
Inquietou-me, durante alguns meses, o livro‘A Camisa de Marido’, de Nélida Piñon. Escrevo às 2h, momento que terminei de ler a obra da ‘fidalga’, como a chama Lya Luft. Mas, vamos a inquietação. Os contos de Piñon passeiam pela alma humana, nas entranhas familiares, ‘esgrimando’ (termo que tirei do conto ‘Dulcineia’) as palavras, ela solfeja, estoca, remexe os segredos mais recônditos do leitor com as maldades, os assassinatos, os ódios e rancores dos seus personagens.
Tenho dessas. Quando gosto muito do que estou lendo, mimo, volto e re-volto na leitura, com as dores e a encruzilhada de encerrar algo que me faz tão bem pelo aprendizado de escrever. Exatamente. A escrita de Nélida é uma aula! Aprendo na colocação das palavras, na limpeza do texto, na forma como descreve o ambiente, a paisagem, a cidade e, até uma caixa fechada onde, supostamente, existe uma herança.
Quer exemplos? Em ‘A Camisa do Marido”: “Comporta-se em consonância com a vontade do marido, pois ambos firmaram tal acordo no inferno do paraíso em que viveram naqueles trinta anos”.

Olha a delicadeza da frase no ‘Para Sempre’: “De sua força advinha uma voracidade amorosa que se saciava com a vida sem brilho. Era tudo que carecia’. A bem da verdade, Nélida Piñon consegue colocar as palavras em seus contos de forma tão precisa, tão correta, tão fidalga, extremamente machadiana, mestre de todos. Recomendo. Até.