A Força dos Desejos

Nunca o desejo de bem-estar foi tão forte. Pessoas e sociedades sonham cada vez mais com avanços e redenções. Só que na vida real a felicidade parece cada vez mais difícil de ser alcançada. Ninguém se compraz por muito tempo com o alívio causado pela superação de algumas dificuldades. Por isso, o desafio é determinar o que fazer para aperfeiçoar de modo constante e sustentável o estado material e espiritual da Humanidade. O problema é que não basta querer; é preciso também saber como chegar a melhores resultados. Não adianta imaginar perfeições paradisíacas sem saber como conquistá-las. Igualmente inútil é conhecer o caminho sem ter a tenacidade para trilhá-lo enfrentando seus percalços. 
Foto: Reprodução/Shutterstock
As sociedades só conseguem se aperfeiçoar quando suas instituições, preocupadas em gerar um todo harmonioso, oferecem aos indivíduos condições propícias ao desabrochamento e à realização de suas potencialidades. Como o entendimento é precário e os desejos, ilimitados, o ideal está crescentemente se descolando da realidade. Todos temos, independentemente de grau de instrução, diminuta compreensão do mundo e de nós mesmos. E, no entanto, nos sentimos capazes de controlar as situações e ditar o rumo dos acontecimentos. Falamos como se tivéssemos perfeito conhecimento dos fenômenos psicológicos e sociais. E agimos sem ciência como mãos tateantes que procuram objetos no escuro. 

A falta de saber tira da ação o poder de perseguir com eficiência melhores resultados. A busca do ideal deve se basear nas potencialidades que o real oferece, não em sua negação. A pseudo-sabedoria estimula a expansão da vontade cega que atropela os objetivos na ânsia de atingi-los. Brandindo a mais reles teoria da conspiração, todo mundo se acha em condições de proclamar verdades sobre as mais intrincadas matérias. Nas lutas pelo poder se explora, de forma cada vez mais cínica, o abismo entre os desejos e o entendimento do homem comum. Mesmo sem saber como funciona a máquina do mundo, os demagogos aproveitam-se do infortúnio alheio apresentando-se como semideuses capazes de tudo mudar. Prometem, para ter (mais) poder, um mundo melhor sem saber o que faz a dura realidade ser o que é. Manipulando as massas, ocultam o vazio intelectual com a retórica genérica de que um outro mundo é possível. 

As decisões fundamentais continuam sendo tomadas por governantes despreparados que nem sequer têm noção de quão complexas são as situações corriqueiras que administram. E para piorar registra-se a fragmentação da “vontade geral” com a ênfase recaindo cada vez mais sobre os grupos de interesse. Os fins da política se deslocam, de modo alarmante, dos indivíduos para os grupos e as etnias. E isto aumenta a distância entre as pessoas a ponto de impedir que haja um acordo fundamental em torno dos direitos e dos deveres de todos. Estamos todos, indivíduos e sociedades, atrás de desejos que não sabemos como realizar. Vivemos acima de nossas possibilidades porque agimos sem a devida compreensão de nós mesmos e dos outros; e aquém de nossas possibilidades, porque estamos longe de tornar realidade nossos mais caros desejos. Os desejos são luzes que, bruxuleantes na imensidão, estimulam o pensamento a descobrir novos caminhos em continuação aos conhecidos ou na direção contrária dos percorridos.
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