Fazendo uma análise do instituto da reeleição esta excrecência admitida em nosso sistema político, fiquei a pensar sobre o porque da briga para voltar ao cargo que exercia. Só há uma resposta. O Poder. O exercício do poder é sem dúvida, o sentimento mais forte e o que exerce maior fascínio sobre o homem. Chega a ser mais forte do que o do sexo. Ainda que seja o poder político ou o poder econômico. E, lamentavelmente, a principal força que afeta a insensatez política é a ambição do poder, definida por Tácito como “a mais flagrante de todas as paixões”. A ideia do Poder está, por assim dizer, intimamente ligada à noção de glória.
A glória chega a ser uma paixão consequente do Poder e que se transforma no prazer inebriante de existir além de si, a preencher o mundo com o seu nome. Mas, nenhum homem pode ter uma vida inteiramente dominada pela ânsia do poder, eis que, mais cedo ou mais tarde, depara-se com obstáculos impossíveis de superar. E é por isso que se afirma: a insensatez política é filha do poder. Aliás, a tendência da humanidade sempre se concentrou em dois aspectos – economia e política ou, melhor dizendo; riqueza e poder.
A esse respeito já disse Bertrand Russel: “O megalômano é diferente do narcisista, eis que prefere ser poderoso a encantador, temido a amado. E a este tipo pertencem os lunáticos e a maioria dos grandes homens da historia”. A Revolução Francesa, por exemplo, foi sem dúvida o primeiro movimento de ideias importantes na Europa do Século XIX. Apesar disso, tão logo atingida a vitória, Robespierre começou a admitir que só consolidaria o seu Poder Político, com a exclusão sumária de Danton que dividia com ele a liderança dentre os revolucionários.
E logo Danton, talvez o mais puro revolucionário e que mais sinceramente desejou a ascensão do povo francês, no desfrutar do decantado tripartido simbolismo do ideal da Revolução: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. E, a partir da decapitação de Danton, a revolução perdeu seu encanto. Nos dias atuais, é comum ver-se a todo instante a pretensão da disputa pelo poder, das mais variadas formas. Na seara político/partidária, e ante a aproximação do procedimento eleitoral, viu-se em todo o país, as mudanças de partido político e a quebra de compromissos assumidos e mantidos enquanto auferia-se, individualmente, dividendos eleitorais.
É por isso que, apesar desse fascínio, nem sempre o homem se prepara para o exercício do Poder. É razoável questionar por que então manter-se a classe política? Quem afirma serem necessários 570 deputados? Os políticos. E se a classe política desse um tempo? Deixasse de existir por pelo menos uma década e permitisse à sociedade se organizar em torno de um novo paradigma que não tivesse o vírus da política nem dos políticos? Quem pode afirmar que não, se nada foi tentado? E se os políticos não fossem mais escolhidos pelo voto, mas pelo veto e durante o (longo, espera-se) período de hibernação, lhes fosse imposta uma radical reciclagem que incluísse o fim de todos os seus privilégios, como salários altos, imunidade parlamentar, nepotismo, pagamento de despesas extras? Sem relevar números ao pé da letra, e se em vez de 570 fossem apenas 135, uma média de cinco por estado? O mundo, o Brasil está a exigir um novo modelo político.