Sobre as boas novas de 2017 a primeira e mais aguardada é a estreia da minissérie Dois Irmãos. Os trechos que já foram exibidos dão uma prévia de que a adaptação apresenta qualidade à altura da obra.
Ao assistir à festa de lançamento da minissérie tive vontade de mergulhar imediatamente na história. Corri para reler o romance e logo a trama ganhou uma nova e mais ampla interpretação.
Ontem terminei o dia relendo os últimos capítulos e chorando – aos prantos – com as lembranças que o livro despertou sobre a minha infância, a transitoriedade da vida, os difíceis laços de família e a destruição da identidade de Manaus – que infelizmente continua acontecendo.
Muito tem sido pesquisado e estudado sobre a obra de Hatoum, me deslumbro sempre que leio algo sobre esse universo fascinante, e com isso o interesse sobre seu trabalho só aumenta.
Adoro assistir suas palestras no YouTube e recomendo a vocês, são um complemento enriquecedor para a melhor interpretação dos livros dele. Essa proximidade – mesmo que virtual – com o autor cria um elo de cumplicidade e maior compreensão e admiração pelo seu trabalho.
Saber que o próprio Milton chorou de emoção ao assistir trechos da minissérie já dá uma ideia da qualidade da adaptação feita pela Rede Globo e libera a nós – simples mortais – para nos emocionarmos com lágrimas também.
Acredito que o grande feito será a conquista de novos leitores. A televisão alcança uma massa enorme, muito maior que o público das letras. E ao se apaixonarem pelo enredo de Dois Irmãos, muitos dos telespectadores vão querer continuar esse relacionamento nas páginas do livro, onde toda a história começou e nunca termina, basta reler que surge um novo olhar cheio de questionamentos atuais.
Para quem é de Manaus, mora ou viveu aqui a identificação é tão grandiosa quanto relevadora, escaninhos da nossa alma são desvendados através dos personagens, da narrativa rica em fidedignidade e do olhar crítico do autor.
Cidade, povo, natureza, costumes, história, pobreza, progresso e destruição: uma riqueza criteriosamente construída pelo arquiteto do romance em um texto sedutor e de qualidade indiscutível.
Entre as inúmeras passagens do livro que tanto me tocaram, finalizo com esta: “Olhava com assombro e tristeza a cidade que se mutilava e crescia ao mesmo tempo, afastada do porto e do rio, irreconciliável com o seu passado”.