Mágoas, ressentimentos são freqüentes na experiência mais guardada das pessoas. Quem já não teve seus motivos de guardar uma dor, um sentimento rebentado, uma raiva por desejos frustrados, ou até ódio por uma situação transtornada, humilhante ou injustiçada? Eu já tive, e de quando em vez tenho uma recaída. Somos todos muito capazes sim, desses sentimentos raivosos. Eles compõem a nossa realidade humana. Contudo, é bom lembrar que nossas mágoas não resolvidas promovem sequelas muito sérias, quando as mantemos nutridas e realimentadas dentro de nós. Torna-se possível então, uma imensa produção de destruições em nós mesmos.
Se não nos livrarmos dela, adoeceremos por dentro. Neste sentido, perdoar é uma escolha que fazemos, para viver livre dos fantasmas destrutivos. Não se trata de minimizar ou negar a própria dor, os sentimentos, mas de redimensioná-los. Quando nos impedimos de perdoar, nos impedimos também de crescer, de nos desembaraçar-nos, de sermos nós mesmos. Enquanto não perdoamos, concedemos muito poder ao outro de continuar nos afetando. Temos o direito de ficar irados quando nos maltratam, mas perdoamos para continuar a viver com qualidade. Perdoamos para ter condições de controlar nossas emoções, para preservarmos o bom senso e resgatar em nós, a experiência de paz que pode ser sentida.
Que ensaiemos portanto, passar do estado de raiva, de ódio, de intolerância, para um estado de compreensão do humano, em suas falhas e encantamentos. Somos todos maravilhosos e destrutivos. Capazes de amor e ódio. Cabe-nos dar destino ao que somos. Cabe nos apropriarmos do que queremos ser e fazer. Perdoar é abrir mão do ódio e permitir que a vida continue.