O Tempo

A proximidade do Natal me faz repensar sobre cada uma das pessoas que no Natal passado estiveram neste mundo e que agora não mais estão. O tempo sempre foi uma grande preocupação para os filósofos e para os físicos, e porque não dizer para todos nós mortais. No final do ano passado escrevi sobre o tempo absoluto, que corre permanente e dos tempos parciais que dentro dele se desenvolvem. Neste é que se verificam os acontecimentos que nos marcam, o nascimento, a morte e todos os fatos que se localizam entre estes dois extremos. Este ano, concentrarei a atenção sobre o último aspecto o tempo enquanto medida dos fenômenos da vida. O homem, como toda matéria viva, tem um ciclo biológico limitado.

Nasce, desenvolve e extingue-se necessariamente. Porém mostra-se fundamentalmente diverso dos demais seres vivos porque tem conhecimento de si próprio. Nele se forma a matéria pensante que permite lhe permitir compreender a existência que em seu corpo se desenvolve e o universo em que se encontra situado. Schopenhauer dizia que a vida é o momento fugaz da consciência, ou seja, o passageiro instante em que homem percebe o mistério de onde veio e o mistério para onde vai. Dois pontos de interrogação para os quais a ciência e a filosofia não encontraram ainda uma resposta satisfatória. O fato é que o homem enquanto organismo vivo, tem o pesado fardo de conduzir a existência. 

Primeiro, são as exigências naturais: a necessidade de cuidar da saúde e de preservar as aptidões que a natureza lhe deu. Como não é um ser isolado, vive com os demais. E aqui começa uma outra categoria de problemas que a organização social necessariamente envolve: a sobrevivência, a profissão, a participação política, a organização do Estado e das instituições. Esta sucessão de fatos naturais e humanos que se entrecruzam é um fluir contínuo que nossas mentes vão dividindo em tempos parciais. Contamos os dias, os meses, os anos, os séculos e neles mergulhamos a experiência de cada um de nós, erigindo as diversas culturas e civilizações.

Foto: Divulgação
Alimentamos sempre a esperança de que, após o decurso de uma destas unidades de tempo, a existência melhore e o ser humano se engrandeça. Não poderia ser diferente porque não é possível viver sem esperança. Nem que seja para olhar no horizonte azulado o nascimento de um novo dia, mesmo sabendo que ele se juntará aos outros na eterna cadeia do tempo perene e interminável. Incerto e cheio de dúvidas é o porto aonde chegaremos na viagem que todos temos de fazer e terminar. 

Para os racionalistas, este porto é a extinção de tudo. Para os que têm fé, ele é o começo da vida definitiva. Mas a ambos falecem elementos objetivos para comprovar a certeza das duas expectativas. Enquanto isto, o barco desliza inexoravelmente pela superfície da existência, navegando para o destino final, cuja hora a ninguém é dado saber. Diante de tantas incertezas vale a pena viver? Terá um sentido maior a vida humana, além das dificuldades por que todos temos de passar? Não é fácil a resposta e sobre ela se interrogam e sempre se interrogam os filósofos de todos os tempos e escolas. A razão e a fé jamais deram uma resposta a estas inquietações que satisfizesse a todos os mortais.
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