Canalhas

Os canalhas não têm passado moral a preservar. Não têm igualmente um nome a zelar. Nem muito menos estão preocupados com a opinião da sociedade a seu respeito. São servos de sua própria canalhice.

Por isso os canalhas são audaciosos. Não temem ser canalhas, desde que tirem proveito próprio de suas atitudes. E ser canalha populista em cargo público de destaque é ainda mais insidioso. É, sem dúvida, o incessante fluxo de sofisticadas hipóteses sobre a mente que, segundo a grande filósofa do século 20, a alemã Hannah Arendt, “é a mais ardilosa das propriedades do homem”.

Apesar dos pesares e dos atuais dissabores internos, com relação aos pecados do Executivo e do Parlamento (crises da República), o Estado brasileiro, no âmbito internacional sempre preparou a sua história cuidadosamente, de maneira a torná-lo respeitado.

Mas, em acontecimentos recentes, de modo inesperado e, para o qual não estava preparado, o Brasil se vê às voltas com o populismo político na América Latina. Região da qual é participante de peso, política e economicamente. Na verdade, as atitudes imprudentes do presidente Michel Temer, ao negociar com os caminhoneiros, acompanhadas de insinuações injuriosas bem comuns aos baixos padrões morais dos que ocupam indevidamente altas posições de modo surpreendente, acompanhada da protetora atmosfera de conivência que envolve outros países sul-americanos já deveriam ter sido consideradas inaceitáveis pelo Brasil.

E na sociedade de consentimento o compromisso do cidadão com a lei é o que mais deve ser considerado. A lamentar em todo o episódio e, mais uma vez, a deficiente atuação do governo brasileiro que, também em matéria diplomática é frustrante e decepcionante.

A maneira demagógica como o presidente Temer se comportou e vem se comportando, atinge as raias do risível, da chacota e da gozação, inclusive dos seus próprios pares sul-americanos. A ordem do dia da ética e da moral há muito vem sendo quebrada.

A insegurança, o cinismo e a falta de vergonha dos nossos políticos tornam-se cada vez mais insustentáveis à leveza de Kundera – pesada segurança da liberdade. A escalada de importantes pigmeus dos nossos Três Poderes, corrupto e ladrões, assombra a sociedade.

Eles surrupiam o tesouro nacional e, como Antônio Maria, rasgam nossa carta de cidadania e zombam da nossa capacidade de raciocinar – dão asas a uma brevíssima anarquia generalizada no País, molestando os homens de bem e formando quadrilhas de criminosos em todos os segmentos.

Isso sem falar nos caixas-dois e na cobertura da turma do cartel das drogas. Ninguém vê sequer uma atitude das autoridades policiais e, pasmem, judiciárias, de cuja cartilha de leis traduzem, pantagruélicos, os julgamentos sérios em gigantescas e já folclóricas pizzas.

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