Ponto escuro

O que restará, em que resultará o momento que estamos vivendo? Estarrecidos, nauseados, assistimos passivos o banho de lama que adentra nossos lares, diariamente, por várias horas. Somos impingidos a testemunhar sucessivos massacres da verdade, da esperança e confiabilidade.

O ponto escuro cresce a cada momento transformando-se numa enorme mancha que ameaça ocupar todo o campo visual. É uma carnificina moral, onde cada um tenta de forma incansável sobreviver lançando em todas as direções mísseis de lastimáveis misérias humanas. Anúncio do Apocalipse? Como metal exposto ao fogo todos e tudo derrete, desaparece. As normas, leis, regras, acordos, consensos, submergem, atrofiam ante a inércia histórica de sua própria construção.

Os consultórios médicos e psicológicos lotam do homem adoecido, enlouquecido! Doenças surgem e ressurgem. Síndromes de pânico, depressões, somatizações diversas assolam fragilizando o todo. O homem doente é a expressão somatizada de que o mundo é que está doente. Por outro lado, a doença também pode ser vista como um sinal de ainda saúde, do debater-se de um organismo ainda vivo que sinaliza, clama e reclama pela invasão, apropriação do paraíso humano.

O homem tem perdido seu referencial vivendo um modelo de educação que se afasta cada vez mais do processo de interiorização, de aprendizagem da busca de seus dados pessoais de satisfação, numa tentativa de globalização e formatização, o que facilita o controle, a robotização e a repetição em série sob o domínio de poucos.

A insegurança de um povo, a perda da autoestima, advém de uma educação que cada vez mais acredita e estimula aquilo que “vem de fora”, na informação que vem do outro, de uma cultura do que “vem pronto”. Esquece-se de estimular e exercitar o diálogo interno quanto ao desejo e ao pensar. Esquece-se de reservar tempo e presença na contemplação da natureza como fonte de aprendizagem dos processos de vida. Cada vez mais nos afastamos de nossa casa (nosso corpo), criando uma distância e estranheza profunda.

Neste não se consultar, o homem desapropria-se de seus sentidos, seus comandos particulares. Sua relação consigo mesmo é de descrença, desamor, desafeto. Há que se refletir sobre uma inteligência que não só crie toda uma tecnologia de ponta, mas que se volte sempre para seu criador e o faça cada vez mais um ser feliz, confortável e pleno de sentido. Se o homem se afasta cada vez mais de tudo que verdadeiramente lhe traz “o melhor”, o paraíso de volta, essa inteligência será parte desse lixo humano sob a nossa mesa de refeições diárias.

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