões suspensas, bem como todas as aglomerações.

A terrível gripe epidêmica que, atingiu várias cidades na Amazônia entre Belém e Manaus, provocou principalmente a morte da primeira esposa de Isaac Israel Benchimol, senhora Sol Benchimol. Esse terrível flagelo que naquele momento assolava o país colocou em risco a vida de uma população inteira. Os hospitais Santa Casa de Misericórdia e a Sociedade Portuguesa Beneficente do Amazonas tiveram importante apoio na hospitalização desses pacientes.

Segundo o professor doutor e médico renomado João Bosco Botelho, a epidemia da gripe espanhola, causada pelo vírus influenza resultou em um grande medo da dor e da morte fora de controle. Iniciada em 1918, transformou-se na pandemia que, em poucos meses levou ao óbito, rapidamente em torno de trinta milhões de pessoas em todo o mundo.

[…] É possível que o nome gripe originado do francês – gripper – significado agarrar, prender, já tivesse sido utilizado desde o século XVII e, a palavra influenza, do italiano, que pode ser compreendido tanto como corrimento de secreção quanto a influência de algo sobre qualquer coisa e pessoa, originada entre os séculos XVII e XVIII, já fazia parte da linguagem oral quando a gripe espanhola estava em curso.¹

¹ BOTELHO, João Bosco. Epidemias: a humanidade contra o medo da morte. Manaus: Valer, 2009. Pág.: 85

Foto: Reprodução/Facebook-Manaus de Antigamente

Ainda segundo o professor doutor João Bosco Botelho, provavelmente os primeiros casos ocorreram, no Fort Riley, em quartel militar, no Estado de Kansas, Estados Unidos. Em fevereiro do mesmo ano, na ocasião do desfile da parada militar, um quarto dos soldados foi hospitalizado, felizmente com poucas mortes. Meses depois, a gripe espanhola alcançou outras cidades como Boston e New York, dizimou quase a metade do batalhão de outra instituição militar em Massachusetts, cuja morte fora levada por pneumonia.

A gripe espanhola atravessou o Oceano Atlântico, possivelmente com as tropas americanas enviadas à França. Segundo o professor doutor João Bosco Botelho este fato está em consonância por terem sido as cidades de:

[…] Bordeaux, Brest, Nantes e Saint Nazaire, onde ocorreram desembarques dos soldados, entre 26 e 27 de junho, também, as primeiras vítimas da gripe. Da França a doença chegou à Inglaterra e Espanha. Como os países em guerra censuraram a informação, tanto da existência quanto da mortalidade, poucos tomaram ciência do fato. Como a Espanha não era parte beligerante na Primeira Guerra Mundial, não houve cerceamento à imprensa e dessa forma, o mundo ocidental ficou sabendo por meio de notícias espanholas. Essa é a explicação para que a pandemia ficasse conhecida como gripe espanhola. ²

² BOTELHO, João Bosco. Epidemias: a humanidade contra o medo da morte. Manaus: Valer, 2009. Pág.: 86.

Não havendo na época ambulâncias destinadas à condução dos doentes, entraram em ação caminhões de carga da Cervejaria Amazonense Miranda Corrêa, recolhendo corpos e como se tivera em tempos de guerra. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

A gripe espanhola em Manaus

Em Manaus, a epidemia iniciou em setembro de 1918. As escolas foram fechadas, os jogos e as diversões suspensas, bem como todas as aglomerações.

[…] Constitui-se o Comitê de Salvação Pública, com o encargo de alimentar as necessidades. Gêneros foram distribuídos de 20 de novembro, a 1 º de dezembro, por dezessete postos, espalhados pela cidade, dirigidas por oficiais do Exército da Polícia Militar e do Tiro 10 e, durante o mês de dezembro, quando a epidemia já se encontrava em declínio, pelos postos de Associação dos Empregados do Comércio. ³

³ LOUREIRO, Antônio. História da medicina e das doenças no Amazonas. Manaus: Lorena, 2004.

O Bairro da Cachoeirinha despovoou-se, com grandes trechos de casas desabitadas e famílias inteiras dizimadas. Segundo o autor Antônio Loureiro, nas estradas os mortos eram localizados já em estado avançado de decomposição. As ruas ficavam vazias, com pessoas recolhidas em casa, com medo do contágio e, apenas circulavam os veículos com os profissionais recrutados à força transportando os mortos.

Os hospitais não davam conta dos casos ocorridos em Manaus. Transformando os bairros em áreas dizimadas. Não havendo, na época, ambulâncias destinadas à condução dos doentes, entraram em ação caminhões de carga da Cervejaria Amazonense Miranda Corrêa recolhendo corpos como se tivesse em tempo de guerra. No Cemitério São João Batista, fracassando o serviço dos coveiros, também atingidos pela epidemia, deram início à abertura de valas, onde passaram a ser enterrados os cadáveres. Existe, como triste atestado desse período difícil para Manaus, um “Cruzeiro”, em área ampla, onde tiveram abrigo centenas de mortos, resultado da gripe de 1918.

Felizmente, a partir de janeiro de 1919, os casos foram se tornando mais raros até desaparecerem, deixando no seu rastro em grande número de mortos e uma população combalida da cidade de Manaus.

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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