Como escrevi sobre o perdão no artigo passado, entro no espirito natalino e exponho minha alegria por esta época. Nossos pensamentos e sentimentos, no dia de Natal que este ano cai no domingo, tornam-se mais sublimes, nobres e profundos. Os ambientes são coloridos de flores e pisca-piscas. Fogos de artifício, dos mais variados, enchem os céus de glória. Tudo canta de alegria!
O exterior parece traduzir uma linguagem interna de bons desejos. Os profetas, porém, alertam: “Talvez seja no Natal que nossas carências ficam mais expostas. Damos presentes sem nos dar, recebemos sem acolher, brindamos sem perdoar, abraçamos sem afeto, damos à mercadoria um valor que nem sempre reconhecemos nas pessoas” (Frei Betto, Folha de São Paulo, 24/12/97).
É preciso celebrar hoje não apenas 25 de dezembro, mas o Natal do Senhor. Por isso, não tem sentido colocar o presépio no local de convívio, se não há um ambiente acolhedor, uma família construída. Terá valor a árvore natalina, ornada de enfeites, luzes e bolinhas, sem o ser humano ser revestido de sua dignidade? Que significado terá o banquete natalino sem preocupação com a campanha do Natal sem Fome para uma justa ceia dos 50 milhões de famintos brasileiros? De que adianta a figura ilustrativa do Papai Noel trazendo brinquedos e alegria aos filhos, se os adultos não trouxerem esperança e educação às crianças e jovens? A estrela de Belém brilha mais quando houver luz nos corações. É difícil ser estrela…
Muito mais fácil é ser cometa. É mais simples ser fraterno somente nessa época de sentimentos solidários. Domingo é Natal não porque os sinos repicam nas igrejas, mas porque as vozes e vidas dentro delas multiplicam bênçãos. É noite santa não porque se cantará o tradicional Noite Feliz, mas porque se canta e concretiza a felicidade em cada dia do ano. É Natal não porque um menino nasceu há 2 mil anos, mas porque Ele renasce hoje onde o amor for vivido e celebrado. É Natal não porque Deus se faz novamente uma criança, mas porque permanece conosco desde aquele primeiro presépio. É Natal não porque nos emocionamos entoando cantigas natalinas, mas porque ajudamos aqueles que não podem cantar e se alegrar.
Se Jesus nascesse em nossa época, para ser adorado, talvez tivesse que nascer num shopping, não numa estrebaria. Existem presépios feitos com criatividade, dos mais variados materiais: de madeira, de gesso, de pano, de lata, de palha… Neste ano, chamou-me atenção um presépio feito, em uma casa humilde que visitei. Acontece que o Menino Jesus estava sem braços, que se quebraram de um ano para outro. Para utilizá-lo novamente, com os panos da manjedoura ela cobriu o corpo do menino, ocultando assim seu defeito de não ter os membros superiores. Então me ocorreu dizer o seguinte, na ocasião: “Esse menino está sem braços, porque precisa usar os nossos”.
Desejo a todos um Feliz Natal e Ano-Novo cheio de alegrias e bons projetos!