Somos pessoas em processo permanente de aprendizagem, o que quer dizer protagonistas de mudanças drásticas, de tempos em tempos. Mas mudar assusta também, porque denuncia inexoravelmente o novo, o qual, por ser desconhecido, dá muito medo. Por causa deste medo, muitas vezes nos encolhemos no velho, confortavelmente perigoso.
O velho é perigoso porque é ameaça de morte, é ausência de vida, é falta de tesão e de energia, mas é confortável na falsa serenidade que oferece. Gente não nasce sabendo como sobreviver. Precisa aprender as coisas mais simples, até como ter fome e sono, por incrível que pareça.
E o que pensar de outras aprendizagens que são ainda mais complexas e mais exigentes, as quais não conseguimos fazer sem escola, tais como aprender a ler e a escrever, ou a ingressar nas maravilhas da estrutura multiplicativa dos números, quando da iniciação matemática, a qual faz uma falta grande para que a gente se sirva da articulação em rede que preside a maioria dos pensamentos.
Pensar é indispensável para entender, porque às vezes somos felizes e às vezes não, e para nos ajudar a aumentar as chances de nos sentirmos bem. Aprender é, portanto, mudar. Mas mudar tem dois momentos que se alternam, o das mudanças nas bases e o das mudanças em cima de bases assentadas.
Há momentos em que mudar é colocar elementos para edificar sobre um alicerce posto. Há outros momentos em que mudar significa mexer nos próprios alicerces. Em educação, hoje, impõe-se o segundo momento, o de remexer nos próprios alicerces, para sobre eles conseguir apoiar novas estruturas.
Este momento implica remexer nas ideias que animam a prática dos professores, porque, conforme tão bem assinalou Paulo Freire, não há prática sem teoria, isto é, não há ação sem ideia por detrás. E são as ideias que sustentam a prática escolar que demandam mudanças.
As ideias vigentes nesta área estão equivocadas e superadas. E de seu equívoco emana uma injustiça detestável – a não-aprendizagem pelos alunos nascidos em famílias pobres que frequentam nossas escolas públicas, quando eles todos podem aprender. Fazer esta mudança implica tanta coragem e tanto apoio popular como a mudança na ortodoxia monetarista que domina nosso modelo econômico.
Que cada um de nós ajude a promover tal mudança, porque, se você não muda, o Brasil não muda. Estamos todos convocados a gritar presente. Esta “festa da democracia”, portanto, é ainda uma caricatura do que se espera de uma verdadeira democracia, aquela onde se possa realmente escolher entre fins substantivos, onde a eleição seja apenas o momento de escolher os nossos representantes, onde as ações de todos os poderes de governo sejam orientadas apenas pelo bem comum, e onde as pessoas possam fazer política sendo apenas elas mesmas.
Talvez isso seja só uma utopia (creio que sim), talvez a nossa infante democracia se justifique mesmo, apesar dos seus vícios, apenas pelo fato das alternativas a ela serem todas inconcebíveis, e talvez esta ambiguidade seja mesmo uma natureza indelével da democracia, ou talvez a gente até chegue lá; de qualquer forma, como dizia Paulo Freire, não se pode alcançar o outro lado da rua sem atravessá-la.