Faltam vozes altivas

Há uma crise abalando os alicerces da Nação. É tempo de instaurar um diálogo construtivo entre os partidos políticos e a sociedade e sair das brumas de um entardecer para despertar um bom-dia brasileiro. Os grandes intérpretes da vida nacional sempre disseram que o mal do nosso País é o marginalismo das elites dominantes, que vivem submissas ao mundo exterior, limitando-se a copiar leis e instituições alienígenas.

O copismo legiferante produziu um país injusto. Os guias da nacionalidade são conhecidos. A lição dos jesuítas nos primórdios da terra de Vera Cruz e a epopéia dos bandeirantes (Raposo Tavares, Garcia Paes, Bartolomeu Bueno e Fernão Dias) demarcaram os limites do Brasil, tornando letra morta o Tratado de Tordesilhas. Mas não deu para transformar em realidade os sonhos de Frei Caneca e Tiradentes.

O clarim da independência não frutificou em justiça social. A única saída é retomar os princípios fundamentais da nossa história. Se olharmos à nossa volta, veremos que faltam vozes altivas e competentes, como ouvimos de Bernardo Pereira de Vasconcelos e Honório Hermeto Carneiro Leão, e a presença marcante de um novo Mauá na luta pela emancipação econômica. Tampouco temos a visão de um Rio Branco na política externa.

Falta-nos um ideário nacional. Nossos eldorados são coisas do passado. O ouro de Minas foi carreado para um dos países que lançou as bases do turbocapitalismo neoliberal. Sérgio Buarque de Holanda, em seu notável livro Visão do Paraíso, lembra esquecida página de Caio Prado Júnior: Na realidade nos constituímos para fornecer açúcar e tabaco, mais tarde ouro e diamantes, em seguida algodão e café para a metrópole européia. Não mudou muito.

Uma nova etapa está em andamento e terá seu epílogo no grande comício eleitoral de outubro. Já passou da hora de conhecer os planos dos candidatos presidenciais. Aqui e ali há trechos com o evidente propósito de abrandar um choque com as forças que dominam o mercado, ao dizer que alterações na proteção à produção nacional não implicam, contudo, o fechamento da economia, nem tampouco devem promover a ampliação do grau de monopólio e de margens de lucro das empresas instaladas no país. Lembro agora uma frase de Joaquim Nabuco: Se dos moderados não se podem esperar decisões supremas, dos exaltados não se podem esperar decisões seguras.

Mudaram apenas os personagens, mas a situação é idêntica. Em que pese os avanços sociais e se diga que vivemos em um Estado Democrático de Direito, continuamos sem a tão sonhada liberdade.

Se no passado, como os militares, não tínhamos vez e voz, agora no presente, quem nos silencia são os bandidos. As favelas do Rio (sempre o Rio!) são exemplos vivos de que o cidadão nada pode quando o Estado-traficante não permite. Jacarezinho, Vidigal, Providência, são lugares com mais de meio milhão de habitantes dominados e aterrorizados ao ponto deles não saírem de casa ou irem à escola se o tráfico não permite.

Aqui no outro Rio, o do Norte, a cidade passou horas e horas em poder de bandidos que, ao final pegos alguns, foram soltos pela Justiça. Sem contar que nos dois Rios (de Janeiro e do Norte) tem policiais à beça envolvidos no mundo do crime. Para não ficar só nesses dois Estados, no Espírito Santo, a maior quadrilha é dirigida pelo presidente da Assembleia Legislativa e por um coronel da Polícia Militar. E Em Manaus? Basta ver quem está preso.

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