O perigo das armas

O perigo das armas está entrando pela porta da frente das casas e escolas brasileiras, levando medo e insegurança a alunos, professores, diretores e funcionários. A pesquisa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) “Cotidiano das escolas: entre violências”, realizada em escolas públicas de cinco capitais brasileiras (Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Porto Alegre e Belém), e no Distrito Federal, revela a extensão do porte e do uso de armas no ambiente escolar e como tais violências passaram a integrar o dia-a-dia das escolas. 

De cada três alunos, um já viu armas circulando na escola. Quase 35% dos alunos (585 mil) e 29% dos professores entrevistados disseram que viram armas. Entre os alunos, 12% (204.696) já viram. Os números são preocupantes por dois motivos. Primeiro, porque revelam os riscos a que estão sujeitos adolescentes, jovens e membros do corpo técnico-pedagógico. Quando existem pessoas armadas, circulando no espaço escolar, qualquer discussão banal ou briga pode resultar em violências extremas, como ferimentos e mortes. A imposição da força acaba se sobrepondo ao necessário diálogo, na solução de conflitos no ambiente escolar. 

Outro motivo de preocupação é que a presença de armas nas escolas prejudica a qualidade do ensino. Se estudantes e professores sentem-se ameaçados, é impossível criar o ambiente propício ao ensino e ao aprendizado. Em um clima hostil e de ameaça, não há professor que possa ensinar bem e não há aluno que possa concentrar-se nas aulas. A violência no ambiente escolar contribui, portanto, para o mau desempenho estudantil, a repetência, a evasão e a desvalorização da escola. 

É preciso então que toda a sociedade – principalmente a escola – reflita sobre o problema e adote providências para mudar essa realidade. Em primeiro lugar, é importante encarar a situação. De nada adianta fingir que o problema não existe. Também não é solução propor medidas repressivas nem instalar detectores de metais nas escolas. A saída deve passar pela criação de espaços de diálogo e mediação de conflitos dentro da própria escola, nos quais os jovens atuem como mediadores. 

A abertura de estabelecimentos de ensino nos fins de semana para atividades de esporte, lazer e cultura também tem se mostrado eficaz na redução da violência. Mas a quantidade de armas nas escolas só diminuirá se houver um trabalho de prevenção nos lares. Adolescentes e jovens que encontram armas disponíveis em casa tendem a usá-las para se defender. 

Já na pesquisa “Violências nas escolas”, a Unesco detectou que entre um terço e um quinto dos estudantes têm contato com armas de fogo na esfera familiar. Tal situação variava entre 32% em Porto Alegre e 18% em Belém. E são os próprios jovens as maiores vítimas dos homicídios por armas de fogo no Brasil. Faz-se necessário ainda restringir a circulação de armas de fogo no Brasil. Um passo importante foi dado com a Campanha Nacional de Desarmamento, que ajudou a diminuir o número de armas nos domicílios e nas ruas. 

Agora, é chegada a hora de pôr em prática o referendo popular sobre a proibição do comércio de armas de fogo e munição no País. Que a população diga “sim” em favor da paz. É também fundamental aumentar os investimentos em educação, de forma a permitir o financiamento de programas sociais, educacionais e de segurança nas escolas. Uma escola apoiada, protegida e valorizada adquire força e condições para defender melhor nossas crianças e jovens. Sou contra a liberação de armas.

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