No final da semana, zapeando os canais de televisão, parei em um, em que uma atriz de cinema pornográfico contava que que protagonizou uma, digamos, façanha. Como semifinalista da I Maratona Internacional de Sexo, realizada na Europa, com disputas ao vivo, a entrevistada praticou sexo com 633 homens durante oito horas ininterruptas. Isto significa 80 cópulas por hora ou, em um cálculo mais minucioso, uma a cada 1 minuto e três segundo – o que confere aos ‘atores’ envolvidos, pela rapidez, desempenho sexual digno daqueles graciosos animais orelhudos tão lembrados na Páscoa.
Bonita, 25 anos de idade, a atriz respondeu às perguntas com extrema naturalidade, mesmo às mais corriqueiras, como a se fora preciso usar gelo na cidadela após tantas horas sob os ataques de aríetes apressados. Parte do corpo de entrevistadores, duas jovens nitidamente curiosas insistiam em perguntar se, em algum momento, a atriz atingira o clímax e, mais, como poderia ocorrer tudo aquilo sem envolvimento, sem amor. Talvez desinteressadas das coisas do cotidiano brasileiro, não se deram conta de que 633 cópulas em 8 horas não significam uma proeza.
Afinal, os poderosos da República – figuras de proa do Executivo, do Legislativo e do Judiciário – impõem a mais de 200 milhões de brasileiros, 24 horas por dia, 365 dias por ano – ainda bem que só como metáfora -, o que os ‘atores’ fizeram em parcas oito horas à atriz entrevistada. E nem por isso temos orgasmo ou somos apaixonados por eles. O panorama estampado de corrupções, que faz o rio correr para interesses pessoais e não para interesses do Estado, nos faz pensar que os políticos desviaram a rota de seu saber e de seu dever para com o Estado.
A polis, não parece mais ser a morada, o lugar seguro, confiável do cidadão, ela tornou-se o lugar incerto que desampara o homem contemporâneo. A consciência grega era uma consciência feliz, porque os interesses do cidadão grego eram os interesses da polis, não os interesses individuais. Deslizamos historicamente para o seu avesso. A ação política com a qual se convive hoje, tem deixado de servir à polis e voltasse para o candidato eleito e os interesses do grupo que lhe dá apoio e sustentação.
Em meio à escassez de atitudes éticas, isso vai sendo lamentavelmente legitimado, tornado natural. E nós, vamos nos conformando a tais deformidades. Saramago diz que ‘cada um de nós é filho de suas obras’. Talvez tenhamos de lembrar disso ao votar. O próximo presidente é filho de nosso voto. Temos o dever e o direito de eleger políticos ‘sarados’, éticos, justos, transparentes, que cuidem do Estado, e não abandonem a causa do povo que governa. E quando os encontrarmos, é preciso elegê-los e apoiá-los, contribuindo para que façam jus à eleição de seus nomes.
Diante dos lances teatrais a que vem se dedicando o presidente do Congresso, urge que se reavivem mesmo alguns conceitos que de tão acacianos constrangem quem os repita. Como este: é pecado contra a inteligência e a moral confundir-se as partes com o todo. Ou, então, além disso, e por consequência, subordinar essa instituição – O Judiciário- que vitalmente carece de independência para exercer sua função judicante – a outro poder. Estão querendo nos impor uma maratona de sexo explicito no sentido figurado.