Rondônia: Estado que já foi apelidado de Eldorado e Canaã brasileira

Matérias em jornais e revistas mostrariam em 1985 que o alardeado Eldorado estava minado por malária, falta de crédito, de estradas e desassistência

Nova geração de descendentes de pomeranos desembarca em 1979 na antiga rodoviária de Pimenta Bueno. Foto: Reprodução/Governo de Rondônia

O Estado de Rondônia, considerado o mais próspero da Amazônia Ocidental Brasileira possui quatro décadas desde sua criação. Entre 11 e 13 de outubro de 1940, quando visitou Porto Velho, o então presidente da República Getúlio Dornelles Vargas passeou pela Avenida 7 de Setembro, onde disse: “Isto aqui já é um Território”.

“Rondônia é a Canaã brasileira”, dizia um grupo evangélico em 1976. “É pra lá que eu vou ir“, proclamava um migrante gaúcho entusiasmado com a nova terra, em 1977.

Contudo, sob forte pressão de fatores que hoje se caracterizariam como socioambientais – a exemplo das glebas Rio Pardo, Floresta Jacundá, Flona Bom Futuro, e demais áreas com ocupações –, o ex-governador Ângelo Angelim iniciava um movimento visando a desestimular a corrente migratória.

Matérias em jornais e revistas mostrariam em 1985 que o alardeado Eldorado estava minado por malária, falta de crédito, de estradas e desassistência. Em vão, porque os migrantes continuaram chegando. 

1979: colonos sobre o caminhão, em Colorado do Oeste. Foto: Reprodução/Governo de Rondônia

Transformação 

Olhando o passado, o governador Marcos Rocha justifica seu contentamento com o êxito do projeto “Tchau Poeira”, asfaltando, recuperando e sinalizando vias públicas urbanas de Cerejeiras a Porto Velho.

Em 1979, quando desembarcou na Capital, o ex-governador Jorge Teixeira de Oliveira, Teixeirão, repetia várias vezes: “Vim com a missão de transformar Rondônia em Estado”.

Na verdade, ele quis dizer: elevar.

Foi notável o destemor e a boa vontade de agricultores paranaenses e capixabas dispostos a fincar suas raízes nos cantões do velho território federal, lembra o historiador Célio Leandro da Silva. “Somos destemidos pioneiros”, versos do hino Céus de Rondônia que poderiam muito bem sintetizar a saga de seu povo ao longo de todo o processo histórico de ocupação e colonização”, diz.

“Pioneiros históricos como Cândido Rondon, que tinha na sola dos pés as marcas de cada palmo deste rincão; Aluízio Ferreira, pioneiro na proteção e desbravamento em tempos em que o mundo vivenciava seus piores momentos bélicos; Jorge Teixeira, o grande construtor de Rondônia, veio criar um Estado e assim o fez”, assinala.

O professor louva os anônimos: “São tantos os Raimundos, construtores de dormentes, de calçadas, de estradas, tão destemidos quanto Marias rendeiras, feirantes, seringueiras; os Shockness, os Johnson, educadores, maquinistas e recepcionistas, gente que ao longo de nossa história constituiu, constituíram o pujante Estado”.

Na preservação dessa memória, Célio Leandro explica que não significa atrelá-la ao passado e impedir o seu desenvolvimento, “mas sim, conservar seus pilares constituintes a fim de não perder conhecimentos e identidades”.

Para o historiador da Universidade Federal de Rondônia (Unir), Marco Domingues Teixeira, o único estado brasileiro com nome de um grande personagem da história resultou de uma série de políticas, consideradas e desenvolvidas pelo regime militar. “A colonização agrária do eixo da BR-364, sua posterior pavimentação; o aumento expressivo da população residente e a criação e posterior consolidação de um projeto agroindustrial ainda comandam a economia do Estado”, enfatiza.

“Tudo isso está hoje pautado na grande lavoura de soja para exportação, criação de gado para a exportação e atividades paralelas a essas principais: indústria madeireira, garimpos e minerações, e prestação de serviços comerciais diversos”, descreve Marco Teixeira. 

Reportagem na revista Veja mostra sonho e cotidiano de migrantes e de indígenas no interior de Rondônia. Foto: Reprodução/Governo de Rondônia

Quando se conhece quem veio para cá, conclui-se: Rondônia é superlativa, pois abrigou brasileiros e estrangeiros, a exemplo dos pomeranos que saíram do mar Báltico, passaram por cidades do estado do Espírito Santo e mais tarde migraram para Espigão do Oeste.

O mar Báltico situa-se no norte da Europa e é circundado pela península Escandinava, Europa continental e as ilhas dinamarquesas.

Mas esse destemor implicou barreiras, uma delas, imposta pelo próprio Teixeirão ao instalar em Vilhena o Centro de Triagem de Migrantes (Cetremi). Ali, no portão de entrada da nova fronteira agrícola brasileira, a 704 quilômetros de Porto Velho, o governo vacinava todos contra a febre amarela.

Em 31 de janeiro de 1983 instalava-se a Assembleia Constituinte de Rondônia, que redigiu a 1ª Carta do novo Estado promulgada em agosto daquele ano. Em 1987 espocava o litígio de terras com o Acre, na Ponta do Abunã, que possui terras férteis e valiosas pedras de brita. O Acre queria essa parte.

O então governador de Rondônia, Jerônimo Santana, ameaçou acionar tropas da Polícia Militar para desalojar 70 soldados de acreanos instalados na área. No início do ano seguinte, tropas do Exército chegaram à região, a fim de convencer o governo do estado vizinho a acatar um parecer do IBGE que deu ganho de causa a Rondônia. Os desentendimentos continuariam até 1990. 

Centro de Cacoal era empoeirado em 1978; cidade recebia levas de migrantes, especialmente do Paraná. Foto: Reprodução/Governo de Rondônia

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