Sinto-me melhor trabalhando com tendências mais ou menos já assentadas no tempo e com possibilidades de realizar comparatividades com outras sociedades e outras culturas. Por outro lado, objetivamente, esta crise política atual já vai completando muito tempo de intensíssima cobertura por todas as formas de Imprensa e em todos os segmentos dos meios de comunicação de massa.
Por intensidade e por extensividade, a esta altura, as várias audiências e os vários públicos já estão meio como que saturados de tanta cobertura informativa e analítica e de tanta exposição ao tema. Sei que tem de ser assim, inclusive por que para cada dito há um desmentido, e o noticiário e as análises têm de acompanhar o ritmo dos acontecimentos.
Estava tentando não desperdiçar este meu espaço aqui com este tema, e cuidando daquilo de que me sinto mais apropriado para escrever. Além do mais, nunca possuí vocação para ser o cidadão indignado, aquele de carteirinha, ou, mesmo, menos que tal. Hoje, no entanto, rendo-me a um fato de momento, que é a necessidade historicamente crucial de se falar com clareza e seriedade em vez de ficar declarando vagas miudezas, fragmentos de sabão.
Faz-se necessário um pronunciamento – no sentido brasileiro do termo, e não na terrível acepção hispânica. Candidato: como diz um brincalhão conhecido meu, “ou é, ou deixa de é”. Ou, afirmando de modo erudito e acadêmico, citando um dos mais importantes sociólogos em atividade no mundo, o novaiorquino Immanuel Wallerstein: “O mundo moderno tem sido, ao longo de maior parte da sua história, prisioneiro da doutrina aristotélica do terceiro excluído. Uma coisa é A ou é não-A. Não existe uma terceira possibilidade.”
Intelectualmente e existencialmente eu fujo deste aristotelismo extremamente limitador, tendo já de muito tempo absorvido a ideia de que as coisas e as pessoas podem ser duas coisas diferentes ao mesmo tempo, ou pelo menos podem ser medidas e avaliadas de duas formas diferentes.
Quem já leu Marcel Proust entenderá muito bem o que eu estou dizendo. Mas neste momento, angustiante até, de uma crise brasileira, tem de se impor aos dois candidatos a presidência a doutrina do terceiro excluído. Ocorreram determinados fatos, ou não ocorreram; se existiram traidores, dê os seus nomes, desqualifique-os eticamente e de maneira rápida e contundente, e mande-os para aquele lugar.
Um candidato, se é realmente honesto e não tem rabo de palha, desvencilha-se de um escroque com duas ou três palavras. A coisa toda é muito chocante para comportar nuances de tratamento. A sucessão de ditos e de desmentidos já se tornou insuportável para a (in)compreensão da população brasileira.
Lembrem-se candidatos de um pequeno poema da Gertrude Stein que diz: “Uma rosa é uma rosa, é uma rosa, é uma rosa.” E pronto.
O resto não é silêncio (muito menos dos intelectuais). Então candidatos deixem de pavulagem, domingo é a eleição e quem tiver mais votos ganhará naturalmente.