Ensino para a morte

Foto: Reprodução/Shutterstock

Vamos escolher qualquer tipo de crime. Assalto a banco, a loja de conveniência, sequestro relâmpago ou não, assassinato a faca, a tiros ou a golpes de caratê, espancamentos, embalados ou não por drogas pesadas, ao som de rock da pesada, tudo isso se encontra à disposição em qualquer horário da televisão ou na rede dos cinemas locais.

Junto a esta espantosa celebração do massacre e da boçalidade – a mais indigna e infame traição à liberdade de expressão de todos os tempos –, os roteiristas e diretores dos filmes, especialmente os de Hollywood, sob o pretexto hipócrita de que estão denunciando a violência, esforçam-se ainda em ensinar como disparar com uma calibre 12, arrombar uma porta ou um cofre, anular um alarme, disfarçar-se de autoridade para cometer um latrocínio, dirigir um carro para uma fuga espetacular.

Nunca em toda a história da humanidade a delinquência e a perversidade foram apresentadas com tanta emoção, fascínio e glamour. Ao tempo que isso se dá nas esferas do imaginário, acompanhando-o, no terreno da sociabilidade, aboliram-se as palavras “respeito”, “castigo”, “autoridade”, “bons modos”, “certo ou errado”, ou um simples “ não”. Nem “zero” um professor pode mais colocar numa prova ruim.

O fato é que a economia política do crime, gerada pela permissividade da sociedade liberal-democrática que vivemos, tornou-se um poderoso subsistema econômico que, somente no Brasil, movimenta importâncias que oscilam de R$ 30 a 40 bilhões. É algo colossal. Envolve seguradoras, empresas de vigilância privada, fábricas de alarmes, cadeados, ferragens e cercas de toda espécie, sofisticados sistemas eletrônicos, aos quais ainda se agregam as blindagens de carros e a venda de armas dos mais diversos calibres.

Além de as grandes prisões serem construídas hoje dentro das cidades – fazendo com que com um simples pular de muro ou um esgueirar-se por um bueiro, quando não uma fuga pela porta principal, ele já possa voltar a agir –, penas de meio expediente ajudam-no a dedicar-se às investidas contra a vida e o patrimônio alheio durante o dia. Cometida a violência, ou qualquer outro desatino, uma nova camada de interessados é então mobilizada.

São psicólogos, assistentes sociais, antropólogos, terapeutas, médicos, enfermeiros, advogados criminalistas, a previdência pública e privada, e, naturalmente, os agentes funerários, que, com caras compungidas, mas esfregando as mãos, são chamados para reparar ou enterrar os estragos a que as vítimas e os seus foram submetidos. Enquanto isso, reflexo da impotência da sociedade perante a expansão avassaladora do mal, organizam-se passeatas pela paz onde pequenas multidões vestidas de branco e soltando balões esperam que os bandidões as ouçam, reflitam, baixem as armas e fechem as braguetas.

Além de ser uma memorável perda de tempo, pelo menos poderiam poupar-se do ridículo. O que ocorre hoje no Brasil, aproveitando-se da era universal da licença, é a revolta da oclocracia, é a ralé criminosa rebelada contra o demos, o governo dos cidadãos, contando para tanto, a seu favor, com o sentimento de culpa e a covardia desses frouxos que ora estão no poder e com a massa de dinheiro que suas infâmias não param de fazem girar.

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