O primeiro turno da eleição para Prefeito e vereadores, ocorre em dez dias. Os brasileiros estão democraticamente envolvidos nesse clima de disputa cívica, numa demonstração de vigor das instituições políticas. Pesquisas eleitorais, debates entre candidatos, a paisagem das ruas e especialmente o programa gratuito de televisão indicam compreensivelmente o acirramento do debate e da disputa. Uma campanha eleitoral é, por definição, um confronto de posições, de idéias, de perfis, de experiências e de projetos.
Compreende-se, por isso, que no acesso dos debates os candidatos e suas alianças partidárias tentem valorizar-se e busquem colocar-se como alternativas melhores e tentem apontar os pontos vulneráveis dos adversários. Até aí, nada mais democrático nem mais compreensível. O que não é democrático, nem compreensível, nem civilizado é extrapolar os limites, baixar o nível e utilizar-se de meias verdades ou de mentiras completas nessa tentativa de buscar o voto do cidadão. Cabe aos partidos e candidatos zelar para que essa pequena mas consistente tradição eleitoral se aprimore ainda mais.
A disputa eleitoral não é o jogo do vale-tudo. E a eleição em si não é mais que a execução de uma rotina de aferição da vontade da população, construída sobre rituais rígidos para evitar que tal manifestação seja perturbada ou fraudada. Nosso aprimoramento político, que já avançou e que já permite que o país seja visto como uma democracia grande e sólida, pode e deve avançar ainda mais até converter-se num processo sem sobressaltos.
O que está em causa nesta e em qualquer eleição, por mais momentosos que sejam os problemas em debate, é singelamente a substituição ou não de autoridades legislativas e executivas. Não se trata de uma revolução, mas, ao contrário, do cumprimento das disposições constitucionais e legais que dão forma ao princípio republicano da alternância dos representantes da população à frente dos poderes do Estado. Por isso, nada justifica comportamentos que quebrem as normas estabelecidas ou que firam a urbanidade, o bom senso e até o bom gosto.
O eleitor, que amadurece a cada experiência eleitoral, saberá avaliar os candidatos e os partidos pela performance do passado e pelos projetos com os quais pretendem conduzir o futuro. Na luta cívica pela caça ao voto, vale tudo: de goles de cachaça a dois ou três almoços diários, passando pela proeza de carregar crianças, beijar quem estiver à vista, carregar agua e, sobretudo, suportar a enxurrada de pedidos dos eleitores em potencial. Há alguns meses, eleito prefeito de uma cidade do nosso Estado, me dizia o alcaide do sofrimento que significa beber sem vontade, comer sem fome, conversar sem assunto, tudo em nome das urnas.
Com o fígado brigando com a vesícula, segue o candidato em direção às urnas consciente de que seu marketing eleitoral depende de anotar todos os pedidos – que vão de tijolos a dinheiro e aval para negócios bancários. Nos pequenos municípios, mais vale uma boa promessa do que uma má resposta negando a pretensão e destruindo o sonho. A técnica é simples: rasga-se as anotações, já que candidato não é empresa financeira.