A geração de empregos da Amazônia realmente está acontecendo?

Muitos profissionais ainda continuam sem suas recolocações. Ao mesmo tempo que essa realidade machuca, ouvem em noticiários e leem em mídias sociais que a geração de empregos está crescendo e, com isso, suas esperanças se renovam. E com razão.

Mesmo assim, muitas dúvidas surgem quando ouvimos que não estamos mais na crise econômica. E realmente não estamos. Esse exato momento é de pós-crise, que não é rápido, porém, mais próximo do fim definitivo. Nesse período, muitos “restos” de problemas financeiros dificultam a recuperação de muitas empresas. Mesmos que seus faturamentos tenham aumentado, podem estar mergulhadas em empréstimos, ou sem crédito para novas compras ou problemas parecidos. Para o empresário que está na ponta recebendo toda a carga de cobranças, isso é terrível.

Sobre o crescimento na geração de empregos e a melhoria do mercado de trabalho de uma forma geral, temos algumas observações. Na realidade, respostas para muitas perguntas.

POR QUE MUITAS PESSOAS AINDA CONTINUAM DESEMPREGADAS SE A GERAÇÃO DE EMPREGOS ESTÁ AUMETANDO?

Realmente é estranho quando ouvimos que a geração de empregos está crescendo, mas continuamos vendo aquele(a) nosso(a) amigo(a) desempregado(a). Mas esse efeito é “natural” se fizermos uma análise técnica de mercado, considerando todos os episódios que ocorreram ao longo desses últimos 06 anos de recessão.

A crise que passamos foi tão violenta, que a cada 05 pessoas ao nosso redor, 04 ficaram desempregadas, sendo familiares, amigos, colegas de trabalho e conhecidos. Esse é um índice altíssimo, considerando a quantidade de pessoas que antes já estava desempregada. De forma prática, nós estamos falando que a cada 05 pessoas ao nosso redor, 04 ficaram desempregadas + as que já estavam antes da crise começar. Se alinharmos os números com a soma de um fator com o outro, chegaremos a uma quantidade astronômica. Com isso, imagina-se um cenário para criar a recuperação de todo esse volume de profissionais?

Fora o que falamos acima, precisamos ficar em alertas para divulgações sobre dados positivos sobre geração de empregos. Em muitos casos, empresas substituem um grupo de profissionais por outro. Isso não pode ser considerado como geração positiva de emprego, afinal do outro lado está tirando. Assim, fica zero a zero.

Para fazermos um Raio-X do cenário atual da Amazônia, precisamos levar em consideração todos os setores imagináveis: Indústria, Comércio, Serviço, Terceiro Setor, Poder Público, Trabalhos Autônomos e Liberais, e outros. Essas são as classes que mais puxam o motor econômico e de geração de empregos.

– INDÚSTRIA: as contratações têm sido graduais, de forma compassada. Operadores e Auxiliares de Produção têm sido as funções que mais contratam proporcionalmente. Na segunda posição, também de forma proporcional, as contratações técnicas dominam as recolocações. As funções administrativas vêm por penúltimo. E as com níveis gerenciais por último.

O que isso nos mostra: quando cargos operacionais e técnicos são contratados em proporções maiores do que os outros setores, significa que as empresas estão retomando o poder de produção. Dentro disso, existem duas situações: ou elas venderam os estoques que estavam parados (o que significa que o consumo da população aumentou) ou elas já perceberem isso e começaram a reativar suas estruturas de produção.

Além disso, alguns Estados da Amazônia estão entre os primeiros em geração de empregos diretos. O Amazonas, por exemplo, aparece na 4ª posição na lista nacional de regiões industriais com maiores crescimentos em 2019.

O interessante da Indústria estar aquecendo é que com suas estruturas ampliadas, também aumenta as contratações de fornecedores de serviços e produtos. Essas empresas também contratam e geram empregos.

– COMÉRCIO: durante o ano de 2019, teve subidas e descidas bruscas. É o setor mais imprevisível até o momento. No entanto, a tendência estatística de crescimento de 14% de contratações temporárias se comparado ao ano passado (2018) nos mostra um possível 2020 melhor. Com o aumento de contratações, a população elimina dívidas ou as diminui. Com isso, o poder de compra aumenta e o comércio é beneficiado diretamente.

Ainda na categoria “temporários”, as vagas que historicamente estão entre as mais pedidas é Vendedores Internos, Caixas, Estoquistas e Auxiliares de Lojas.

Além disso, os empresários do comércio estão avaliando a possibilidade de aumentarem suas equipes para o próximo ano. De acordo com o desenrolar de votações no Congresso Nacional, teremos um cenário mais visível e que possamos criar projeções mais exatas.

– SERVIÇOS: com o crescimento dos setores de Indústria e Comércio, esse é o segmento que mais se beneficia. Desde os serviços de informática até os serviços de terceirizações de mão-de-obra. A cadeia de desenvolvimento de fornecedores de serviços é gigantesca e tem uma tendência de crescimento de 42% no próximo ano.

Normalmente, os serviços são com empresas de portes menores, que emprega menos pessoas, porém, em grande volume gera uma quantidade significativa de vagas.

Entre as funções que mais contrataram em 2019 e continuam com o ritmo é Operadores de Construção, Auxiliares de Obras, Técnicos de Manutenções Elétricas, Mecânicas e outras, e funções administrativas.

– TERCEIRO SETOR: é um segmento mais fechado, pois envolve contratações eventuais. No entanto, de 2015 para cá muitos cortes em verbas federais foram realizados. Com isso, a baixa para esse setor foi uma realidade. Com os novos investimentos previstos para o país, a tendência é que em 2020 a geração de empregos nesse segmento aumente, pois muitas ONGs, Instituto, Fundações, Federações e afins voltarão a colocar em prática muitos projetos, desde os sociais até os de ordens de utilidade pública, como terceirizações de saúde, segurança, prisional e afins.

– PROFISSIONAIS AUTÔNOMOS E LIBERAIS: essa classe de profissionais é a que mais tem crescido desde 2016. Muitos profissionais que iniciaram trabalhos independentes (sem carteira assinada) já nem querem mais trabalhar via CLT. Nessas atividades descobriram que podem gerar muito dinheiro contribuindo da mesma forma para o INSS.

Ainda nessa categoria, muitos profissionais de escritório estão realizando trabalhos operacionais. Por exemplo: o gerente de vendas da loja X agora ensina e treina equipes comerciais, tendo o seu sustento através desse tipo de serviço. Ou o engenheiro civil, que antes trabalhava em um canteiro de obras de viadutos ou de portes maiores, agora faz pequenas reformas em residências.

Não é uma geração de emprego direto, mas sim de renda. E esse tipo de atuação tende a aumentar. Muitas empresas e organizações, ao invés de contratarem um profissional com todos os custos trabalhistas, estão optando por contratarem para necessidades eventuais. Por isso, é importante estarmos de olho para entendermos como a nossa atividade pode ser aproveitada para esse tipo de trabalho.

SE JÁ ESTAMOS SAINDO DA CRISE, POR QUAL MOTIVO MUITAS EMPRESAS AINDA ESTÃO DEMITINDO?

Essa é uma pergunta um pouco mais complexa para responder. No entanto, o que acontece exatamente no mercado é que muitas empresas estão começando a faturar mais se comparado aos anos anteriores. Porém, muitas delas, para sobreviverem até hoje, fizeram empréstimos e outras dívidas. Isso significa que boa parte do aumento de receita que estão tendo vai para os bancos e não para a sociedade como uma forma circulação econômica. É exatamente por isso que a volta do crescimento tem sido de forma mais lenta.

Para chegar ao ponto de equilíbrio, demissões estão ocorrendo para que assim a folha de pagamento fique menor, ajustada ao menor faturamento. Com a roda econômica tendo aquecimento, o faturamento aumenta de novo e novas contratações ocorrem.

 

Flávio Guimarães é diretor da Guimarães Consultoria, Administrador de Empresas, Especializado em Negócios, Comportamento e Recursos Humanos, Articulista de Carreira, Emprego e Oportunidade dos Jornais Bom Dia Amazônia e Jornal do Amazonas 1ª Edição, CBN Amazônia, Portal Amazônia e Consultor em Avaliação/Reelaboração Curricular.

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