Firme, altaneira, elegante. Surpreende mais ainda quando aquela mulher, de 87 anos, informa, com toda a simplicidade do mundo, para a plateia como comandará a leitura e o bate-papo sobre o dramaturgo Nelson Rodrigues. Era ela, Fernanda Montenegro ao vivo e em cores, ali, intimista, conversando com uma minúscula plateia no Café Teatro Les Artistes.
Sou apaixonada por Nelson e admiro a atriz. E a sua performance fez com que se materializasse todo o meu amor por sua incrível atuação seja em qualquer palco da vida. Ela discorre sobre Nelson, inicialmente ao som da ária Pagliatti e, logo após, para recordar a mãe do escritor, ouve-se ao fundo, uma valsa… Como diz Nelson “a voz é música”. Realmente. Apesar de ler, por uma hora, um calhamaço sobre a história da Vida Como Ela É de Nelson, não senti o tempo passar, algumas vezes sorri, a maioria das vezes chorei silenciosamente, diante daquele tempo do escritor que sua vida pessoal e profissional se confundem com as suas famosas histórias, peças, crônicas eternizadas pela filha do escritor.
Aplico, para minha existência, algumas frases incríveis e certeiras de Rodrigues, tais como “Toda unanimidade é burra”; “Só o rosto é indecente. Do pescoço para baixo, podia-se andar nu”; “Não estarei insinuando nenhuma novidade se afirmar que nunca houve uma multidão inteligente”. E a mais intrigante de todas: “Todo amor é eterno, se acaba, não era amor”! Dá-lhe Nelson!
E a Fernanda… o que é a Fernanda… Deus reuniu em uma só pessoa a Inteligência, a cultura, a graça, a educação e, principalmente o bom-humor, há sim, somente os bem-humorados serão eternos, como Fernanda, despojada, carismática, linda e plena, sem ser piegas! Odeio pieguices! Tudo foi tudo! E garanto: Meninos, eu vi Fernanda Montenegro e Nelson Rodrigues na narrativa da atriz e nas borbulhas que estavam no seu copo com água, pousado em cima da mesa. Sim. Nelson veio e referendou tudo. Não estou doida não. Estou é louca de felicidade com o banho de cultura que recebi no aniversário de Manaus. Até.