Quando me entendi por gente, algo que minha mãe dizia para as três filhas era: “vocês vao cursar o magistério, a única profissão que a mulher não fica desempregada, na sala da casa ela pode dar aula. Esse é o legado que podemos deixar para vocês”.
Sem entender muito bem, as três meninas fizeram o magistério e, por tempos, a palavra legado martelou na minha cabeça. Meu pai faleceu muito cedo e minha mãe dizia aos seus cinco filhos: “não temos dinheiro, mas o pai de vocês deixou um legado, o nome dele e a educação, é assim que vamos viver”.
E é isso que passo para os meus filhos e netas. Nada cai do céu, tudo é fruto de muito trabalho, mas se você tem uma educação familiar, exemplos a mostrar, formando a memória de seus filhos e descendentes, nada se perde pelo meio do caminho. E se, por ventura, sem perder, a sua memória de família vai buscar na gavetinha da recordação e as coisas voltam para a ordem natural do tempo.
Imagine que nasci em meio a uma imensa família de imigrantes libaneses, de repente percebemos, mais precisamente meus primos, que não residem em Manaus, que só tínhamos uma única tia viva pelo lado paterno, no mais, são primos, primos dos primos e agregados. O legado, deixado por nossos avós, falou mais alto e criamos a Mourãozada, um grupo de família com mais de 100 pessoas e que se reúne, todo ano, em algum lugar do país.
Esse é o exemplo que passo para os meus filhos, que no início achavam chato, reunião que não conheciam ninguém, mas tiveram filhos e agora querem saber onde será a próxima Mourãozada.