Violência

Se a um transeunte você indagar qual o maior problema da sociedade nos dias de hoje, a violência estará entre os primeiros. Nenhuma novidade, pois a mídia, em especial o rádio e a tv que fazem a cabeça das massas , esmera-se, ao requinte e sem reproche, em sua descrição. Trata-se de uma torrente cotidiana de informações eivadas de sensacionalismo, em que é claro o incitamento à depravação dos costumes, à criminalidade, à barbárie e à impunidade, numa demonstração inequívoca de desrespeito à Constituição, que garante os valores éticos e sociais da pessoa humana. Se se indagar desses caminhantes, que modalidades de violências mais os assustam, a resposta abarcará um enorme leque de infortúnios.

Foto: Reprodução/Shutterstock
E todos eles ora se intrometem com sutilezas ou sem elas permissivamente no domicílio via tv, ora são dramas vividos e sofridos no dia-a-dia pelo cidadão: a banalização do sexo, a tolerância às drogas e o indulgente combate ao seu tráfico, a insegurança no domicílio, o seqüestro, a ousadia de bandidos e de servidores públicos de sua igualha, o ostensivo poder paralelo dos presídios, a guerrilha urbana e tantas outras não-merecidas desditas a intranqüilizarem a sociedade e a afrontar o poder público. Ao me colocar na condição desse transeunte, sob a ótica de minha profissão, a resposta é imediata, posto já a ter fixado em várias oportunidades: para mim, constitui violência inominável a pobreza e a miséria.
Sensível como é à causa do homem, a violência encontra-se intimamente dependente da perversa distribuição de renda, da injustiça social e da impunidade. E tudo isso medra daninhamente nos centros do poder, constituindo o fator patogênico mais importante e mais indigno em todo o mundo subdesenvolvido. E para esta sociopatia falecem ao médico, com sua ciência e arte, remédios capazes de, no mínimo, tangenciar o problema real, que é anterior e mistifica a doença; esta, na realidade, uma indignidade menor e transfigurada, que leva milhares de infelizes a engrossarem as filas dos ambulatórios, em busca da saúde perdida. Se é impotente o médico, mais ainda o são os governantes que, movidos por solavancos de solidariedade humana, só enxergam a adoção de terapêuticas paliativas e protelatórias. 

Pobres visionários: ignoram ou fingem não ver que a solução racional, antes de tudo, reclama que se reponha ordem na sociedade! Melhor ainda, reclama se restaure a justiça porque se ela desaparece, escreve Kant, é coisa sem valor o fato de os homens viverem na Terra. E ordem na sociedade é o mesmo que a saúde para o indivíduo. Desafortunadamente, a sociedade e o indivíduo só se lembram de uma e de outra quando já não mais as possuem.

Ao encarar a violência em meu redor, sempre a confronto com sua matriz: a pobreza e a miséria. Embora uma pessoa marcada por violências torpes e imundas, minha coragem é serena e racional; mais racional do que serena, para resignar-me, contrafeito, com o fato de termos sido delas vítimas minhas extensões mais próximas e eu. É difícil conter a indignação pela resignação e pela esperança em uma sociedade ordenada e justa. Assim, acato a advertência de Malraux: Um só homem não pode erguer mais do que dois ombros. A plebe é mais impaciente do que o indivíduo e anseia por soluções definitivas e justas. No século XVIII, a sociedade francesa conseguiu-as após uma sangrenta revolução de costumes e de idéias.
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