A Amazônia de Ferreira de Castro

 
 

Com poucos estudos na escola formal, era um intelectual por natureza

 

Nascido no dia 24 de maio de 1898, em Salgueiros, Freguesia de Orssela, Conselho de Oliveira de Azeméis, o português José Maria Ferreira de Castro, vem para o Brasil com quatorze anos de idade, em 07 de janeiro, de 1911. Belém do Pará foi a porta de entrada. Antes de completar um mês na capital paraense convencido pelo patrício que o hospedara, José Maria Ferreira de Castro segue viagem para o Seringal Paraíso, no Rio Madeira, no Amazonas, na ilusão de riqueza.

 

Já no Seringal Paraíso, o jovem português se depara com a vida dura da selva. Com poucos estudos na escola formal, porém, sendo um intelectual por natureza acaba sendo transferido para sede do seringal. Como ocorria com os seringueiros na época, tudo que ganhavam com o trabalho mal dava para pagar a alimentação. E o desejo de voltar para a cidade tornava-se cada vez mais inatingível.

 

Proprietários do seringal Paraíso na época de Ferreira Castro. Foto do dia do casamento de Sizino Deoclécio Monteiro, conhecido como Duca, casou-se com Josefina Miranda Ferreira (Tinoca), filha de José Mariano Ferreira (Juca Tristão). Camilo Lélis Monteiro casou com Hilda de Miranda Ferreira (Ninita), também filho de Juca Tristão. Fonte: Irmã Conceição – Irlando Castro Ferreira. Foto: Acervo/Abrahim Baze

Até o dia em que  o guarda-livros do seringal, sensibilizado com o talento do jovem inclinado para as contas, compromete-se a  tirá-lo da função de seringueiro. Convence mais tarde, o patrão em pura fantasia, que a mãe do seringueiro havia morrido, com isso, consegue sua liberação para ir a Belém, naturalmente com a promessa de retorno em  breve. Era o ano de 1914, voltando a Belém, o patrício que o induzira a trabalhar no seringal não o recebe mais.

 

Extração do látex com o corte da árvore de cima para baixo (Fotografia de Silvino Santos. Acervo do autor)

Entre 1915 a 1916 sua estada em Belém torna-se difícil, passa fome, dorme na rua e, por muitas vezes alimentava-se dos frutos das mangueiras, da Av. Nazaré. Mais tarde, para sobreviver trabalha como biscateiro, fixando cartazes ou como carregador no porto. Até o dia em que o dono de uma tipografia, também, português impressionado com o trabalho literário de Ferreira de Castro, resolve publicá-lo em fascículos. Nascia assim, o primeiro livro de Ferreira de Castro, O Criminoso por Ambição, o que era vendido na noite paraense. 

 

Já em 1917, com pequenas economias e o apoio do patrício João Pinto Monteiro cria o Semanário Portugal, a partir daí sua vida financeira começa a melhorar. Em 1919, regressa a Portugal levando consigo uma economia de quatrocentos escudos, recursos que conseguiu economizar em três anos. 

 

Apesar das grandes dificuldades financeiras, escreve como colaborador do Jornal Impressa Livre, cujo, diretor era o escritor e advogado João Campos Lima que o ajuda a publicar seus livros, na editora Espartacos de sua propriedade. A vida dura em Portugal, entre 1923 e 1927 colabora intensamente para jornais e revistas escrevendo crônicas, contos, folhetos e reportagens, sempre respeitando a natureza humanista identificados com os problemas de seus patrícios. Tempo passa e José Maria Ferreira de Castro conhece Diana de Lyz poetiza e musa. Já em companhia da poetiza, em Portugal escreve seu mais importante livro A Selva, era o ano de 1929. 

 

Identidade profissional de jornalista, Belém do Pará (Brasil, Jaime. Ferreira de Castro. Lisboa: Ed. Arcádia)

Nessa época morava numa casa que não tinha se quer luz elétrica. Em meio das privações, Diana de Lyz adoece e vem a falecer no ano seguinte, em Orssela. Revoltado com a morte da companheira resolve imigrar para França. Já em Paris, publica a obra Emigrantes e a Livraria Civilização publica o livro A Selva. Ainda entristecido com a morte de sua mulher, o escritor procura refugiar-se na ilha da Madeira e, neste refúgio escreve o livro Eternidade, dando exemplo de espiritualidade. Seu livro Emigrantes também é publicado em espanhol. 

 

A primeira grande tradução da obra A Selva é traduzida pelo alemão Her Dokteor Topsiusk, isso ocorreu em 1934. Em seguida, A Selva e traduzida nos Estados Unidos da América, Inglaterra e Itália. Neste mesmo ano, recebe da Academia de Ciências de Lisboa, o Prêmio Ricardo Malheiros, pelo romance Terra Fria. Em 1935, conhece em Estoril, a pintora espanhola Helena Muriel. Em 1938 casa-se com a famosa artista que passa a ser sua secretária e que mais tarde viria a reeditar seus livros. Em 1939 realiza o maior sonho em companhia da esposa faz uma viagem de volta ao mundo. 

 

Um dos grandes momentos de José Maria Ferreira de Castro ocorre em 1949, nesta oportunidade dá início a publicação a de suas obras completas e recusa a oferta de trezentos mil escudos para incluir os livros publicados no início de sua carreira. Somente em 1952 na Alemanha consegue autorização para publicar suas obras proibidas pelo regime nazista, cujas, obras eram voltadas para o humanismo. Transcorria o ano de 1953, José Maria Ferreira de Castro gravemente enfermo e convidado por políticos e intelectuais da época a candidatar-se a Presidência da República este fato, porém, não foi aceito.

 

Seu retorno ao Brasil ocorre no dia 2 de outubro de 1959, na cidade do Rio de Janeiro. Em visita a Teresópolis e homenageado pela Academia Teresopoliana de Letras, acolhido pelos poetas Oliveira e Silva, Waldemar Lopes e Paulo Malta Ferraz. No retorno ao Rio e homenageado pelos patrícios e recebe o convite do Presidente da República para visitar Brasília. Ao longo de sua carreira literária Ferreira de Castro recebe vários convites para integrar grandes academias de letras, porém, sempre recusou inclusive tomar acento oferecido pela real Academia da Bélgica.  Em 1969 recebe a proposta da indicação do Prêmio Nobel de literatura juntamente com Jorge Amado.

 

Beneficente Portuguesa do Amazonas, em 1918. Foto: Acervo/Abrahim Baze

Livro de Presença de Visitantes da Real e Benemérita Sociedade Beneficente Portuguesa do Amazonas, visitada, em 1918, por Ferreira de Castro. Foto: Acervo/Abrahim Baze

A grande homenagem foi receber o Premio Águia de Ouro Internacional, em Nice, na França, considerado pela crítica européia como o grande acontecimento da vida literária portuguesa. Nesta mesma época, manda construir em sua terra natal Orssela, Oliveira de Azemeis uma biblioteca localizada em frente a casa que lhe serviu de berço. Nela está a parte de seu acervo, inclusive, sua biblioteca particular, suas obras em vários idiomas, vários manuscritos de As Maravilhas Artísticas do Mundo e obra de arte de pintores consagrados. O escritor também recebeu o premio Gulbenkian da Latinidade, em conjunto com Jorge Amado e Eugênio Montale. 

 

Em 1971 é recebido novamente no Brasil de forma triunfal recebe homenagens na Academia Luso Brasileira de Letras, no Liceu literário Português, na Academia Carioca de Letras. Foi no Amazonas que nasceu seu primeiro desejo, que criou asas, aspirou voar a própria fantasia. 

 

O português José Maria Ferreira de Castro. Foto: Acervo/Abrahim Baze

Moacir de Andrade cria a Associação dos Amigos de Ferreira de Castro

 

Moacir de Andrade ao regressar de uma exposição, em Paris passa em Portugal para promover uma vernissage e em visita em São João da Madeira. Em gesto inteligente, o artista plástico sugere a criação da Associação dos Amigos de Ferreira de Castro e lança para primeiro presidente e escritor Eurico Pedro de Andrade Alves e, assim no dia 21 de setembro de 1979 foi fundada a associação, cuja, Ata de Fundação foi assinada por sócios ilustres, como o embaixador do Brasil, na época General Carlos Alberto de Fontoura. 

 

Também assinam a ata, Moacir de Andrade, a esposa de Ferreira de Castro, senhora Elena Muriel Ferreira de Castro, Vasco da Gama Fernandes, presidente da Assembléia da República, tenente-coronel Júlio Baptista de Andrade Alves, Presidente da Câmara Municipal de Sintra, Elza Muriel Ferreira de Castro, Eurico Pedro de Andrade Alves, (primeiro presidente) escritora Manuela Montenegro, escritor Nuno Lima de Carvalho, José Alfredo da Costa Azevedo, Raul Taveira, José Rodrigues dos Santos, João da Silva Rodrigues, Mariac Dimbla, Hisako Nakamura, Maria Albertina Andrade de Carvalho, Manoel de Portugal, finalmente o Adido Cultural da Embaixada do Brasil, o pintor Moacir Andrade faz naquela oportunidade a doação de quarenta e cinco mil e seiscentos escudos, esta agremiação inicia com sócios de Portugal, Brasil, Espanha, França, Estados Unidos e Japão.

 

BAZE, Abrahim. Amazônia de Ferreira de Castro. Jornal A Notícia, publicado em Domingo, 19 de janeiro de 1997.

 

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